domingo, 31 de julho de 2011

1808- Abertura dos portos ás Nações Amigas- Documento.

"Conde da Ponte, do meu Conselho, Governador e Capitão-General da Capitania da Bahia, Amigo.
Eu, o Príncipe-Regente, vos envio muito saudar, como àquele que amo. Atendendo à representação que fizestes subir à minha Real presença, sobre se achar interrompido e suspenso o comércio desta Capitania, com grave prejuízo de meus vassalos e da minha Real Fazenda, em razão das críticas e públicas circunstâncias da Europa; e querendo dar sobre este importante objeto alguma providência pronta e capaz de melhorar o progresso de tais danos: sou servido ordenar interina e provisoriamente, enquanto não consolido um sistema geral, que efetivamente regule semelhantes matérias, o seguinte: Primo: Que sejam admissivéis nas Alfândegas do Brasil todos e quaisquer gêneros, fazendas e mercadorias, transportadas ou em navios estrangeiros das potências que se conservam em paz e harmonia com a minha Real Coroa, ou em navios dos meus vassalos, pagando por entrada 24 por cento; a saber, 20 de direitos grosso, e 4 do donativo já estabelecido, regulando-se a cobrança destes direitos pelas pautas ou aforamentos, por que até o presente se regulam cada uma das ditas Alfândegas, ficando os vinhos, águas ardentes e azeites doces, que se denominam molhados, pagando o dobro dos direitos que até agora nela se satisfaziam. Secundo: Que não só os meus vassalos, mas também os sobreditos estrangeiros, possam exportar para os portos que bem lhe parecer, a benefício do comércio e agricultura, que tanto desejo promover, todos e quaisquer gêneros e produções coloniais, à exceção do pau-brasil ou outros notoriamente estancados, pagando por saída os mesmos direitos já estabelecidos nas respectivas Capitanias, ficando entretanto como em suspenso e sem vigor todas as leis, cartas-régias ou outras ordens, que até aqui proibiam neste Estado do Brasil o recíproco comércio e navegação entre os meus vassalos e estrangeiros. O que tudo assim fareis executar com o zelo e atividade que de vós espero.
"Escrita na Bahia, aos 28 de janeiro de 1808.
Príncipe.".

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Memorial do Esporte de Cruz Alta. Projeto

Um agradecimento especial ao pessoal do Blog http://memorialdoesporte.blogspot.com    que segue contando a história do esporte nesta terra da Cruz Alta.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Deusas, Profanas ou só trabalhadoras forçadas.....?

De deusas à escória da humanidade
A prostituição já foi uma ocupação respeitada e associada a poderes sagrados. Mas, com o surgimento da sociedade patriarcal, a independência sexual e econômica das mulheres restringiu-se e as meretrizes passaram a ser mal-vistas

POR PATRÍCIA PEREIRA
NO SALON DA RUE DES MOULINS, DE TOULOUSSE-LAUTREC

Toulousse-Lautrec foi um dos pintores que melhor retratou as mulheres e os bordéis franceses do fi nal do século XIX. Na imagem, uma cena do salão da rue des Moulins, em Paris (1894)

Que a prostituição é popularmente conhecida como a profissão "mais antiga do mundo", todos sabem. E, desde que o mundo é dito civilizado, sempre houve prostitutas pobres e prostitutas de elite. O lado desconhecido dessa história é que a imagem a respeito delas nem sempre foi a que temos atualmente. As meretrizes já foram admiradas pela inteligência e cultura, e também já foram associadas a deusas - manter relações sexuais com elas era necessário para conseguir poder e respeito. As "mulheres da vida" sempre tiveram um lugar na História, mas, ao longo dos anos, seu status passou de respeitável à condenável.
Maria Regina Cândido, professora de graduação e de pós-graduação em História, e coordenadora do Núcleo de Estudos da Antiguidade (NEA), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), explica que a conotação de ser ou não bem-vista pela sociedade é um olhar de nosso tempo sobre as prostitutas. "Na antiguidade, elas tinham seu lugar social bem definido. Era uma sociedade que determinava a posição de cada um, que precisava cumprir bem o seu papel em seu espaço e não migrar de função", diz Maria Regina.
Lá atrás, no período da pré-história, a mulher era associada à Grande Deusa, criadora da força da vida, e estava no centro das atividades sociais, explica Nickie Roberts, no livro As Prostitutas na História. Com tal poder, ela controlava sua sexualidade. Nessas sociedades pré-históricas, cultura, religião e sexualidade estavam interligadas, tendo como fonte a Grande Deusa, conhecida inicialmente como Inanna e mais tarde como Ishtar. Os homens, ignorantes de seu papel na procriação, não eram obsessivos pela paternidade. Foi essa preocupação com a prole que, mais tarde, levou ao surgimento das sociedades patriarcais, com a submissão da mulher.
Por volta de 3.000 a.C., tribos nômades passaram a criar gado e tornaram-se conscientes do papel masculino na reprodução. As sociedades matriarcais da deusa começaram a ser subjugadas. As primeiras civilizações da era histórica desenvolveram-se na Mesopotâmia e no Egito, e nasceram desse levante. Novas formas de casamento foram introduzidas, especificamente destinadas a controlar a sexualidade das mulheres, afirma a escritora. "Foi nesse momento da história humana, em torno do segundo milênio a.C., que a instituição da prostituição sagrada tornouse visível e foi registrada pela primeira vez na escrita", explica Nickie.

REPRODUÇÃO-FOTO: E. J. BELLOCQ
Acima, a vaidade feminina é retratada pelo fotógrafo E.J. Bellocq, que possui uma série de fotografias das prostitutas de Nova Orleans (1918). Abaixo, cena explícita de sexo no Egito Antigo: o ato sexual e o prazer sempre foram documentados ao longo da História
AS PRIMEIRAS PROSTITUTAS DA HISTÓRIA
As grandes cidades da Mesopotâmia e do Egito continuaram centralizadas nos templos da Grande Deusa. As sacerdotisas dos templos, que participavam de rituais sexuais religiosos, ao mesmo tempo mulheres sagradas e meretrizes, foram as primeiras prostitutas da História, conta Nickie Roberts. O status dessas mulheres era elevado. Os reis precisavam buscar a benção da deusa, por meio do sexo ritual com as sacerdotisas, para legitimar seu poder. "Nessa época, as prostitutas do mais alto escalão do templo eram, por direito nato, agentes poderosas e prestigiadas; não eram as meras vítimas oprimidas dos homens, tão protegidas pelas feministas modernas", escreve Nickie Roberts.

"AS CORTESÃS, nós as temos para o prazer; AS CONCUBINAS, para os cuidados de todos os dias; AS ESPOSAS, para ter uma descendência legítima e uma fiel guardiã do lar."

DEMÓSTENES


Na Grécia antiga, as mulheres viviam em um confinamento físico e mental. Mas aquelas que se tornavam meretrizes desfrutavam de liberdade sexual e econômica. O diálogo a seguir, entre a viúva ateniense Crobil e sua filha, a virgem Corina, narrado pelo escritor clássico Luciano de Samósata (125 d.C. - 181 d.C.), mostra que a prostituição era vista como uma maneira de conquistar a independência:
CROBIL: Tudo o que você tem de fazer é sair com os rapazes, beber com eles e dormir com eles por dinheiro.
CORINA: Do jeito que faz Lira, filha de Dafne!
CROBIL: Exatamente!
CORINA: Mas ela é uma prostituta!
CROBIL: Bem, e isso é uma coisa assim tão terrível? Significa que você será rica como ela é, e terá muitos amantes. Por que você está chorando, Corina? Não vê quantos homens vão atrás das prostitutas, e mesmo assim há tantas delas? E como elas ficam ricas! Olhe, eu posso me lembrar de quando Dafne estava na penúria. Agora, olhe a sua classe! Ela tem montes de ouro, roupas maravilhosas e quatro criados.
ACERVO CIÊNCIA EVIDA
Vaso da Grécia Antiga mostra cortesã se despindo para um cliente durante um banquete
Foi nesse período, quando os homens começaram a tomar o poder, que também surgiu a hierarquia entre as mulheres do templo, com um escalão de prostitutas de classe alta, que mantiveram seus antigos poderes e privilégios. As harimtu, que trabalhavam fora dos templos, foram as primeiras prostitutas de rua. Ainda assim, a conexão entre sexo e religião persistia, pois as meretrizes da rua continuavam a ser vistas como sagradas, protegidas de Ishtar.
A divisão das mulheres em prostitutas e esposas vem desse início da história patriarcal. Foi na antiga Suméria, por volta de 2.000 a.C., que surgiram as primeiras leis segregando as duas. "Nessa época, já começava a ampliar a lacuna entre as 'boas'- dóceis e obedientes - esposas e as 'más' - sexualmente autônomas - prostitutas", diz Nickie.
A autora explica que a forma patriarcal de casamento, em que o marido literalmente é dono da esposa e dos filhos, aprofundou mais ainda o abismo entre a esposa e a prostituta, na medida em que as instituições religiosas e políticas masculinas foram crescendo. "Ao mesmo tempo, as leis que cercavam as prostitutas e o seu trabalho tornaram- se mais opressivas", conta Nickie. Segundo ela, durante toda a história da Mesopotâmia e do Egito, o sexo era ainda considerado sagrado e, apesar das leis, não havia uma moralidade puritana a estigmatizar as mulheres que se sustentavam vendendo sexo.

A Suméria criou a segregação feminina ao colocar em lados opostos a esposa obediente e a prostituta má
Julio Gralha, professor do NEA/UERJ, lembra que a visão sobre as prostitutas da época é pouco documentada de forma escrita, mas pode ser inferida pelas imagens das iconografias. "Pela análise da iconografia, a prostituta existia no Egito e atuava de forma remunerada. Há contos iconográficos, cômicos, em que a prostituta é vista como poderosa, o homem não agüenta. Como aparecem o colar e outros símbolos ligados à deusa, elas são vistas como protegidas. A prostituição não era algo repulsivo ou condenado pela religião", diz Gralha.

VENUS E O AMOR, LAMBERT SUSTRIS
O pintor Lambert Sustris retratou sua Vênus e o amor (1550). Na Roma Antiga, a deusa era símbolo de adoração e religiosidade, sendo considerada a protetora das prostitutas
UM NEGÓCIO ORGANIZADO NA GRÉCIA
Com o passar do tempo, a independência sexual e econômica da prostituta tornou-se uma ameaça à autoridade patriarcal. Por isso, a religião da deusa foi combatida pelos sacerdotes hebreus e, aos poucos, suprimida. Os rituais sexuais viraram pecados graves e as sacerdotisas, pecadoras. "As principais religiões patriarcais que se seguiram - o cristianismo e o islamismo - reconheceram o impacto devastador do estigma da prostituta na divisão e regulamentação das mulheres", explica Nickie Roberts.
A Grécia antiga foi uma típica sociedade patriarcal. As mulheres não podiam participar da vida política e social. No entanto, como aconteceu a todas as sociedades antigas, os primeiros habitantes da Grécia foram povos adoradores da deusa, afirma Nickie. Os deuses masculinos só vieram mais tarde, por volta de 2.000 a.C., com os invasores indo-europeus. As duas culturas fundiram-se e produziram o híbrido que chegou até nós. Basta lembrar que Zeus, divindade suprema indo-européia, casou-se com Hera, poderosa deusa sobrevivente do culto anterior.
A negação total do poder da mulher na sociedade grega é decorrente do governo de uma série de ditadores homens. Sólon, que governou Atenas na virada do século VI a. C., foi o principal deles, tendo institucionalizado os papéis das mulheres na sociedade grega. Passaram a existir as "boas mulheres", submissas, e as outras.

MADALENA PENITENTE, DE, FRANCESCO HAYEZ
Segurando duvidosamente um crucifixo, o quadro Madalena penitente, de Francesco Hayez (1825), mostra Maria Madalena fugindo da morte e culpada, por intermédio da religião
SÍMBOLO ÀS AVESSAS

Maria Madalena, famosa prostituta arrependida da Galiléia, representa que, para ser salva, a mulher precisa abandonar a profissão.
Conhecida como a ex-prostituta da Galiléia, Maria Madalena foi uma das mais fiéis seguidoras de Jesus Cristo. De acordo com a Bíblia, ela estava presente em sua crucificação e em seu funeral. Foi ela quem encontrou vazio o túmulo de Jesus, ouviu de um anjo que ele havia ressuscitado e foi dar a notícia aos apóstolos.
Prostituta com papel de destaque na história de Cristo - foi, inclusive, canonizada pela igreja católica -, Maria Madalena poderia ter se tornado um símbolo na luta pela aceitação da atividade. Mas o que ocorreu foi o contrário: como personificou o estereótipo de "prostituta arrependida", acabou por disseminar uma imagem negativa sobre a prostituição, ao reforçar a idéia de que é preciso abandonar a atividade para redimir-se dos pecados e ser perdoada por Deus.
Durante a Idade Média, as prostitutas atuantes eram excomungadas da igreja católica. Mas as que se arrependiam eram perdoadas e aceitas pela sociedade. Houve até um movimento de conversão, em que a igreja estimulou fiéis a "recuperar" prostitutas e casar-se com elas. Também surgiram comunidades monásticas de ex-prostitutas convertidas, que receberam o nome de "Lares de Madalena". Elas proliferaram pela Europa, tendo sido financiadas, em sua maioria, pelo clero. Além de Maria Madalena, a igreja enalteceu diversas outras prostitutas que salvaram suas almas pelo arrependimento, como Santa Pelágia, Santa Maria Egipcíaca, Santa Afra e outras.
O curioso é que nenhuma passagem na Bíblia afirma que Maria Madalena foi prostituta. Os textos sagrados a mencionam como pecadora, de quem Jesus expulsou sete demônios, mas não especificam qual seria seu passado. Provavelmente, o que a levou a ser vista como prostituta foi a identifi- cação com um relato de Lucas (7:36-50) sobre uma pecadora anônima, descrita de forma a sugerir ser uma prostituta, que em certa passagem unge os pés de Cristo. O relato de Lucas, a respeito de tal mulher arrependida, antecede a citação nominal de Maria Madalena. No Ocidente cristão, a versão de que Maria Madalena seria essa mulher foi a mais difundida. No Oriente, a mulher anônima e Maria Madalena são vistas como pessoas diferentes.


Foi também Sólon quem, percebendo os lucros obtidos pelas prostitutas - tanto as comerciais quanto as sagradas -, organizou o negócio, criando bordéis oficiais, administrados pelo Estado. Neles, havia grande exploração das mulheres, que eram praticamente escravas. Junto com os bordéis oficiais, muitas meretrizes independentes exerciam o seu comércio, apesar da legislação de Sólon. "Pela primeira vez na História, as mulheres estavam sendo cafetinadas - oficialmente. (...) Assim, de mãos dadas, nasceram a cafetinagem estatal e privada", afirma Nickie.
Maria Regina Cândido, historiadora da UERJ, lembra que foi a pressão sobre a terra, com o grande aumento da população grega, que levou Sólon a criar os primeiros bordéis. Isso porque ele trouxe para a região estrangeiros ceramistas, com o intuito de ensinar à população excedente uma nova atividade, já que a agricultura não absorvia mais a todos. "Para que os estrangeiros não molestassem as esposas e filhas de cidadãos gregos, ele criou um espaço de prostituição oficial na periferia da cidade, os bordéis", explica a coordenadora do NEA. Segundo Maria Regina, as prostitutas ficavam em frente ao cemitério, na região do cerâmico, onde estavam instaladas as oficinas dos ceramistas, e também na região do Porto do Pireu, onde eram chamadas de pornes, daí vem a palavra pornografia.
As prostitutas dos bordéis eram estrangeiras, trazidas para a Grécia exclusivamente para cumprir esse papel. Mas muitas mulheres gregas, depois de casamentos desfeitos por suspeita de traição ou outros desvios de comportamento, não viam outro caminho a não ser prostituir-se. Essas, estigmatizadas, juntavam-se às estrangeiras nos bordéis oficiais.

As prostitutas do templo de Afrodite deixaram de ser vistas como sacerdotisas e viraram escravas
Muitas prostitutas eram cultas e instruídas, e cumpriam o papel de entreter os líderes daquela sociedade. Cobravam alto preço por sua companhia e podiam ou não ceder aos desejos sexuais do cliente. São as hetairae, amantes e musas dos maiores poetas, artistas e estadistas gregos, explica Maria Regina. "As hetairae conduziam seus negócios abertamente em Atenas, trabalhando independentemente tanto dos bordéis do Estado quanto dos templos", diz Nickie.
A prostituição sagrada também sobreviveu, embora timidamente, durante o período da Grécia clássica. Havia templos em toda a Grécia, especialmente em Corinto - dedicado à deusa Afrodite. As prostitutas do templo não mais eram vistas como sacerdotisas, eram tecnicamente escravas. Mas, por serem consideradas criadas da deusa, mantinham a aura de sacralidade e eram homenageadas pelos clientes. "Demóstenes pagava caro por essas prostitutas. Ele ia de Atenas até Corinto só para ter relações sexuais com elas", diz Maria Regina.

PHRYNE ANTES DO AREÓPAGO, DE JEAN-LÉON GÉRÔME
Sob os olhos de dezenas de homens e escondendo o rosto, mulher grega é julgada, talvez por traição: motivo que estigmatizava esposas infiéis, que optavam viver como prostitutas. Tela de Jean-Léon Gérome (1861)
ACERVO CIÊNCIA E VIDA
O frei São Tomás de Aquino, por Fra Angélico: em sua vasta obra filosófica e moral do século XIII, ele defendeu a existência da prostituição, argumentado esse ser um "mal necessário"
LIVRES NO IMPÉRIO ROMANO
Roma foi diferente da Grécia. Até o início da República, a prostituição não era tão disseminada no território romano. "Roma ainda era muito provinciana, fechada", explica Ronald Wilson Marques Rosa, historiador e pesquisador do NEA/UERJ. A prostituição apenas se difundiu com a expansão militar do império romano e a conquista de escravos. Antes desta expansão, há indícios de que entre os primeiros romanos, que eram povos agrícolas, existia a antiga religião da deusa, diz Nickie Roberts. Ela também afirma que, em tempos posteriores, a prostituição religiosa estava ligada à adoração da deusa Vênus, que era considerada protetora das prostitutas.
Após a expansão militar e territorial, "os escravos eram os prostitutos, tanto homens quanto mulheres. E não havia estigmatização, não era algo mal-visto. Era normal o uso comercial do escravo para a prostituição. E, muitas vezes, eles usavam esse dinheiro para conseguir a liberdade", diz Ronald Rosa.
De acordo com Nickie, Roma foi uma sociedade sexualmente muito permissiva. "Eles escarneciam de qualquer noção de convenção moral ou sexual e desviavam-se de toda norma que houvesse sido inventada até então", afirma. A grande expansão urbana favoreceu o crescimento da prostituição. A vida era barata, e o sexo, mais barato ainda, diz a autora. Prostituição, adultério e incesto permearam a vida de muitos imperadores romanos.
"Falando de modo geral, a prostituição na antiga Roma era uma profissão natural, aceita, sem nenhuma vergonha associada a essas mulheres trabalhadoras", comenta Nickie. A vida permissiva levava mulheres a rejeitar o casamento, a ponto de o imperador Augusto estabelecer multas para as moças solteiras da aristocracia em idade casadoira. Muitas se registraram como prostitutas para escapar da obrigação. O sucessor de Augusto, Tibério, proibiu as mulheres da classe dominante de trabalhar como prostitutas.
Diferente da Grécia, os romanos não possuíam e nem operavam bordéis estatais, mas foram os primeiros a criar um sistema de registro estatal das prostitutas de classe baixa. Isso resultou na divisão das prostitutas em duas classes, explica Nickie: as meretrices, registradas, e as prostibulae (fonte da palavra prostituta), não registradas. A maior parte não se registrava, preferia correr o risco de ser pega pela fiscalização, que era escassa.

"Suprimir a prostituição e a luxúria caprichosa VAI ACABAR COM A SOCIEDADE. "

SANTO AGOSTINHO
Na imagem à esquerda, o pintor alemão Nicolaus Knupfer retrata soldados embriagados e rendidos aos prazeres mundanos como a bebida, a música e o sexo em um bordel

BORDEL, DE NICOLAUS KNÜPFER-REPRODUÇÃO
Grupo de prostitutas de elite, em Yokohama, no Japão do início do século XX: a sobriedade da imagem esconde a devassidão permitida entre quatro paredes
CONDENADAS NA IDADE MÉDIA
Com o declínio do Império Romano, começou a Idade Média. Os invasores, guerreiros bárbaros, organizam a vida não mais em grandes cidades e sim em aldeias agrícolas, que não favoreciam a prostituição como a vida urbana. "As artes civilizadas do amor, do prazer e do conhecimento - o erótico e os demais - desapareceram durante a Idade das Trevas. (...) a antiga tradição de uma sensualidade feminina orgulhosa e exaltadora desapareceu para sempre", afirma Nickie Roberts. A igreja cristã perpetua-se e reprimi a sexualidade feminina, ao censurar a prostituição.
Apesar de condenada, a prostituição foi tolerada pela igreja, que a considerou "uma espécie de dreno, existindo para eliminar o efluente sexual que impedia os homens de elevar-se ao patamar do seu Deus", explica Nickie. A igreja condenava todo relacionamento sexual, mas aceitava a existência da prostituição como um mal necessário. De acordo com Jacques Rossiaud, autor de A Prostituição na Idade Média, "pode-se afirmar, sem receio de erro, que não existia cidade de certa importância sem bordel".

O PROXENETA, DE VERMEER VAN DELFT / TRANSPORTE DE
Nas duas imagens, a mulher é tratada de maneira diferente ao olhar e ao julgamento masculino. À esquerda, a tela holandesa do século XVIII mostra mulheres sendo transportadas para fora da cidade. Ao lado, o pintor Vermeer mostra, no século XVII, uma mulher que satisfaz aos desejos de homens em troca de dinheiro
Havia bordéis públicos, pequenos bordéis privados e também casas de tolerância - os banhos públicos. Além disso, continuavam a existir as prostitutas que trabalhavam nas ruas. Em tese, o acesso aos prostíbulos públicos era proibido para homens casados e padres, mas eles encontravam meios de burlar a legislação. Rossiaud escreve que as prostitutas não eram marginais na cidade, mas desempenhavam uma função. Nem eram objeto de repulsão social, podendo, inclusive, ser aceitas na sociedade e casar-se depois que deixassem a vida de prostituta.
A liberdade sexual só era tolerada para os homens. As mulheres casadas e suas filhas, de boa família, deviam temer a desonra. Mas, de acordo com Rossiaud, essa liberdade masculina não sobreviveu à "crise do Renascimento". Houve uma progressiva rejeição da prostituição, que revelava nas comunidades urbanas a precariedade da condição feminina. "Lentamente, a mulher conquistou uma parte do espaço cívico, adquiriu uma identidade própria, tornou-se menos vulnerável", explica Rossiaud. E houve uma revalorização do casal.
Prostituição e violência aparecem pela primeira vez associadas, devido a brigas, disputas e assassinatos nos locais públicos. Autoridades municipais, apoiadas pela igreja, passaram a coibir a prostituição que, a partir de então, "aparecia como um flagelo social gerador de problemas e de punições divinas", afirma Rossiaud. Um após outro, os bordéis públicos foram desaparecendo. "A prostituição não desapareceu com eles, mas tornou-se mais cara, mais perigosa, urdida de relações vergonhosas", diz Rossiaud. Para o autor, foi o "duplo espelho deformante do absolutismo monárquico e da Contra-Reforma" que fizeram parecer "decadência escandalosa o que era apenas uma dimensão fundamental da sociedade medieval."

"A PROSTITUIÇÃO NAS CIDADES É COMO A FOSSA NO PALÁCIO: tire a fossa e o palácio vai se tornar um lugar sujo e malcheiroso."

SÃO TOMÁS DE AQUINO


FOTO: E.J. BELLOQ
Prostituta de Nova Orleans é fotografada, no início do século XX, pelo fotógrafo E.J. Belloq

UMA PATOLOGIA PARA A MODERNIDADE
Na modernidade, segundo Margareth Rago, professora titular do departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autora de Os Prazeres da Noite, a prostituição ganhou feições diferenciadas. Isso porque as mulheres conquistam maior visibilidade e atuação na sociedade. Surgiram novas formas de sociabilidade e de relações de gênero, com a criação de fábricas, escolas e locais de lazer e consumo. "Foram outros modos de vida, nos quais a mulher vai ter maior participação", diz Margareth.

Apesar da modernização dos costumes, a sociedade ainda é conservadora em relação às prostitutas.
Nesse contexto, nasceu o feminismo e a mulher reivindicou o direito de trabalhar e de estudar. O discurso sobre a prostituição ficou forte nesse período e virou debate médico e jurista. "Há um uso, não consciente, da prostituição para dizer que mulher direita não fuma, não sai de casa sozinha, não assobia na rua, não goza. O médico vai dizer que a mulher não tem muito prazer sexual, ela tem desejo de ser mãe. Já o homem tem e, por isso, precisa da prostituta", afirma Margareth.
De acordo com Margareth, é nessa época que as prostitutas passam a ser condenadas como anormais, patológicas, sem-vergonhas; uma sub-raça incapaz de cidadania. E a justificativa vai vir de teorias médico-científicas. "O que acontece é que a medicina do século XVIII usa os argumentos misógenos de Santo Agostinho e de São Paulo, e fundamenta cientificamente o preconceito contra a prostituta", explica Margareth. "Diz que a prostituta é um esgoto seminal, uma mulher que não evoluiu suficientemente. São pessoas que têm o cérebro um pouco diferente, o quadril mais largo, os dedos mais curtos. Criam toda uma tipologia", diz Margareth.
Para a autora de Os Prazeres da Noite, podemos diferenciar a imagem que se construiu da prostituta na modernidade para a visão que temos dela hoje em dia: "Nos últimos 40 anos, mudou muito. O sexo está deixando de ser patológico, de estigmatizar o que pode e o que não pode. Não sei se acontecem mais coisas na cama de casados ou de uma prostituta. A revolução sexual transformou os costumes. Mas a sociedade ainda é conservadora e há forte preconceito contra essas mulheres", diz Margareth.

REFERÊNCIAS
ROSSIAUD, Jacques. A Prostituição na Idade Média. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. 224 pág.
RAGO, Margareth. Os Prazeres da Noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo (1890-1930). São Paulo: Paz e Terra, 2008. 360 pág.

Site: Comciencia.com

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Com muito orgulho vos apresento....

Para uma musicista frustrada eu me orgulho de postar essa informação, e é nessas horas que quero vender cachorro quente, ainda mais sabendo que tenho algo em comum com ele, a HIstória é claro, hehehehehehe.
O frontman e vocalista do IRON MAIDEN, BRUCE DICKINSON, recebeu um doutorado honorário em música pela Queen  Mary University de Londres, no dia 19 de julho. Ele foi apresentado pelo Professor David Baker, do centro de Neurociência e Trauma. A honraria foi cedida em virtude da grande contribuição de Dickinson para a indústria musical.
A Queen  Mary é uma das maiores universidades do Reino Unido, se destacando em pesquisas e oferecendo uma ampla gama de cursos nas áreas de humanas e sociais, medicina, odontologia, ciências e engenharia, com mais de 14.000 estudantes de graduação, 2.000 estudantes de pós-graduação e 3.000 funcionários.
Dickinson se formou em história pela mesma universidade em 1979. Seus pais queriam que ele fosse para o exército, mas ele disse que preferia se formar antes. "Isso era o que eles queriam ouvir, e foi a minha desculpa," ele mais tarde confessou. "Quando eu cheguei lá eu comecei imediatamente a procurar e tocar em bandas."
O multi-talentoso Dr. Dickinson é não apenas vocalista e compositor, autor de livros, autor de roteiros para cinema, apresentador de TV, mas também campeão de esgrima, empresário e piloto comercial.
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ImagemFonte:whiplash.net

sexta-feira, 15 de julho de 2011

República recém proclamada, e agora quem se mata?

"A Quem matam chamam bandido
A Quem morre chamam herói"
- A. Silva Rillo


                                                                                    "Política é quase tão excitante quanto a guerra,
e   quase tão perigosa.
Na guerra, você só pode ser morto uma vez,
mas, em política, muitas vezes."
( Sir Winston Churchill )

·         Muito sangue foi derramado para que a República pudesse se sustentar nos anos que se seguiram à sua Proclamação. No Rio Grande do Sul houve até degolas. O fato é que havia muitos interesses em jogo durante os governos militares de Deodoro da Fonseca (1827-1892) e Floriano Peixoto (1839-1895). Os dois presidentes precisaram conciliar os negócios da economia cafeeira com a manutenção da unidade nacional. Mas claro não o fariam sem resistência.

Um dos movimentos que mais contestaram a soberania dos republicanos foi a Revolução Federalista, uma série de conflitos armados que ocorreram nos três estados do Sul do Brasil entre 1893 e 1895. O fundador do Partido Federalista do Rio Grande do Sul, Gaspar Silveira Martins (1834-1901), defendia uma reforma da Constituição e a adoção do parlamentarismo. Seus correligionários foram enfrentados por Julio de Castilhos (1860-1903), que governava o Rio Grande do Sul.

A luta aberta irrompeu quando o ex-fazendeiro Gumercindo Saraiva (1852-1894), que tinha se refugiado no Uruguai, cruzou a fronteira com cerca de quatrocentos federalistas, chamados também de “maragatos” – termo que remete a uma região da Espanha, La Maragataria, povoada por berberes da região egípcia do Maragath, e aos oriundos do departamento uruguaio de San José. Os maragatos no Uruguai eram majoritariamente blancos, representantes de uma classe de pequenos produtores rurais. No Brasil, eles se alinhavam aos partidários de Gaspar Silveira Martins, contra os projetos centralizadores locais, liderados por Julio de Castilhos, e nacionais, liderados por Floriano Peixoto.

Para organizar suas tropas, os maragatos tiveram que usar fitas vermelhas (as “divisas”) nos chapéus para que sua ascendência militar ficasse à mostra. Já as tropas federais governistas passaram a ser conhecidas como “pica-paus”, por conta do uniforme azul e do barrete vermelho. Após algumas escaramuças iniciais, o primeiro grande confronto entre as duas facções ocorreu na Campanha Ocidental, no início de maio de 1893, em Alegrete, nas proximidades do arroio Inhanduí. Para muitos, essa foi uma das maiores batalhas da história do Rio Grande do Sul.

Os bem armados republicanos, apesar da inferioridade numérica, conseguiram repelir os federalistas do campo de batalha com canhões e metralhadoras. A retirada das tropas revolucionárias, liderada pelo coronel Joça Tavares (1818-1906), foi um desastre: os governistas conseguiram alcançá-las, provocando grandes perdas entre os insurretos e obrigando-os a voltar ao Uruguai para reorganizar suas forças. A certeza da vitória final era tanta que os chefes legalistas haviam enviado um telegrama a Julio de Castilhos no qual afirmavam sumariamente: “Revolução estrangulada”.

No final de julho, Gumercindo uniu suas tropas às do general Salgado, num total de quase dois mil homens, e prosseguiu tomando pequenas cidades da Campanha até a primeira vitória, em Cerro do Ouro, no final de agosto. Pouco tempo depois, os federalistas receberam notícias que lhes deram um novo ânimo: na capital da República, a Armada, sob a liderança do almirante Custódio de Melo (1840-1902), havia se rebelado contra a ditadura de Floriano. O presidente, para defender sua permanência no poder, acabou agindo de forma centralizadora, contrariando certas elites regionais.

 Custódio achava que poderia intimidar Floriano com bombardeios na capital, como havia feito dois anos antes com Deodoro, mas não foi o que aconteceu. A esquadra rebelde sofria por causa de uma epidemia de beribéri[1], e começou a perder o ânimo para enfrentar os canhões das fortalezas fiéis ao governo. Custódio então resolveu, no início de dezembro, romper o cerco do canal da barra com o encouraçado Aquidabã. O objetivo era ligar sua tropa ao cruzador República na ilha de Santa Catarina, onde o capitão de mar e guerra Frederico Guilherme de Lorena havia proclamado um “Governo Nacional Provisório” desde outubro.

Mas o lado governista, a Divisão do Norte – comandada pelo senador gaúcho José Gomes Pinheiro Machado [2](1851-1915) –, diminuiu o entusiasmo dos federalistas, forçando-os a avançar para o norte do estado, onde se encontrariam com os revoltosos que estavam estacionados na ilha de Santa Catarina. Num primeiro momento, o deslocamento da revolta da Armada para o Sul e a sua ligação com a Revolução Federalista foram bem-sucedidos. Mas a união dos dois movimentos não se manteve: os pretensos aliados pouco tinham em comum.

Em outra frente de combate, no final de 1893, uma força governista foi dominada por Joca Tavares às margens do Rio Negro, nas proximidades de Bagé, onde ocorreu uma das maiores atrocidades de todo o período. Na noite de 24 de novembro, cerca de trezentos dos mil prisioneiros foram executados por degola. Mas essa chacina não passaria incólume. Alguns meses depois, um general castilhista, Firmino de Paula[3], se vingou exterminando um número quase igual de maragatos em Boi Preto, aliás, essa história os Cruzaltenses alimentam mais como lenda urbana do que como estratégias de guerra.

Logo em seguida, Tavares apostou todas as suas fichas na tomada de Bagé, que era sede de uma bem armada guarnição militar e dispunha de uma linha férrea que a ligava à cidade de Rio Grande. Mais ao norte, a coluna de Gumercindo conseguiu chegar a Blumenau, e a partir daí  seguiu até a cidade litorânea de Itajaí, onde pretendia se juntar aos revoltosos da Armada. O comandante prosseguiu sua marcha com um plano audacioso: tomar as praças de guerra Tijucas e Lapa, no sudeste do estado do Paraná, enquanto Custódio de Melo se encarregava de tomar o porto de Paranaguá. As localidades foram conquistadas em poucas semanas.

Da Lapa, os maragatos pegaram um trem para cuidar dos feridos em Curitiba. Diante dessa ofensiva, o governador do estado transferiu a capital para Castro, deixando Curitiba à mercê das forças federalistas, que exigiram “empréstimos de guerra” para não saquear a cidade. A missão de reunir o dinheiro ficou a cargo de Ildefonso Pereira Corrêa (1849-94), o barão do Cerro Azul – esse gesto seria usado como justificativa para a sua execução, meses mais tarde, na estrada de ferro Curitiba-Paranaguá, possivelmente por governistas.

Quando a vitória dos federalistas parecia inevitável, o presidente Floriano conseguiu organizar a contraofensiva, e obteve importantes vitórias sobre os revoltosos da Armada, pondo a pique o principal navio de guerra dos marujos rebelados, o Aquidabã, o que acelerou o fim do Governo Provisório. Isso abalou a confiança dos maragatos e os fez desistir de invadir São Paulo, onde o governo federal, com a colaboração do governador Bernardino de Campos (1841-1915), havia organizado um exército de quase seis mil homens em Itararé. Só restou aos insurretos recuar em suas posições no Paraná, marchando três colunas para oeste, pelo interior.

Os republicanos enviaram a Divisão do Norte para enfrentá-los em Passo Fundo, onde a coluna de Gumercindo lutou sua última e mais renhida batalha. Os maragatos provocaram grandes baixas nas forças legalistas, mas as cargas de lanceiros eram insuficientes diante de uma infantaria armada com fuzis Comblains e canhões Krupp.

Em agosto de 1894, Gumercindo estava passando em revista seu combalido exército quando foi alvejado por um franco-atirador oculto numa mata, vindo a falecer dois dias mais tarde[4]. Após sua morte, a Revolução Federalista se tornou um protesto errante, e os maragatos resolveram se refugiar na Argentina. A eleição de Prudente de Morais, em março do mesmo ano, colocou na Presidência um civil, o que foi de encontro aos anseios dos grupos radicais jacobinos, que lutavam por um governo militar e ditatorial.

A Revolução Federalista sofreu sua derrota final em junho de 1895, durante o combate de Campo Osório, no qual o almirante Luís Felipe Saldanha da Gama (1846-1895) e seus quatrocentos homens resistiram até o fim. A maioria – marujos montados a cavalo – morreu em combate, e os que sobreviveram fugiram para o Uruguai. O acordo de paz, ou seja, o armistício de Piratini, foi assinado perto de Pelotas, no dia 23 de agosto de 1895, entre o general Inocêncio Galvão de Queiroz, emissário do governo federal, e Joca Tavares, representante dos federalistas – cuja reivindicação principal se reduziu à revisão da Constituição estadual. A guerra civil terminou com uma debandada de dez mil federalistas para o Uruguai e dez mil mortos dos dois lados.

O fim da Revolução Federalista confirmou, no Rio Grande do Sul, o predomínio do Partido Republicano Rio-Grandense sobre a vida institucional. Julio de Castilhos governou até 1898, e a Carta Magna estadual foi o sustentáculo jurídico da perpetuação de um mesmo presidente do estado por quase três décadas: Antonio Borges de Medeiros (1863-1961).

Saiba Mais - Bibliografia

CHASTEEN, John Charles. Fronteira rebelde, a vida e a época dos últimos caudilhos gaúchos. Porto Alegre: Movimento, 2003.

DOURADO, Ângelo. Voluntários do martírio, narrativa da Revolução de 1893. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1992.

PESAVENTO, Sandra J. A Revolução Federalista. São Paulo: Brasiliense, 1983.

RUAS, Tabajara e BONES, Elmar. A cabeça de Gumercindo Saraiva. Rio de Janeiro: Record, 1997.

Filmografia
“O preço da paz”, de Paulo Morelli, 2003.


[1] Caracteriza-se pela dificuldade respiratória,  pacientes com edema, parestesia de membros inferiores e superiores, dificuldade de deambular e óbito por insuficiência cárdio-respiratória
[2] José Gomes Pinheiro Machado- ( Cruz Alta, 8 de maio de 1851- Rio de janeiro, 8 de setembro de 1915) influente brasileiro do século XX.
[3] Firmino de Paula e Silva- ( Cruz Alta, 17 de fevereiro de 1844- Cruz Alta, 7 de julkho de 1930.)
[4] Descoberta a sepultura do caudilho federalista Gumercindo Saraiva, no cemitério do capuchinhos de Santo Antônio, dois dias depois de sua morte, ocorrida no Caroví em 10 de agosto de 1894 (no estado do Rio Grande do Sul), Firmino de Paula ordenaram sua profanação. Os seus restos mortais, dizem que amarrados numa estaca ou numa cruz improvisada, foram então expostos no portal do cemitério enquanto que os cavalarianos tiveram ordens de desfilar em frente aos despojos já carcomidos do inimigo. Ali estava "o bandido do Gumercindo", a quem as forças governistas perseguiam sem descanso há dezessete meses.Fonte- (Crônica de Aparicio Saravia-2007)

Cardápio com 500 opções

A lista abaixo foi organizada pelo Rock And Roll Hall of Fame. Pode ser encontrada em http://www.rockhall.com. A lista está organizada por artistas.
AC/DC - Back In Black
AC/DC - Highway to Hell
Roy Acuff And The Smoky Mountain Boys - Wabash Cannonball
Aerosmith - Dream On
Aerosmith - Toys in the Attic
Afrika Bambaataa - Planet Rock
The Allman Brothers Band - Ramblin' Man
The Allman Brothers Band - Whipping Post
The Animals - The House Of The Rising Sun
The Animals - We Gotta Get Out Of This Place
Louis Armstrong - West End Blues
Arrested Development - Tennessee
The B-52's - Rock Lobster
LaVern Baker - Jim Dandy
Hank Ballard And The Midnighters - Work With Me Annie
The Band - The Night They Drove Old Dixie Down
The Band - The Weight
The Beach Boys - California Girls
The Beach Boys - Don't Worry Baby
The Beach Boys - God Only Knows
The Beach Boys - Good Vibrations
The Beach Boys - Surfin' U.S.A.
The Beastie Boys - (You Gotta) Fight for Your Right (to Party)
The Beatles - A Day in the Life
The Beatles - HELP!
The Beatles - Hey Jude
The Beatles - I Want to Hold Your Hand
The Beatles - Norwegian Wood
The Beatles - Strawberry Fields Forever
The Beatles - Yesterday
The Beau Brummels - Laugh Laugh
Beck - Loser
Jeff Beck Group - Plynth (Water Down The Drain)
The Bee Gees - Stayin' Alive
Archie Bell & The Drells - Tighten Up
Chuck Berry - Johnny B. Goode
Chuck Berry - Maybellene
Chuck Berry - Rock & Roll Music
The Big Bopper - Chantilly Lace
Big Brother & The Holding Company - Piece Of My Heart
Big Star - September Gurls
Black Sabbath - Iron Man
Black Sabbath - Paranoid
Bobby Blue Bland - Turn On Your Love Light
Blondie - Heart Of Glass
Kurtis Blow - The Breaks
Gary U.S. Bonds - Quarter To Three
Booker T. & The MG's - Green Onions
Boston - More Than A Feeling
David Bowie - Fame
David Bowie - Space Oddity
David Bowie - Ziggy Stardust
The Box Tops - The Letter
Charles Brown - Driftin' Blues
James Brown - I Got You (I Feel Good)
James Brown - Please Please Please
James Brown - Say It Loud - I'm Black and I'm Proud
Ruth Brown - Mama, He Treats Your Daughter Mean
Jackson Browne - Late For The Sky
Buffalo Springfield - For What It's Worth
Solomon Burke - Everybody Needs Somebody to Love
Johnny Burnette Trio - The Train Kept A-Rollin'
The Byrds - Eight Miles High
The Byrds - Hickory Wind
The Byrds - Mr. Tambourine Man
Johnny Cash - Folsom Prison Blues
Johnny Cash - I Walk the Line
The Champs - Tequila
Gene Chandler - Duke Of Earl
The Chantays - Pipeline
Ray Charles - Hallelujah I Love Her So
Ray Charles - I Got A Woman
Ray Charles - What'd I Say
Chubby Checker - The Twist
Chic - Le Freak
Charlie Christian with the Benny Goodman Orchestra - Solo Flight
Eric Clapton - After Midnight
Dave Clark Five - Glad All Over
The Clash - London Calling
Jimmy Cliff - Many Rivers to Cross
Jimmy Cliff - The Harder They Come
Patsy Cline - I Fall To Pieces
The Clovers - Love Potion No. 9
The Coasters - Yakety Yak
The Coasters - Young Blood
Eddie Cochran - C'mon Everybody
Eddie Cochran - Summertime Blues
Joe Cocker - With A Little Help From My Friends
The Contours - Do You Love Me
Sam Cooke - A Change Is Gonna Come
Sam Cooke - Bring It On Home to Me
Sam Cooke - You Send Me
Alice Cooper - I'm Eighteen
Elvis Costello - Pump It Up
The Count Five - Psychotic Reaction
Country Joe and The Fish - The Fish Cheer & I-Feel-Like-I'm- Fixin'-To-Die-Rag
Don Covey - Mercy Mercy
Cream - Crossroads
Cream - Sunshine of Your Love
Creedence Clearwater Revival - Fortunate Son
Creedence Clearwater Revival - Green River
Creedence Clearwater Revival - Proud Mary
Crosby, Stills & Nash - Suite: Judy Blue Eyes
Crosby, Stills, Nash & Young - Ohio
The Crows - Gee
The Crystals - Da Doo Ron Ron (When He Walked Me Home)
The Crystals - He's A Rebel
Culture Club - Time (Clock Of The Heart)
Dick Dale And The Del-Tones - Let's Go Trippin'
The Damned - New Rose
Danny & The Juniors - At The Hop
Bobby Darin - Splish Splash
Spencer Davis Group - Gimme Some Lovin'
De La Soul - Me Myself And I
Deep Purple - Smoke On The Water
The Dell-Vikings - Come Go With Me
The Dells - Oh, What A Night
The Delmore Brothers - Hillbilly Boogie
Derek and the Dominos - Layla
Devo - Whip It
Bo Diddley - Bo Diddley
Dion And The Belmonts - A Teenager In Love
Dire Straits - Sultans Of Swing
The Dixie Cups - Chapel Of Love
The Dixie Hummingbirds - I'll Live Again
Bill Doggett - Honky Tonk
Fats Domino - Ain't That a Shame
Fats Domino - Blueberry Hill
The Dominoes - Sixty Minute Man
Lonnie Donegan - Rock Island Line
Donovan - Sunshine Superman
The Doors - Light My Fire
The Doors - The End
Dr. Dre - Nuthin' But A "G" Thang
Dr. John - Right Place Wrong Time
The Drifters - Money Honey
The Drifters - There Goes My Baby
The Drifters - Up On The Roof
Duran Duran - Hungry Like The Wolf
Bob Dylan - Blowin' in the Wind
Bob Dylan - Like a Rolling Stone
Bob Dylan - Subterranean Homesick Blues
Bob Dylan - Tangled Up In Blue
Bob Dylan - The Times They Are A-Changin'
The Eagles - Hotel California
The Eagles - Take It Easy
Duane Eddy - Rebel- 'Rouser
Eurythmics - Sweet Dreams (Are Made Of This)
The Everly Brothers - All I Have to Do Is Dream
The Everly Brothers - Bye Bye Love
The 5 Satins - In The Still Of The Nite
The Flamingos - I Only Have Eyes For You
Fleetwood Mac - Go Your Own Way
The Flying Burrito Brothers - Sin City
The 4 Seasons - Big Girls Don't Cry
The 4 Seasons - Walk Like A Man
The Four Tops - Baby I Need Your Loving
The Four Tops - Reach Out I'll Be There
Aretha Franklin - Chain Of Fools
Aretha Franklin - I Never Loved A Man (the Way I Love You)
Aretha Franklin - Respect
Free - All Right Now
The Bobby Fuller Four - I Fought The Law
Lowell Fulson - Reconsider Baby
Funkadelic - One Nation Under a Groove
Peter Gabriel - Biko
Cecil Gant - We're Gonna Rock
Marvin Gaye - I Heard It Through The Grapevine
Marvin Gaye - Sexual Healing
Marvin Gaye - What's Going On
Gerry and The Pacemakers - How Do You Do It?
Gary Glitter - Rock 'N' Roll Part 2
Go-Go's - We Got The Beat
Golden Gate Quartet - Rock My Soul
Grand Funk Railroad - We're An American Band
Grandmaster Flash & The Furious Five - The Message
The Grateful Dead - Dark Star
The Grateful Dead - Uncle John's Band
Al Green - Let's Stay Together
Guitar Slim - The Things That I Used To Do
Guns N' Roses - Welcome To The Jungle
Woody Guthrie - Pastures Of Plenty
Woody Guthrie - Pretty Boy Floyd
Woody Guthrie - This Land Is Your Land
Bill Haley & His Comets - (We're Gonna) Rock Around The Clock
Slim Harpo - Rainin' In My Heart
Wynonie Harris - Good Rockin' Tonight
Wilbert Harrison - Kansas City
Dale Hawkins - Suzy-Q
Screamin' Jay Hawkins - I Put a Spell On You
Richard Hell & The Voidoids - (I Belong To The) Blank Generation
Jimi Hendrix - All Along The Watchtower
Jimi Hendrix - Purple Haze
Jimi Hendrix - Voodoo Child (Slight Return)
The Hollies - Bus Stop
Buddy Holly - Peggy Sue
Buddy Holly And The Crickets - That'll Be the Day
John Lee Hooker - Boogie Chillun
John Lee Hooker - Boom Boom
Howlin' Wolf - Smokestack Lightnin'
Howlin' Wolf - Spoonful
Howlin 'Wolf - The Red Rooster
Human League - Don't You Want Me?
Mississippi John Hurt - Stack O' Lee Blues
Husker Du - Turn On the News
The Impressions - People Get Ready
The Ink Spots - If I Didn't Care
Iron Butterfly - In-A-Gadda-Da-Vida
The Isley Brothers - It's Your Thing
The Isley Brothers - Shout - Pts. 1 & 2
Jackson 5 - ABC
Jackson 5 - I Want You Back
Mahalia Jackson - Move On Up A Little Higher
Michael Jackson - Beat It
Michael Jackson - Billie Jean
Elmore James - Dust My Broom
Elmore James - Shake Your Moneymaker
Etta James - Tell Mama
Rick James - Super Freak
Tommy James And The Shondells - Hanky Panky
Jan & Dean - Surf City
Jane's Addiction - Been Caught Stealin'
Jefferson Airplane - Somebody to Love
Jefferson Airplane - White Rabbit
Blind Lemon Jefferson - Matchbox Blues
Jethro Tull - Aqualung
Joan Jett & The Blackhearts - I Love Rock 'N Roll
Billy Joel - Just The Way You Are
Elton John - Bennie And The Jets
Elton John - Your Song
Little Willie John - Fever
Blind Willie Johnson - Motherless Children
Robert Johnson - Cross Road Blues
Robert Johnson - Hellhound On My Trail
Robert Johnson - Love in Vain
Robert Johnson - Sweet Home Chicago
Louis Jordan And His Tympany Five - Caldonia
Louis Jordan And His Tympany Five - Saturday Night Fish Fry
Joy Division - Love Will Tear Us Apart
Albert King - Born Under A Bad Sign
B.B. King - Sweet Little Angel
B.B. King - The Thrill Is Gone
Ben E. King - Spanish Harlem
Ben E. King - Stand By Me
Carole King - You've Got A Friend
Freddy King - Hide Away
The Kingsmen - Louie Louie
The Kinks - A Well Respected Man
The Kinks - Lola
The Kinks - You Really Got Me
Kiss - Rock And Roll All Nite
Buddy Knox - Party Doll
Kraftwerk - Autobahn
L.L. Cool J - Mama Said Knock You Out
Cyndi Lauper - Girls Just Want To Have Fun
Lead Belly - The Midnight Special
Led Zeppelin - Dazed And Confused
Led Zeppelin - Rock And Roll
Led Zeppelin - Stairway To Heaven
Led Zeppelin - Whole Lotta Love
The Left Banke - Walk Away Renee
John Lennon - Give Peace A Chance
John Lennon - Imagine
John Lennon - Instant Karma (We All Shine On)
Jerry Lee Lewis - Great Balls of Fire
Jerry Lee Lewis - Whole Lotta Shakin' Goin On
Little Eva - The Loco-Motion
Little Feat - Dixie Chicken
Little Walter - Juke
Professor Longhair - Tipitina
The Lovin' Spoonful - Do You Believe In Magic
Frankie Lymon and The Teenagers - I'm Not A Juvenile Delinquent
Frankie Lymon and The Teenagers - Why Do Fools Fall In Love
Lynyrd Skynyrd - Free Bird
Madonna - Like A Virgin
The Mamas And The Papas - California Dreamin'
The Marcels - Blue Moon
Bob Marley And The Wailers - Lively Up Yourself
Bob Marley And The Wailers - No Woman, No Cry
Martha And The Vandellas - Dancing In The Street
Martha And The Vandellas - (Love Is Like A) Heat Wave
Curtis Mayfield - Superfly
MC Hammer - U Can't Touch This
Paul McCartney - Maybe I'm Amazed
Barry McGuire - Eve of Destruction
Don McLean - American Pie
Blind Willie McTell - Statesboro Blues
John Cougar Mellencamp - Authority Song
Metallica - Enter Sandman
Midnight Oil - Beds Are Burning
Amos Milburn - Let's Have A Party
Steve Miller Band - Fly Like An Eagle
The Miracles - Going To A Go-Go
The Miracles - The Tracks Of My Tears
The Miracles - You've Really Got A Hold On Me
Joni Mitchell - Help Me
Moby Grape - Omaha
The Monkees - I'm A Believer
The Monkees - Last Train To Clarksville
The Monotones - Book Of Love
Bill Monroe - Mule Skinner Blues
The Moody Blues - Nights In White Satin
The Moonglows - Sincerely
Van Morrison - Brown Eyed Girl
Van Morrison - Madame George
Van Morrison - Moondance
The Mothers Of Invention - Brown Shoes Don't Make It
Mott The Hoople - All The Young Dudes
Ricky Nelson - Hello Mary Lou
Aaron Neville - Tell It Like It Is
New York Dolls - Personality Crisis
Randy Newman - Sail Away
Nirvana - Smells Like Teen Spirit
O'Jays - Love Train
Phil Ochs - I Ain't Marchin' Anymore
Roy Orbison - Oh, Pretty Woman
The Orioles - Crying In The Chapel
Johnny Otis - Willie And The Hand Jive
Parliament - Give Up The Funk (Tear The Roof Off The Sucker)
Les Paul and Mary Ford - How High The Moon
Pearl Jam - Jeremy
The Penguins - Earth Angel (Will You Be Mine)
Carl Perkins - Blue Suede Shoes
Carl Perkins - Matchbox
Pinetop Perkins - Pinetop's Boogie Woogie
Peter And Gordon - A World Without Love
Peter, Paul And Mary - If I Had A Hammer (The Hammer Song)
Tom Petty And The Heartbreakers - American Girl
Wilson Pickett - In The Midnight Hour
Pink Floyd - Another Brick In The Wall, Part 2
Pink Floyd - Money
Pink Floyd - See Emily Play
The Platters - The Great Pretender
The Police - Every Breath You Take
The Police - Roxanne
Elvis Presley - Heartbreak Hotel
Elvis Presley - Jailhouse Rock
Elvis Presley - Love Me Tender
Elvis Presley - Mystery Train
Elvis Presley - Suspicious Minds
Elvis Presley - That's All Right
The Pretenders - Brass In Pocket
Lloyd Price - Lawdy Miss Clawdy
Prince - Little Red Corvette
Prince - When Doves Cry
Procol Harum - A Whiter Shade Of Pale
Public Enemy - Fight the Power
Queen - Bohemian Rhapsody
Queen Latifah - Ladies First
Question Mark And The Mysterians - 96 Tears
Quicksilver Messenger Service - Who Do You Love
R.E.M. - Losing My Religion
R.E.M. - Radio Free Europe
Ma Rainey & Her Tub Jug Washboard Band - Prove It On Me
Bonnie Raitt - Something To Talk About
Ramones - Sheena Is A Punk Rocker
The Young Rascals - Groovin'
The Young Rascals - Good Lovin'
Red Hot Chili Peppers - Give It Away
Otis Redding - Shake
Otis Redding - (Sittin' On) The Dock Of The Bay
Otis Redding - Try A Little Tenderness
Jimmy Reed - Big Boss Man
Jimmy Reed - Bright Lights, Big City
Lou Reed - Walk On The Wild Side
The Replacements - I Will Dare
Paul Revere & The Raiders - Just Like Me
Cliff Richard And The Drifters - Move It
Little Richard - Good Golly, Miss Molly
Little Richard - Long Tall Sally
Little Richard - Tutti Frutti
The Righteous Brothers - You've Lost That Lovin' Feelin'
Billy Riley & His Little Green Men - Red Hot
Jimmie Rodgers - Blue Yodel No. 9
The Rolling Stones - Honky Tonk Women
The Rolling Stones - (I Can't Get No) Satisfaction
The Rolling Stones - Jumpin' Jack Flash
The Rolling Stones - Miss You
The Rolling Stones - Sympathy For The Devil
The Rolling Stones - Time Is On My Side
The Ronettes - Be My Baby
Roxy Music - Love Is The Drug
Run-D.M.C. - Walk This Way
Rush - The Spirit Of Radio
Otis Rush - I Can't Quit You Baby
Mitch Ryder Devil With A Blue Dress On & Good Golly Miss Molly
Sam & Dave - Soul Man
Sam The Sham And The Pharoahs - Wooly Bully
Santana - Black Magic Woman/Gypsy Queen
The Searchers - Needles and Pins
The Seeds - Pushin' Too Hard
Pete Seeger - Where Have All The Flowers Gone
Bob Seger & The Silver Bullet Band - Night Moves
Sex Pistols - Anarchy In The U.K.
Sex Pistols - God Save The Queen
The Shadows Of Knight - Gloria
The Shangri-Las - Leader Of The Pack
Del Shannon - Runaway
The Shirelles - Dedicated To The One I Love
The Shirelles - Will You Love Me Tomorrow
Simon And Garfunkel - Bridge Over Troubled Water
Simon And Garfunkel - The Sounds Of Silence
Paul Simon - Graceland
Sir Douglas Quintet - She's About A Mover
Sister Sledge - We Are Family
Percy Sledge - When A Man Loves A Woman
Sly & The Family Stone - Dance To The Music
Sly & The Family Stone - Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin)
Bessie Smith - Downhearted Blues
Huey 'Piano' Smith & His Clowns - Rockin' Pneumonia And The Boogie-Woogie Flu
Patti Smith - Gloria (in Excelsis Deo)
The Smiths - Heaven Knows I'm Miserable Now
Sonic Youth - Teenage Riot
The Soul Stirrers - By And By
Bruce Springsteen - Born To Run
Bruce Springsteen - Dancing In The Dark
Bruce Springsteen - Rosalita (Come Out Tonight)
The Standells - Dirty Water
The Staple Singers - Respect Yourself
Edwin Starr - War
Steely Dan - Reelin' In The Years
Steppenwolf - Born To Be Wild
Rod Stewart - Maggie May
Iggy And The Stooges - Search And Destroy
The Stooges - I Wanna Be Your Dog
Stray Cats - Rock This Town
Barrett Strong - Money (That's What I Want)
The Sugarhill Gang - Rapper's Delight
Donna Summer - Love To Love You Baby
The Supremes - Stop! In The Name Of Love
The Supremes - You Can't Hurry Love
The Surfaris - Wipe Out
Swinging Blue Jeans - Hippy Hippy Shake
T. Rex - Bang A Gong (Get It On)
Talking Heads - Life During Wartime
Talking Heads - Once In A Lifetime
James Taylor - Fire And Rain
Television - Little Johnny Jewel
The Temptations - Ain't Too Proud To Beg
The Temptations - My Girl
The Temptations - Papa Was A Rollin' Stone
Sister Rosetta Tharpe - This Train
Willie Mae 'Big Mama' Thornton - Ball 'N' Chain
Willie Mae 'Big Mama' Thornton - Hound Dog
Toots & The Maytals - Pressure Drop
Peter Tosh - Legalize It
Traffic - Dear Mr. Fantasy
The Trammps - Disco Inferno
The Troggs - Wild Thing
Big Joe Turner - Shake, Rattle And Roll
Ike & Tina Turner - River Deep, Mountain High
The Turtles - It Ain't Me Babe
U.T.F.O. - Roxanne, Roxanne
U2 - I Still Haven't Found What I'm Looking For
U2 - Pride (In The Name Of Love)
U2 - Sunday Bloody Sunday
Ritchie Valens - La Bamba
Van Halen - Jump
Van Halen - Runnin' With the Devil
Stevie Ray Vaughan - Pride And Joy
Velvet Underground - Heroin
Velvet Underground - White Light / White Heat
The Ventures - Walk Don't Run
Gene Vincent & His Blue Caps - Be-Bop-A-Lula
The Wailers - Get Up Stand Up
The Wailers - I Shot The Sheriff
Jr. Walker and the All Stars - Shotgun
T-Bone Walker - Call It Stormy Monday
War - Slippin' Into Darkness
Clara Ward & The Ward Singers - How I Got Over
Dinah Washington - Am I Asking Too Much
Muddy Waters - Got My Mojo Working
Muddy Waters - Hoochie Coochie Man
Muddy Waters - Mannish Boy
Muddy Waters - Rollin' Stone
The Weavers - Goodnight Irene
Mary Wells - My Guy
The Who - Baba O'Riley
The Who - Go To The Mirror Boy
The Who - My Generation
Big Joe Williams - Baby Please Don't Go
Larry Williams - Bony Maronie
Marion Williams - Packing Up
Sonny Boy (John Lee) Williamson - Good Morning (Little) School Girl
Chuck Willis - C.C. Rider
Bob Wills and His Texas Playboys - Take Me Back To Tulsa
Jackie Wilson - (Your Love Keeps Lifting Me) Higher and Higher
Stevie Wonder - Living for the City
Stevie Wonder - Master Blaster (Jammin')
Stevie Wonder - Superstition
Stevie Wonder - Uptight (Everything's Airight)
Link Wray - Rumble
X - Los Angeles
Jimmy Yancey - Midnight Stomp
The Yardbirds - Shapes Of Things
Yes - Roundabout
Neil Young - Down By the River
Neil Young - Heart Of Gold
Neil Young - My My Hey Hey (Out Of The Blue)
ZZ Top - Legs

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Ele já modificou o mUndo- Esse tal Rock'n'Roll

Olá 13 de Julho! Feliz Niver Manu.
Há várias faixas de várias bandas, com o título de rock'n'roll, seria injusto citar apenas uma e ao fazê-lo nego tantas outras boas, mas como hoje é 13 de julho pro meu amigo Manu.....zinho e todos os headbangers de plantão vou dedicar, hehehe alguns clipes muito legais, desse movimento antropologico que sem dúvida alguma modificou o mundo, gerações e gerações.
         O que antes era apenas visto como rebeldia hoje tornou-se um nicho de mercado que movimenta, milhões à indústria fonográfica e gera royalts de geração em geração, e com o advento da onda digital, outros tantos, vamos dizer formal e informalmente se beneficiam.
         O sul dos EUA não produziu só o country, aliás os uniu de certa forma. Em 1950 surge tímido mas pra modificar o mundo, mesmo que seja daqueles que queriam quebrar a barreira do silêncio, uma música negra com gingado, dançante, muito rítmo e letras simples em geral falando do cotidiano e do amor/dor, aliás oh binômio que dá certo heim!E ai ganha o mundo.
        Com instrumentos barulhentos  como a guitarra elétrica, o contrabaixo(baixo) elétrico e a bateria além de vocais com muita entonação e suingue  eclodiram, com seus diferentes jeitos Bill Haley, Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richard e outros não podemos deixar de lado a contribuição de quem movimentou o cenário undergound, mas não fez sucesso.
       Nos anos sessenta, com caminho iniciado, despontam nomes como , The Beatles, que despontaram em programas de auditório, mas, só depois de muitas  inserções nas rádios locais , essa década deu o que falar, aliás a safra foi muito boa, tanto que rendeu nomes que jamais serão esquecidos, e sempre ouvidos, é a capacida do produto humano ser imortal.
        The Rolling Stones, Jimi Hendrix, a discretíssima lady Janis Joplin, esses e outros se juntaram no final dos anos sessenta ao Festival de Woodstock, que tinha por objetivo chamar a atenção do mundo contra a guerra, este reuniu um pessoal muito engajado e animado em promover a PAZ, o AMOR e o ROCK AND ROLL, e proferir algumas palavras carinhosas ao EUA , ou melhor ao presidente, good morning Vietnã não era uma música muito bem quista, mas tava la, The Mamas & The Papas, Animals, The Who, Jefferson Airplane, Pink Floyd, The Beatles, Rolling Stones, The Doors.
        Os anos setenta tem uma safra considerável, e relativamente mais fácil, o videoclipe era a sensaçãoe ai surgem bandas como Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple,Queen , Yes com a ressalva de que eles já fazem parte de uma dos dois milhões e meio de vertentes do rock, hehehe, mas estou falando do Heavy Metal, som mais forte, melodicamente mais trabalhado, letras mais complexas, riffs mais demorados, solos mais trabalhados, enfim investimento sonoro ou aperfeiçoamento.  Pulando os anos oitenta e indo para os anos noventa, só vou destacar o Grounge outro movimento antropo-musical e ai bandas como  Soundgarden, Pearl Jam e Alice In Chains, Nirvana foi o começo pra muitos. Não esquecendo o PUNK rock, Rmones e outros. Lembrando que era só um comentário olha no que deu, bom volto com um post sobre o rock no Brasil e o Projeto Heavy Metal Brasil.

Abraços a Todos .
UP The Irons
Abraços Headbangers.

Ele já modificou o mUndo- Esse tal Rock'n'Roll

Livros sobre Rock (bibliografia indicada)
O Pequeno Livro do Rock
   Autor: Bourhis, Hervé
   Editora: Conrad
Almanaque do Rock
   Autor: Vinil, Kid
   Editora: Ediouro - RJ
Rock, Fé e Poesia - 20 Anos de Rosa de Saron Narrados Através de Suas Músicas
   Autor: Feltrin, Rogério
   Editora: Pontes
Breve História do Rock - Col. - Saber de Tudo
   Autor: Mugnini, Jr.ayrton
   Editora: Claridade
Que Rock É Esse ?
   Autor: Piccoli, Edgard
   Editora: Globo Editora
Solo de Rock - Técnicas Licks, Escalas e Conceitos de Solo para Guitarra - Com CD
   Autor: Nolan, Nick; Gill, Danny
   Editora: Irmãos Vitale
O Jazz do Rag ao Rock - Coleção Debates 109
   Autor: Berendt, Joachim Ernst
   Editora: Perspectiva
O Melhor do Rock Brasil
   Autor: Alves, Luciano; Essinger, Silvio
   Editora: Irmãos Vitale
Rock Underground - Uma Etnografia do Rock Alternativo
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   Editora: Radical Livros
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   Editora: Nitpress
Segredos e Lendas do Rock
   Autor: Couto, Sérgio Pereira
   Editora: Universo dos Livros
50 Anos de Musica Rock
   Autor: Paraire, Philippe
   Editora: Pergaminho Lisboa
A Mensagem Oculta do Rock
   Autor: Costa, Jefferson Magno
   Editora: CPAD
Brock o Rock Brasileiro dos Anos 80
   Autor: Dapieve, Arthur
   Editora: Editora 34

terça-feira, 12 de julho de 2011

Incidente em Antares

Defuntos engajados


Erico Verissimo tira os mortos do caixão para denunciar a hipocrisia e a corrupção

Maria da Glória Bordini



19/1/2011 Versão para impressão Envie essa matéria para um amigo Como denunciar a repressão política sem correr o risco de punição? Erico Verissimo encontrou uma solução perfeita para esse dilema em seu último romance, Incidente em Antares (1971). Criou um enredo em que sete cadáveres que não foram devidamente sepultados assombravam a cidade, mais vivos do que mortos, desmascarando a hipocrisia da classe dominante e o abuso de poder dos governantes. Só mesmo personagens como esses, protegidos da repressão por seu próprio e acelerado processo de decomposição, poderiam servir de porta-vozes para as críticas políticas do autor ao governo ditatorial e opressivo do Brasil nos anos 1970. Mesmo hoje, quase 40 anos após sua publicação, o romance continua, em certa medida, espelhando o contexto político do país, em que a maioria dos casos de corrupção é rapidamente varrida para debaixo do tapete e esquecida.



Erico Verissimo começou a escrever a obra, cujo título seria A hora do sétimo anjo, em 1969. Queria denunciar o “baile de máscaras” da vida burguesa numa grande cidade. Esboçava a trama do livro quando a fotografia de uma greve de coveiros em Nova York, publicada na revista Life, despertou sua atenção. A imagem o fascinou, mas ele achou que não cabia incorporar um evento como aquele à narrativa, já que o Brasil estava sob a ditadura militar e greves seriam inverossímeis.



O país passava por um período de exceção. O governo do general Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), iniciado em 1969, difundia slogans políticos como o célebre “Brasil, ame-o ou deixe-o”, investia no futebol e prometia um crescimento econômico que se provou ilusório. O povo pouco sabia das guerrilhas e dos movimentos de resistência, e o mundo literário estava amordaçado, impedido de propagar ideias “subversivas” que ameaçassem o regime e corrompessem os valores tradicionais, como a família, a religião católica e a propriedade. Tentativas de rebelião eram reprimidas à força e pessoas desapareciam na calada da noite. Os jornais nada podiam noticiar, para que a população não se sentisse num país inseguro.



No dia 8 de maio de 1970, enquanto caminhava com Mafalda, sua mulher, nas colinas de Petrópolis, em Porto Alegre, Verissimo retomou a ideia da greve de coveiros. Entre um passo e outro, foi esboçando a história e, com ela, o título, Incidente em Antares. Em casa, sentou-se à escrivaninha, aceitando ou recusando os personagens que sua imaginação apresentava. Dividiu o romance em duas partes. A primeira, composta de 79 capítulos, relaciona os primórdios da cidade fictícia de Antares, os acontecimentos que ali se desenrolam e o cenário político brasileiro desde a primeira metade do século XIX até os anos 1960. A segunda, com 102 capítulos, apresenta o incidente dos mortos, que, reanimados, viriam atormentar os vivos na sexta-feira, 13 de dezembro de 1963.



A história de Antares remonta ao período Pleistoceno, quando criaturas antediluvianas, como gliptodontes e megatérios, andavam nas margens do que seria o futuro Rio Uruguai. Não é gratuita sua posição geográfica, acima da cidade de São Borja, mais para os lados da rude e machista campanha do que para o Leste, mais civilizado. Inicialmente chamado de Povinho da Caveira, o povoado é chefiado por Chico Vacariano. O fictício naturalista francês Gaston Gontran d’Auberville visita o local em 1830, apresentando a constelação do Escorpião e a estrela Antares ao proprietário de terras Vacariano, que entende o significado do nome como “lugar onde existem muitas antas”. Encantado, assim batiza a vila em 1853. A ironia e o humor ácido se fazem presentes desde o início do romance.



Antares é uma cidade mais truculenta e modernizada do que a também fictícia Santa Fé, da trilogia O tempo e o vento, que narra a história do Rio Grande do Sul de 1680 (quando foi estabelecida a Colônia de Sacramento) a 1945 (fim do Estado Novo). Como nos romances O Continente (1945), O Retrato (1951), O Arquipélago (1962), em que os Terra combatem os Amaral, há na cidade duas famílias poderosas, os Campolargo e os Vacariano.



A cidade fora fundada por Chico Vacariano, que se tornara sua autoridade inconteste como proprietário das terras em que o Povinho da Caveira se formara. Quando Anacleto Campolargo, rico pecuarista, resolve se estabelecer no povoado, Vacariano sente sua soberania ameaçada. Ao encontrá-lo, quase enfrenta o intruso em duelo. Diz o texto: “Foi assim que entre as duas dinastias antarenses, a dos Vacarianos e a dos Campolargos, começou uma feroz rivalidade, que deveria durar quase sete decênios”.



Essa inimizade inicial vai aos poucos se atenuando, até ambas se aliarem para preservar suas terras e manter seus privilégios. Também chama atenção a presença do sociólogo Martim Francisco Terra e sua equipe de pesquisadores jovens, com função semelhante à do médico Carl Winter de O Continente, ou seja, de escrever sobre a cidade a partir de um olhar de fora.



Incidente em Antares não trata da ditadura no Brasil diretamente, mas, por meio da paródia, sugere como esta se tornou possível. Antares é a consequência do contexto político de Santa Fé, nos anos 1960, narrado no volume O arquipélago, que integra O tempo e o vento, preparando o golpe militar através da repressão e da corrupção que já existiam durante a ditadura Vargas, nos anos 1940. O romance espelha o cenário político brasileiro passando pelo inculto Povinho da Caveira, pelos conflitos sangrentos entre os patriarcas da cidade rural até chegar aos industrializados anos 1960, com sua prefeitura corrupta. O comportamento dos governantes, cuidando de seus interesses, sem a menor ideia de bem comum, explica a revolta dos operários, que resultaria numa greve geral e no incidente propriamente dito.



Terminada a história da formação da cidade antarense, o palco está preparado para o acontecimento macabro narrado na segunda parte do livro. Ao serem deixados em seus caixões à espera do enterro por coveiros grevistas, os mortos literalmente despertam. A matriarca dos Campolargo, Dona Quitéria, o advogado Dr. Cícero Branco, o sapateiro “Barcelona”, o maestro Menandro Olinda, o jovem operário João Paz, a prostituta Erotildes e o ébrio “Pudim de Cachaça” não se comportam como zumbis: possuem memória, continuam pensando e falando.



Embora com origens sociais diferentes, os mortos-vivos se unem em torno de um mesmo propósito. Indignados diante do descaso dos governantes, espalham sua pestilência pela cidade, visitando seus entes queridos (que nem sempre o são, como vêm a descobrir os da classe alta). Como a greve continua sem solução, ocupam o coreto da praça central, fazendo um comício público em que a podridão moral da sociedade e da política antarense é denunciada diante da população horrorizada com a decomposição progressiva dos defuntos. “A Matriz está ainda cheia de fiéis que rezam, não de joelhos, mas sentados, com os pés erguidos, por causa dos ratos que passam por baixo dos bancos e, como emissários de Satanás, escalam, irreverentes, o altar-mor”, narra Verissimo.



O autor relaciona as visitas dos mortos com as reações dos vivos, as reuniões políticas para resolver o problema, a cobertura jornalística e as tentativas das autoridades de se imporem pela força (sem efeito, já que estão combatendo cadáveres). Verissimo se vale de diversas técnicas de apresentação do enredo. O relato dos acontecimentos é feito por meio dos diálogos entre vivos e mortos, das reportagens pernósticas do jornalista Lucas Faia, do diário dolorido do progressista padre Pedro Paulo e do jornal íntimo do professor Martim Francisco Terra, autor do diagnóstico científico da cidade no livro Anatomia duma cidade gaúcha de fronteira.

“Testemunhas visuais (e olfativas!) do fato são unânimes em afirmar que os defuntos se moviam de maneira rígida, como bonecos de mola a que alguém – Deus ou o diabo? – tivesse dado corda”, reportava o personagem Lucas Faia.



O Incidente provoca posições ideológicas ora convergentes, ora divergentes. Dá-se a palavra a segmentos oprimidos da população, mas os poderosos não a ouvem, perpetuando a hipocrisia. É realizado aquilo que na sociedade brasileira seria impensável numa situação de exceção: a livre exposição de ideias e de crítica. Mas os governantes de Antares conseguem apagar o evento e suas repercussões com o que chamam de “Operação Borracha”, reprimindo com ameaças qualquer manifestação que lembre os mortos-vivos e proporcionando ao povo muita distração e festa. Martim Francisco chega a receber uma carta anônima “em que um Amigo Desinteressado lhe declarava que sua vida estava em perigo”.



Incidente em Antares é um romance de levada histórica, mas absurdo no seu cerne. A ficção oferece ao leitor um retrato de seu próprio contexto, mas como se este não estivesse ali implicado. Ao mesmo tempo, faz lembrar que os incidentes de corrupção ainda acontecem e tudo o que vai mal continua sendo apagado, se não pela censura, pela sucessão de escândalos que tudo banaliza, como fazem os líderes políticos de Antares com a Operação Borracha.





Saiba Mais - Bibliografia



CANDIDO, Antonio. “Erico Verissimo de 1930 a 1970”. In: BORDINI, Maria da Glória (org.). Caderno de pauta simples: Erico Verissimo e a Crítica Literária. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 2005. pp. 65-78.

MARZOLA, Norma. “Ninguém escapa à História”. In: VERISSIMO, Erico. A liberdade de escrever: entrevistas sobre literatura e política. Org. Maria da Glória Bordini. São Paulo: Globo, 1999. p.91-105.

SILVA, Márcia Ivana de Lima e. A gênese de Incidente em Antares. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.



Saiba Mais - DVD



VERISSIMO, Erico; NADOTTI, Nelson; PEIXOTO, Charles. “Incidente em Antares”. Minissérie em 12 capítulos, exibida em 1994. Direção geral de Paulo José. Rio de Janeiro: Rede Globo, 1994.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Utilidade Pública- Algo que pode dar certo.

Análise de esgoto permite mapear áreas de consumo e refino de drogas

Acervo Caesb


Estimar o consumo de drogas ilícitas como cocaína, crack, morfina, anfetaminas, entre outras, não é uma tarefa fácil no Brasil. Atualmente os dados se baseiam em apreensões feitas pela polícia, associados às informações disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Acredita-se que estas estimativas estejam muito abaixo dos indicadores reais, dessa forma, é necessário desenvolver uma ferramenta rápida, confiável e de baixo custo para saber quanto, onde e que tipos de drogas estão sendo consumidas pela população, instrumentos importantes para subsidiar políticas públicas.



Nesse sentido, o Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA) desenvolve uma ferramenta de mapeamento por meio da análise de esgoto doméstico, sob a coordenação professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e bolsista do CNPq, Wilson F. Jardim. Essa abordagem é inédita no Brasil e começou a ser praticada em alguns países apenas neste século. “É uma excelente ferramenta não apenas para ajudar na repressão ao consumo de drogas ilícitas, mas tem um caráter bem mais amplo e nobre, servindo para nortear programas sociais de reabilitação de usuários, conhecer áreas de maior consumo dentro de um espaço urbano, acompanhar a evolução do consumo e comércio de novas drogas e detectar laboratórios de refino”, explica o pesquisador.



O procedimento se baseia na coleta representativa das amostras de esgoto nas estações de tratamento, dentro de uma janela temporal conhecida. As amostras são tratadas a fim de permitir sua análise por uma técnica instrumental denominada LC-MS/MS, ou seja, cromatografia líquida acoplada a um espectrômetro de massas. A maior contribuição do estudo foi o desenvolvimento de um aparato para a manipulação das amostras com o mínimo de contato humano, diminuindo as contaminações, bem como a estratégia para calcular valores confiáveis.



“ Quando um usuário consome um determinado tipo de droga, a mesma é metabolizada no organismo sendo depois excretada no esgoto. Utilizando métodos e equipamentos de análise muito sensíveis, é possível identificar e quantificar o quanto dos metabólitos e da droga original estão presentes numa amostra de esgoto. Se esta amostra é coletada numa Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), podemos estimar o quanto da droga foi consumida num bairro ou numa região da cidade”, ressalta Jardim.



Área de teste



Em parceria com a Polícia Federal, a Universidade de Brasília e a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB), os precedimentos foram testados em Brasília para estimar o consumo de cocaína e outras drogas ilícitas. Foram realizadas duas campanhas amostrais, que somados apontaram para o consumo anual de aproximadamente 1,1 tonelada de cloridrato de cocaína. Valor muito superior a estimativa feita por meio de apreensões, que chegam a menos de 400 quilos por ano. A região com maior consumo per capita foi a cidade de Samambaia, seguida da Asa Norte. O consumo médio anual no DF foi estimado em 4,6 doses por habitante.



“Através da análise do esgoto, podemos ver as tendências de consumo em tempo recorde, o que seria de imensa valia para a sociedade. Por exemplo, a explosão no consumo do crack poderia ter sido antecipada há muito mais tempo usando o saneamento forense, permitindo assim que o Estado se aparelhasse e se preparasse melhor para atacar este problema tão devastador”, destaca o pesquisador.



Para Wilson, é importante ressaltar que a pesquisa é limitada por que o saneamento é precário. “A estimativa do consumo de drogas demanda uma malha coletora de esgoto eficiente e abrangente, atualmente, são poucas as cidades brasileiras que poderiam ser mapeadas adequadamente para este fim. Seria necessário um investimento de R$ 15 milhões para termos uma radiografia preliminar do problema nas principais capitais brasileiras. A PF seria um grande aliado para manter esta estrutura de coleta e análise, ao disponibilizar seus laboratórios para suporte, uma vez que atua em todo o território nacional”, finaliza.

O interesse pelos contaminantes emergentes em geral surgiu no Laboratório de Química Ambiental do IQ da UNICAMP em 2006, com o início das pesquisas sobre a contaminação dos mananciais da cidade de Campinas por compostos não legislados. Com o INCTAA aconteceu a expansão do programa visando mapear o consumo de drogas ilícitas, atividade pioneira no Brasil. O projeto conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Texto de Fabrício Renner de Moura-++

Experiência e cotidiano de um jovem boleeiro na Cruz Alta republicana.




O presente texto faz uma breve incursão na vida pública e privada de Antônio Rocha, homem simples, boleeiro, cruzaltense e morador no subúrbio da Cruz Alta republicana. Aos olhos da cultura letrada, Antônio é uma testemunha perturbadora, pois revela uma outra História urbana de Cruz Alta, não tão prospera e dinâmica como estamos acostumados a constatar.

Através da voz de Antônio e das vozes de seus companheiros de trabalho, percebemos a luta cotidiana, improvisação e resistência, diante da nova ordem de produção, de dominação e de poder que se estabelecia, inserido os trabalhadores pobres a um sistema de trabalho com baixos salários e sem os mínimos direitos sociais e políticos, e ainda, uma voraz rede de vigilância policial e judiciária.

Nas palavras de Ecléia Bossi, quando a História da gente comum chega até nós ela arrepia , sem dúvida por trazer à tona os preconceitos, as perseguições e sofrimentos que os desclassificavam-nos socialmente, como, por exemplo, a condição de trabalhador manual e diarista, a organização familiar que distinguia dos modelos instituídos por médicos, psicólogos, pedagogos e advogados, e, as condições de moradia localizadas nas áreas alagadas e mal cheirosas da cidade.

Portanto, mesmo que essas vozes tragam os dramas vividos no submundo do espaço urbano de Cruz Alta, é através destas que entenderemos a rotina dos conflitos, confrontos e solidariedades tecidos no imediatismo do cotidiano cruzaltense, e, assim revistar e refazer as verdades históricas, então vistas como estáticas e rígidas .

Antonio Rocha era um jovem boleeiro (profissão semelhante ao de taxista) residente na cidade de Cruz Alta nas primeiras décadas da República. Seu local de trabalho situava-se na praça Itararé, em frente ao prédio da movimentada estação ferroviária. Com um carro alugado ( dois cavalos e uma carroça), nosso boleeiro transportava passageiros e cargas por todos os cantos, e possivelmente estava a par de fofocas, intrigas e noticiais que corriam pela cidade, assim como, muitas historias particulares regadas por esperanças e desilusões. Assim, nestas estas idas e vindas, acabou formando com os usuários uma rede de relações e alguns poucos trocados.

Trabalhador diarista, Antônio não possuía um salário fixo e ainda convivia com os constantes calotes de muitos clientes. A renda obtida nas longas horas de trabalho mal garantia o sustento de sua família, como o alimento básico (açúcar, pão e carne) e o aluguel de uma pequena casa no bairro Parro Preto, subúrbio da cidade conhecido por suas casas de prostituição e suas agitadas tabernas.

Nas horas em que não trabalhava, a diversão noturna estava próximo de sua casa, na rua Procópio Gomes número noventa e dois. Ali localizava-se o prostíbulo de Carolina e suas provocativas meretrizes. Com a companhia de uma rapariga e de algumas doses de trago, Antonio arriscava a sorte nos jogos de cartas e de ossos com os jovens filhos da elite local já bastante embriagados.

A promiscuidade era tanta, que certa vez o capitão Dinarte Vargas, homem de confiança do firminismo, e seus soldados da guarda municipal, tentaram fechar o estabelecimento para por fim aos atos praticados na casa e quase viraram uma peneira. Um intenso tiroteio entre os guardas e os freqüentadores do estabelecimento, rompeu com o silêncio da noite, não havendo alternativa para os homens da lei senão recuar as pressas para a intendência velha a poucas quadras do bairro.

Durante o dia, principalmente nos finais de semana, Antonio reunia-se com seus amigos e pela estrada de ferro Cruz Alta-Ijuí cortavam caminho até o recém inaugurado prado nos arredores do cemitério público municipal. Ambiente de muita competição e confraternização, estas corridas reuniam centenas de pessoas apaixonadas pelos velozes cavalos que rendiam uns bons trocados e uma vida social ativa. Antonio não agia diferente, apostava os tostões que tinha e aos berros proferia estímulos e palavrões ao jóquei e ao cavalo. As vezes a sorte estava do seu lado.

A dona Alicia, mãe de Antonio, advertia o filho sobre os perigos destas diversões. O receio dela era a violência que a farra, a putaria, a jogatina e o álcool poderiam gerar, assim como possíveis problemas com a guarda de Firmino Filho que não costumava brincar em serviço, pois espancava e encarcerava na cadeia pública farristas, mendigos, crianças pedintes e bêbados que perambulavam pelas ruas.

Alicia preocupava-se com seu filho mais velho e com as influencias dos seus amigos. Sem marido, algo imoral na época, e com mais duas filhas menores para educar, a ajuda de Antonio no sustento e no cuidado da família era fundamental e, assim, exigia do filho mais responsabilidade. Seu trabalho como lavadeira, cozinheira e faxineira em uma pensão para jovens militares do exército brasileiro, nas proximidades do quartel do 6° RAM., era cansativo e pouco remunerado, mas também era um local onde laços de amizade e de solidariedade eram formados para vencer a pobreza.

Bem avisado por sua mãe Alícia e ciente das obrigações de homem da casa, Antonio cedo da manhã do dia vinte de junho de 1925 desloca-se vagarosamente até a praça Itararé. No caminho cruzava por leiteiros, padeiros, lenhadores, marceneiros, pedreiros, açougueiros, feirantes, barbeiros, alfaiates, comerciários, bancários, ferroviários, professores, advogados, médicos e empresários apressados pelas ruas empoeiradas e fedidas corriam para iniciar mais um dia de muito trabalho.

Aproximando-se da estação ferroviária, Antonio percebeu que o movimento de pessoas estava maior do que o habitual. Nos arredores da praça, as diligencias estavam paradas e os cavalos encarangados diante do forte frio matinal. No centro do logradouro público, os colegas cocheiros conversavam e gesticulavam com veemência diante do jornal do dia.

Antonio, sem saber ler e escrever, apressou-se ao encontro dos cocheiros a fim de saber o motivo do tumulto, e atentamente ouviu dos companheiros Francisco Dias, Manoel Rodrigues, Arrago de Valério, Antonio Figueiredo, Antonio Riolon, Juvêncio Soares, Nobre Adão, Felipe Mozhes, Quintino Vasconcellos e Saturnino da Silva, estes nervosos e revoltados, as palavras ofensivas editadas pelo jornal local o Commercio

A indignação dos boleeiros justificava-se. Na página quatro do espaço denominado Scenas d’aqui, as condições de trabalho e o modo como comportavam-se eram severamente questionados. Sem autoria, mas ocupando uma posição privilegiada no contexto da página, as idéias tecidas no texto não se distanciam da opinião do periódico e de grupos sociais abastados do município quanto a presença e o comportamento da população pobre nos espaços públicos da cidade.

Constituída de sessenta e duas linhas, o texto segue o estilo jornalístico da época no Brasil, usando referencias teóricas cientificistas e biológicas preconceituosas , atribuindo qualidades degenerativas e racistas ao modo de vida e de trabalho dos boleeiros, acusando-os de relaxamento, ausência de comodidade e de bem-estar ao forasteiro que visitar esta Cruz Alta leal e valorosa

Ao longo do texto, são relatadas as condições das carruagens com seus bancos quebrados e sujos, puxados por matungos magros, fracos e sarnentos. A irregularidade na manutenção das rodas e dos arreios, assim como, o comportamento dos cocheiros que através de berros, gritos e socos buscavam a preferência do cliente, também eram descritos com indignação, ainda mais que o palco destas relações davam-se nos cartões postais da cidade, a praça Itararé e a estação ferroviária.

Cabe aqui destacar, que as redações dos jornais eram espaços de confluências de mentalidades na passagem do século XIX para o XX , nesse reduto das letras, calorosas discussões e debates sobre projetos políticos da intelectualidade cruzaltense ocorriam, e suas impressões sobre o mundo e o ambiente urbano de Cruz Alta formavam as páginas semanais do O Commercio e do O Cruz Alta.

Assim, com a chegada da ferrovia a cidade, em novembro de 1894, estancieiros, comerciantes, médicos, professores, advogados, políticos e intelectuais, pressionavam a intendência municipal para realizar uma série de reformas urbanas no centro de Cruz Alta. Portanto, abrir avenidas, empedrar as ruas centrais, arborizar as praças, instalar redes de água encanada, de esgoto, de energia elétrica e de telefonia, e, limpar do centro mendigos, prostitutas e vadios representavam a modernização dos espaços públicos da cidade e a reprodução de valores morais burgueses.

Em sintonia com as grandes, médias e pequenas cidades européias e norte-americanas, a intelligensia cruz-altense acreditava nos benefícios produzidos pela era da ciência e das máquinas, até porque, o impacto da operação do transporte ferroviário e da substituição da luminosidade dos candelabros de óleo de querosene, pela luz elétrica, fora sentido positivamente no dia-a-dia da população.

Eufóricas, as famílias de bens da cidade desejavam construir um espaço afrancesado no centro da cidade, na qual, a rua do Commercio passaria a ser o símbolo desse processo, tanto que recebeu as primeiras reformas urbanas, principalmente o trecho entre as praças Itararé e Matriz. Por conhecidência, é nesta rua e nas travessas (ruas Mariz e Barros, Gal. Osório, Maurity, João Manoel, Andrade Neves, Gal. Pillar, Sete de Setembro e Coronel Martins) que localizavam-se os espaços de convívio (o teatro Carlos Gomes, o Cine teatro Biógrafo Ideal, as redações dos jornais, o Centro Republicano, a Intendência municipal, os clubes do Comercio e do Arranca, e as luxuosas casas comerciais), de trabalho e de domicilio das elites cruz-altenses.

Diante disso, as elites letradas desejavam limitar o trânsito da população pobre pelas ruas modelos da cidade, controlando o vai e vem de muita gente (vendedores ambulantes e meninos pedintes, jogadores e sapateiros, prostitutas e oleiros, vagabundos e lavadeiras, milicos e golpistas, carpinteiros e pedreiros, farristas e mendigos), que diariamente reproduziam comportamentos e costumes dispares aos novos tempos.

Tão logo iniciou-se a construção do espaço elitizado, a intelectualidade cruzaltense voltou seus olhos para os boleeiros, mensageiros e cocheiros e demais condutores de carroças e de carretas que percorriam todos os espaços da cidade, inclusive as ruas afrancesadas do centro, principalmente a rua do Commercio.

Há muito tempo, os ilustrados tinham interesse em limitar o acesso deste transporte e de seus condutores ao centro, e assim, solicitavam à intendência um controle mais rigoroso das carroças, que além de pesados e sem molas, prejudicará o calçamento, que ficará danificado . O valor simbólico também fazia-se presente nas exigências, pois este transporte lembrava os tempos coloniais, incompatível com o cenário moderno que a passos lentos se desenvolvia.

Mas, mal sabiam os grupos sociais dominantes que esquecer o passado é impossível, mesmo quando medidas repressivas são adotadas para eliminar os costumes coletivos e individuais considerados velhos . A intendência, por exemplo, utilizava as carruagens para recolher os lixos e demais dejetos fabricados pela população, assim como, outros carroceiros transportavam todos os tipos de cargas: madeiras, alimentos, animais e entulhos. Ou seja, tanto os cocheiros, quanto os carroceiros e carreteiros são de suma importância para o funcionamento do comércio e dos serviços públicos e particulares de Cruz Alta.

Antonio e seus companheiros não se deixaram abater. Depois do momento de fúria, com muitos palavrões, xingamentos e ameaças, era hora de voltar ao trabalho e enfrentar os modernos através da força das palavras. No dia dois de julho, doze trabalhadores da boléia, inclusive Antonio Rocha, publicaram na página sete do jornal O Commercio, o texto intitulado A verdade com o propósito de responder os insultos ao público e aos trabalhadores desta humilde sidade.

Antes, cabe fazer algumas considerações a respeito do texto. Tudo indica que esse manifesto fora elaborado pelos próprios trabalhadores, não apenas por ter sido reconhecido em cartório, o que supostamente dificultou a manipulação de seu conteúdo pela redação do jornal, mas pela grafia e o vocabulário usado pelos mesmos em um veículo de comunicação de linguagem formal e com um público alvo definido.

Essa maneira particular de jogar com as palavras em um reduto exclusivo do discurso dominante, trouxe a possibilidade de entender a formulação de expressões lingüísticas desse grupo social, na qual aqui entendemos como estratégia de afirmação, assim como uma possibilidade de conhecer a percepção dos próprios trabalhadores como sujeitos sociais e o que sentiam diante das perseguições das classes cultas em um contexto de mudanças na cidade.

Sem poupar adjetivos ao autor do artigo do dia 20 de junho, os cocheiros já no inicio do texto acusa-o de insultador e de grosseiro por ter publicado um artigo escandaloso, pois são pobres e esmeram-se para ganhar o pão honesto.

A resposta às acusações buscou desfazer a imagem negativa que havia sobre a categoria, trazendo para a comunidade local e, quiçá regional o outro lado do dia-a-dia do trabalho dos boleeiros, até então, ocultados pela imprensa. Defenderam três aspectos, a viabilidade econômica da atividade, a responsabilidade com o trabalho que resulta numa conduta social compatível com as convenções capitalistas, e , o respeito da sociedade pela categoria.

Os boleeiros trataram de ressaltar as boas contas que geravam ao patrão, exaltando a lucratividade de um transporte de suma importância para as relações comerciais da cidade. Diante disso, não permitiam ser retratados como borradores das tavernas, e sim como trabalhadores honestos e habituados aos rigores do trabalho já que não geravam dispêndios.

A apropriação por parte dos boleeiros a ideologia do trabalho possivelmente serviu para passar uma imagem de boa conduta, mas também significou a integração numa sociedade que desde a proclamação da república vinha reproduzindo, sobre pressão política, os valores do capital. Afinal, como ressaltou Chalhoub, foi com o regime republicano que o homem livre, o imigrante e o ex-escravo foram transformados em trabalhador assalariado .

No entanto, admitem que nem todos trabalhadores eram caprichosos, assim como também não condenam os companheiros que não seguiam os modelos burgueses. Atribuem a falta de asseio e de estrutura das carruagens aos muitos passageiros que não pagavam a corrida ao pobre bolieiro que com sacrifício lhe conduz ao médico, ou conduz o médico para salvar seu filhinho.

Desta forma, exercer com decência a profissão era cada vez mais difícil já que os custos dos equipamentos, como a manutenção do veículo e o alimento para os animais eram elevados.

Esse argumento chocava-se com as ideias burguesas reproduzidas nos periódicos da cidade. Para os trabalhadores, a condição econômica determinava as dificuldades de trabalho da categoria, enquanto que para os setores endinheirados o vinculo alcoolismo, indecência e desobediência civil valia para explicar as atuais condições que a categoria encontrava-se, e se fosse preciso suprimi-la do cotidiano da cidade. Por fim, queriam ser respeitados, pela sociedade como pelas autoridades, tanto que (...) viemos unânime representar contra a selvagem inçulta.

Mas o que acontecera com Antônio após o manifesto publicado no jornal? Algo mudou em sua vida?

As agressões verbais e morais por parte das instituições do Estado prosseguiram. Como observamos, na República Velha a população pobre enfrentou um período de repulsa e de perseguições dos aparatos policial e judiciário, assim como, de setores produtivos, ambos com objetivo de suprimi-los da sociedade sadia e higienizada.

Diante disso, mesmo com as perseguições e as dificuldades econômicas, Antônio prosseguiu sua vida elaborando estratégias para burlar a pobreza e sobreviver. Residindo em uma casa alugada com a mãe Alicia e as duas irmãs, Clara e Natália, a primeira com dezesseis anos e a última menor de dez anos, Antônio tratou de aumentar a renda familiar e passou a trabalhar nas horas que não atuava na boleia na casa comercial de Júlio Gruhn, localizado nos taquarais da alagada rua Aurora.

O seu Gruhn como era chamado no barro preto, era um senhor de meia idade, estatura baixa, gorducho com um rosto arredondado e salpicado. Tinha a mania de morder um pequeno pedaço de madeira, semelhante a um palito, e, no ombro direito carregava um pequeno pano encardido para limpar qualquer sujeira que via na sua frente. Não possuía arma de fogo, ao menos era o que se comentava, mas debaixo de seu balcão havia um conhecido facão usado para intimidar os caloteiros e os brigões freqüentadores da casa.

A casa vendia de tudo, desde gêneros alimentícios como farinha, arroz, açúcar, feijão, banha e produtos vindos das colônias, a ferramentas e matérias de couro para montaria. No entanto, o novo emprego não agradou a família do jovem boleeiro. Alicia sabia da reputação da venda, pois no local também comercializavam-se bebidas alcoólicas, promoviam-se jogos de roleta e de cartas durante o dia e a noite e ocorriam encontros amorosos as escondidas. Além disso, Julio Gruhn costumava comprar produtos roubados por menores abandonados das lojas do centro e dos armazéns e trens da estação ferroviária.

Antônio encarregava-se de atender os clientes e de entregar encomendas a domicílio na cidade e no interior do município. Com a carreta abarrotada de mercadorias, percorria as ruas empedradas e esburacadas da cidade para entregar as encomendas. Também eram seguidas as viagens até os distantes povoados de Santa Bárbara, Três Capões, Porongos, Jary com suas estradas tortuosas e sujeitas as investidas dos assaltantes.

Mas, não havia outra saída. Morador de um bairro hostilizado pela comunidade “culta” da cidade, pobre e ainda sem conhecer alguém que trabalhasse nas casas ou nos estabelecimentos comerciais de políticos e empresários, Antônio dificilmente encontraria emprego nos bazares, nos cafés e nos cine-teatros da cidade.

Enquanto isso, dona Alicia prosseguia trabalhando na pensão para militares. Temerosa com os assaltos no bairro, e com Antonio na maioria das vezes fora de casa, Alicia passou a levar suas duas filhas para o trabalho graças o consentimento de sua patroa, dona Norma, que transformou sua casa em pensão após a chegada do Regimento de Artilharia. Do amanhecer ao anoitecer, jovens militares oriundos de todo os cantos do país entravam e saiam da pensão para alimentarem-se ou para entregar as trouxas de roupas a serem lavadas.

As meninas, Clara e Natália, sob o olhar atento da mãe, ajudavam no serviço com trabalhos leves, mas no interior da pensão. Ajudavam a limpar os utensílios domésticos e a estender a infinidade de roupas dos rapazes. Raramente apareciam aos olhos de praças e oficiais do exército, conhecidos na cidade pelas farras. Quando entravam na sala, as meninas logo tratavam de sair do recinto intimidadas e embaraçadas devido os olhares dos praças que não perdiam a oportunidade de soltar alguns gracejos.

Numa dessas olhadas, o terceiro sargento Guilherme Massaro, natural de Bom Principio, recém saído de um orfanato em Montenegro interessou-se por Clara. Com vinte quatro anos de idade, o jovem sargento, órfão de mãe desde os seis anos, e então separado dos três irmãos, alistou-se no Regimento de Artilharia de São Leopoldo como soldado transferindo-se já como terceiro sargento para Cruz Alta.

Sem parentes e amigos, Guilherme praticamente residia no 6º Regimento e com o passar do tempo formou sua rede de amizades com companheiros de farda oriundos das colônias de Gal.Osório(hoje a cidade de Ibirubá), Neu-Wurtemberg (hoje Panambi) e de outras cidades do país Natal, Mogi-Mirim, Lapa, Lages. Fora da caserna, Guilherme freqüentava tabernas e pensões do bairro, na qual conheceu a pensão de dona Norma e a família de Alicia. Desse convívio resultou seu interesse pela jovem Clara.

Em pouco tempo casaram-se, e com o consentimento de Alicia e de Antônio passaram a morar na casa da família Rocha. Entre breves discussões, em principio pelo pouco espaço numa casa sem cômodos e o único banheiro localizado nos fundos do quintal, e, manifestos solidários, com o tempo Antonio e Guilherme tornaram-se grandes amigos.

A ajuda de Guilherme seria fundamental para Antônio vencer o vírus da gripe, contraído nas idas e vindas pelos campos do interior, quebrando geada ou no frio do entardecer,e, as vezes dormindo na estrada coberto com poucos trapos. Antônio com febre alta e alucinações fora transportado as pressas até a farmácia Peixoto, mas precisou ser atendido no único hospital da cidade São Vicente de Paula, e por lá ficou isolado durante uma semana com outros doentes em um pavilhão frio e sem receber visitas, conforme a ordem do médico Franklin Veríssimo.

Alicia desesperada não desgrudava de seu oratório repleto de rosários e imagens de santos católicos como São Francisco de Assis, Santo Antônio, Santa Catarina e a imagem do Divino Espírito Santo abençoada pelo padre da Catedral José Spoenhlein, muito querido na comunidade. Clara e Natália, além de rezarem por horas o terço e prometerem sua alma para que o irmão se salvasse, caminhavam pelos terreiros de umbanda espalhados nos subúrbios da cidade.

Um deles localizava-se nas margens da estrada de ferro para Passo Fundo, muito procurado por pessoas simples e abastadas da cidade. A mãe Joaquina, descendente de escravos com seu conhecido vestido branco e um fino cigarro importado da sans-autout entre os dedos, presente de algum agradecido, ciente da doença de Antonio pediu uma tigela com pipocas, erva barba de boi e peças de roupas de cores preta, vermelha e branca para oferecer ao orixá obaluiaê, divindade que rege as doenças.

Transitando entre a ciência médica e elaborando um rico sincretismo religioso, após um mês de agonia Antônio sente-se bem. Debilitado fisicamente pela doença, o seu retorno ao trabalho é demorado e os poucos trocados dos dois empregos que possui fazem muita falta. Nesse ínterim, sua mãe conheceu o maquinista de trens Justino Rosa, natural de Santa Maria e já há alguns anos em Cruz Alta. Alicia perdera seu marido, vítima de assassinato em um dos meretrícios da Capoeira, região oeste da cidade, quando Antonio tinha cinco anos de idade. Desde então, não se relacionara com ninguém, até conhecer Justino que freqüentava diariamente uma cancha de bocha de fronte a sua casa.

De certa forma, com a presença de Justino no seio da família Rocha, a situação financeira modificou. O maquinista, mesmo com pouco ordenado passou a ajudar no sustento da casa e mesmo na educação da jovem Natália matriculando-a em cursos de corte e costura oferecidos na recém inaugurada Cooperativa dos Ferroviários, mais tarde no Colégio de freiras Santíssima Trindade.

Antônio, seus companheiros de trabalho e sua família sabiam que tinham que enfrentar uma opinião publica embebecida pela modernidade e convencida que os maiores entraves para o progresso da nação estavam situados nos bairros alagados onde ninguém queria morar. E numa tentativa, talvez desesperada, os boleeiros de Cruz Alta desafiaram os obstáculos da língua culta e penetraram num território dos intelectuais do poder não somente para responder a uma provocação, mas para revelar as dificuldades de quem não tinha condições de comprar uma cesta básica (arroz, feijão, açúcar, sal, banha) que custava sessenta mil reis.

A despeito de uma estrutura que vigiava e desconsiderava as dificuldades da vida da gente comum, a solidariedade entre familiares e amigos fora a melhor estratégia para burlar tamanha miséria. Experiências que trouxeram à tona imagens desconhecidas da Cruz Alta Paris das missões, no entanto, reveladoras de uma identidade em comum desenhada cotidianamente por pessoas de carne e osso, com disse Thompson sujeitos que experimentam suas situações e relações produtivas determinadas como necessidades e interesses e como antagonismos, e em seguida “tratam” essa experiência em sua consciência e sua cultura .





Fabrício Renner de Moura





8] THOMPSON, E.P.  A miséria da teoria. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.  p. 182