terça-feira, 26 de agosto de 2014

Erico Veríssimo e seu berço Literário. Cruz Alta 193 anos de existência.


PAGU- A primeira presa política do Brasil

Pagu.


Escritora do romance Parque Industrial, Pagu foi uma notória militante comunista


Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, foi uma das mais polêmicas figuras femininas da história brasileira no século XX. Nascida no seio de uma família burguesa, em 1910, Pagu afastou-se de sua classe social, passando a militar junto ao Partido Comunista Brasileiro, o que lhe rendeu mais de 20 prisões.

Sua história foi permeada de ações que afrontaram a sociedade da época. Desde as vestimentas ousadas utilizadas até o hábito de fumar e dizer palavrões, Pagu distinguia-se das demais mulheres da sociedade brasileira.

Começou a escrever ainda na adolescência, aos 15 anos colaborava com o Brás Jornal sob o pseudônimo de Patsy. Aos 20 anos, aproximou-se do círculo de intelectuais burgueses paulistanos adeptos do movimento antropofágico. Sua proximidade maior foi com o casal Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Entretanto, dois anos depois, Pagu chocou a sociedade ao casar-se com Oswald de Andrade.

Os dois passaram a militar no Partido Comunista em 1930, ano em que ela incendiou o bairro do Cambuci, em São Paulo, ao protestar contra o Governo Provisório. Participou ativamente de uma greve de estivadores na cidade de Santos, onde foi presa pela polícia de Vargas, tornando-se a primeira presa política da história do Brasil.

Pagu foi libertada em 1933, quando publicou, sob o pseudônimo de Mara Lobo, o romance Parque Industrial, que foi considerado o primeiro romance proletário da literatura brasileira. Ela partiu logo após em viagem para a Europa e outros locais do mundo como repórter. Na França, passou a frequentar alguns cursos na Sorbonne e, em 1935, filiou-se ao Partido Comunista Francês. Foi pega pela polícia francesa com documentos falsos, o que lhe garantiu mais uma prisão. Foi liberada após intervenção do embaixador brasileiro Souza Dantas junto ao governo francês.

Pagu entrevistou Sigmund Freud e participou da coroação do último imperador chinês Pu-Yi, de quem obteve as primeiras sementes de soja que foram trazidas ao Brasil. Ao voltar ao país, separou-se de Oswald de Andrade, com quem tinha um filho, Rudá de Andrade. Retomou a atividade jornalística, sendo presa novamente pelas forças repressivas do Estado Novo, ficando cinco anos na prisão.

Desligou-se do PCB em 1940, aproximando-se do trotskismo. Colaborou na revista Vanguarda Socialista, da qual fizeram parte Mário Pedrosa e o jornalista Geraldo Ferraz, que iria se tornar seu segundo marido e pai de seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz. Passou a viver em Santos, onde se dedicou também às artes cênicas.

Na década de 1950, com a abertura política, tentou candidatar-se à deputada estadual, mas não obteve sucesso. Em 1962, foi diagnosticada com um câncer, tentando vencê-lo com um tratamento em Paris, objetivo que não foi alcançado. Ainda antes de morrer, nesse mesmo ano, publicou um último poema, chamado Nothing, veiculado no jornal A Tribuna de Santos.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Neuschwanstein: O castelo de contos de fadas e seu passado nazista

Idealizado pelo rei Ludwig 2º como refúgio da vida pública, ele foi transformado pelos nazistas em esconderijo para arte roubada. Filme de Clooney enfoca o local, mas não é fiel aos fatos, criticam especialistas.



Estampado em cartões-postais, guias de viagem e até em produtos da Disney, o "castelo do rei de contos de fadas" atrai mais de 1 milhão de visitantes por ano. Seu idealizador, o rei Ludwig 2º da Baviera, foi declarado louco, antes de sua misteriosa morte por afogamento, em 1886. Semanas depois, Neuschwanstein abriu as portas ao público, e permanece até hoje uma das principais atrações turísticas na Alemanha.


Ludwig 2º da Baviera e sua então noiva, duquesa Sophie

A fortaleza de contos de fadas, porém, abriga um passado nazista que veio à luz recentemente com o filme Caçadores de obras-primas(Monuments men), dirigido por George Clooney. O drama da Segunda Guerra Mundial trata das tropas aliadas especiais encarregadas de proteger e localizar, durante o conflito, os tesouros roubados da Europa.

O excêntrico rei Ludwig 2º não concebeu o extravagante castelo de Neuschwanstein para fins de realeza, mas sim como refúgio à vida pública. Numa distorção perversa das intenções do monarca, foi exatamente isso que os nazistas fizeram com a arte roubada de suas vítimas, escondendo-a lá do olhar público.

Ordens de Hitler

"Revistem alojamentos, bibliotecas e arquivos dos territórios ocupados, à procura de material valioso para a Alemanha", ordenou Adolf Hitler à força-tarefa Rosenberg, a equipe especializada em saquear obras de arte, logo após as tropas alemãs invadirem a França, em 1940. Seu sonho era construir, com os tesouros roubados, um "Museu do Führer" em Linz, Áustria.

Entre 1940 e 1945, oficiais nazistas distribuíram as peças por diversos locais na Alemanha, incluindo mosteiros, minas de sal e castelos.


Hitler queria construir seu museu no local isolado e vizinho à Áustria

"Neuschwanstein foi escolhido como quartel-general da Einsatzstab Reichsleiter Rosenberg, a organização alemã para saques de obras de arte", revela a historiadora Tanja Bernsau. A localização no estado da Baviera, perto da fronteira com a Áustria e distante de Berlim ou de outros possíveis alvos, fazia do castelo um depósito ideal.

Embora tenha sido construído para parecer uma construção medieval, a joia arquitetônica ostentava as tecnologias mais avançadas de seu tempo: aquecimento central, descargas nos banheiros e um sistema elétrico de campainha para chamar os serviçais. A pedra angular foi lançada em 1868, mas o projeto não foi finalizado, deixando, assim, amplo espaço para armazenamento.


Cate Blanchett (na foto com Matt Damon) interpreta Rose Valland em 'Caçadores de obras-primas'

Espionagem artística

A maioria dos bens saqueados e armazenados em Neuschwanstein veio da França, e foi através de informações francesas que o Exército dos Estados Unidos chegou até o castelo.

Antes de sua morte em 2006, o "Homem dos Monumentos" e historiador de arte S. Lane Faison Jr. descreveu, para os Arquivos de Arte Americana, como foi a descoberta das obras. A peça-chave para o sucesso da operação foi a curadora francesa Rose Valland.

"Ela fingiu ser colaboradora [do regime nazista]", disse Faison. Valland trabalhava no Museu Jeu de Paume, um dos pontos centrais de coleta dos nazistas, antes do transporte dos saques para a Alemanha. Durante quatro anos, ela registrou secretamente para onde as obras eram enviadas.


"Adoração do Cordeiro Místico", dos irmãos Van Eyck, fez parte do saque nazista

Invasão do esconderijo

Os relatórios de Rose Valland levaram as Forças Aliadas até o castelo na Baviera. Lá chegando, em 1945, as tropas americanas descobriram uma vasta coleção de fichas de arquivo, listas e slides com detalhes sobre cerca de 21 mil itens. Entre as obras saqueadas estavam o Altar de Gante, dos irmãos flamengos Hubert e Jan van Eyck, a coleção privada de joias e mobília da família Rothschild, e as peças de ouro e prata da coleção David-Weill.

Uma exposição em cartaz nos Arquivos de Arte Americana da SmithsonianInstitution ressalta algumas dessas missões de resgate. Monuments Men: No front para salvar a arte da Europa, 1942-1946 mostra fotografias em preto e branco de soldados carregando caixas, tendo ao fundo o castelo de Neuschwanstein coberto de neve.

"Eles teriam preferido deixar as obras no castelo e organizar de lá a restituição à França", observa a historiadora de arte Tanja Bernsau. "Mas como a maioria das peças não estava armazenada em caixas e eram trabalhos valiosos em ouro e prata, por motivos de segurança eles decidiram realocar o material."


Soldados americanos resgatam obras roubadas em 1945

Resgate e restituição

Assim, as caixas foram transferidas para os pontos centrais de coleta de arte, dirigidos pelos EUA, com a incumbência de restituição ou a localização dos proprietários originais.

"E foi aí que começou a tarefa gigante", conta Iris Lauterbach, do Instituto Central para a História da Arte, em Munique. "As peças tinham de ser inventariadas, fotografadas e restituídas uma a uma. Historiadores e secretários americanos e alemães trabalharam juntos para restituir dezenas de milhares de peças."

Ao voltar à Alemanha em 1951, para supervisionar a entrega das operações dos EUA aos alemães, o historiógrafo S. Lane Faison ficou impressionado com a enormidade da missão.

"Um dos problemas mais tristes é que havia 'quilômetros' de móveis empilhados até o teto: cadeiras, mesas, objetos domésticos, tudo o que se possa imaginar, vindo de fontes judaicas", relatou Faison. "Mas o que fazer? E se alguém tivesse perdido seis cadeiras Louis 15, quais eram elas? Estariam conosco? Não havia como... não há meio de identificar esse tipo de coisa."


Filme de Clooney mistura elementos da história com ficção

A batalha continua

A identificação e restituição das obras continuam na Alemanha até hoje. Descobertas recentes de arte possivelmente roubada, como a relacionada ao colecionador Cornelius Gurlitt, continuam a ser manchetes de jornal. O filme Caçadores de obras-primas, recém-exibido no festival Berlinale, também lança luz sobre o trabalho dos responsáveis em preservar a arte durante a guerra, embora não agrade a todos.

"Eu não gostei do filme", opina Iris Lauterbach, do Instituto de História da Arte de Munique. Ela aprecia que o filme coloque o tema em debate, mas questiona se um leigo consegue processar os meandros do teatro de guerra europeu, os locais, as obras de arte que estavam em jogo. "O filme finge ser baseado numa história real, mas contém elementos fictícios demais."


Papel de Neuschwanstein na guerra não é mencionado em visitas guiadas

Quem procura detalhes da história, tampouco vai aprender mais visitando Neuschwanstein. A visita guiada pelo castelo inclui o luxuoso quarto de dormir do rei Ludwig 2º, a caverna artificial de estalactites e a cozinha, bem moderna para sua época. Porém não há nenhuma menção ao papel do local durante o nazismo.

"Não estamos tentando esconder esse fato", defende o porta-voz do castelo, Thomas Rainer. A administração quer se confrontar com o papel do local nesse sombrio capítulo da história alemã. O diretor do departamento de Palácios e Museus da Baviera escreveu recentemente um artigo sobre locais de resgate da arte durante a Segunda Guerra, ressalta Rainer. "Mas nós temos mais de 1 milhão de visitantes por ano e visitas guiadas que só duram 30 minutos. Nós focamos o que é possível, nesse tempo."

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Israel x Palestinos- Sionismo e anti-semitismo

Conflito histórico entre israelenses e palestinos (a partir do século 19)

Por motivos históricos, religiosos, políticos e materiais, israelenses e palestinos disputam continuamente pela soberania da Palestina, região do Oriente Médio. O conflito, que se insere no contexto maior das disputas entre árabes e israelenses, remonta ao século 19, quando o movimento sionista e o nacionalismo árabe começaram a ganhar forma. Reivindicada por ambos os grupos, a Palestina é o cenário de muitas narrativas bíblicas, sendo apontada como o local onde teria florescido a antiga monarquia hebraica, posteriormente desmembrada nos reinos de Israel e Judá. É também o berço de muitas outras civilizações semíticas, muitas das quais coexistiram com os povoados hebreus ou os que precederam.
Em 1897, em grande parte devido à intensificação do antissemitismo europeu, foi fundado o movimento sionista. Esse movimento pregava um retorno dos judeus à Palestina, além do estabelecimento de um estado nacional judeu na região. Organizações sionistas internacionais logo começaram a patrocinar a migração de judeus para a Palestina. A aquisição de terras por parte de imigrantes judeus foi vista com hostilidade por líderes árabes da região, que também passaram a lutar pela criação de um estado árabe. Entre 1920 e 1948, após a derrota do Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial, o território da Palestina esteve sob controle do Reino Unido, que já havia declarado sua intenção de favorecer a criação de um estado judaico na região por meio da “Declaração de Balfour” de 1917.
Em 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou um plano de partilha da Palestina, criando um estado judeu e um estado palestino. O acordo não foi aceito por palestinos e lideranças árabes, que iniciaram uma campanha militar contra o recém-fundado estado de Israel. A guerra árabe-israelense de 1948 culminou com a derrota dos exércitos da Síria, do Jordão, do Iraque e do Egito e com a expansão das fronteiras israelenses para além do que fora estipulado pela ONU. Em 1967, na Guerra dos seis dias, judeus e árabes entraram novamente em confronto, tendo Israel conquistado o território do deserto do Sinai, a faixa de Gaza, a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e as colinas de Golã. Quase todo o território palestino passou para as mãos de israelenses. Em 1982, os israelenses se retiraram da faixa de Gaza após assinar um acordo com o governo egípcio.
Entre 1987 e 1993, palestinos se sublevaram contra o estado de Israel em uma série de protestos violentos caracterizados pelo uso de armas simples, como pedras e paus, episódio que ficou conhecido como Intifada. Em 1993, em Oslo, Israel se comprometeu a devolver os territórios ocupados durante a guerra dos seis dias em troca de acordos de paz definitivos com as lideranças árabes, representadas pela Organização para Libertação da Palestina (OLP). Em 1998, foi assinado o acordo de Wye Plantation, por meio do qual os israelense entregaram aos palestinos várias áreas ocupadas.
Em julho de 2000, em Camp David (EUA), o líder palestino Yasser Arafat e o premiê israelense Ehud Bara se reuniram para fazer um acordo visando resolver questões mais delicadas, mas não obtiveram sucesso. No mesmo ano, teve início uma nova rebelião popular palestina contra Israel, a chamada “segunda intifada”. A partir de 2002, intensificaram-se os atentados terroristas e ataques suicidas organizados por grupos extremistas contra Israel. Como consequência, os israelenses invadiram áreas palestinas autônomas e cercaram a sede de Arafat em Muqata, onde o líder palestino permaneceu até sua morte, em 2004. Em 2005, Israel, por iniciativa do premiê Ariel Sharon, coordenou um amplo plano de retirada de assentamentos judaicos da região de Gaza.
Recentemente, a região assistiu a uma leva de atentados terroristas promovidos pela organização extremista palestina Hamas e à escalada da violência por parte das autoridades israelenses. O premiê Benjamin Netanyahu e o líder palestino Mahmoud Abas, ligado à Fatah, organização palestina moderada, continuam dialogando pela resolução de questões polêmicas.
Fonte  Relacionadas 
O Estado.