domingo, 30 de outubro de 2011

Rio terá centro de arqueologia

Antigo palacete no centro da cidade reunirá milhares de vestígios encontrados em todo o estado fluminense 
O palacete no centro do Rio de Janeiro que abrigaria a Casa do Samba será transformado em um centro de arqueologia. O espaço reunirá milhares de vestígios encontrados em escavações em todo o estado fluminense, e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pretende inaugurá-lo no ano que vem.
Por enquanto o acervo arqueológico está guardado na sede do Iphan, no Rio, mas o plano é transportar as 15 mil peças para o palacete, na praça da República, 22, assim que for concluída a reforma. No momento não há mais espaço disponível para guardar coleções arqueológicas em instituições de pesquisa.
O local contará com laboratórios, espaço para exposições e debates, além de funcionar como um centro de educação patrimonial. Segundo o superintendente do Iphan no Rio de Janeiro, Carlos Fernando Andrade, o gasto previsto é de R$ 9 milhões, entre a realização da obra e a montagem do centro.
O estado do Rio de Janeiro tem 962 sítios arqueológicos registrados e 140 projetos em andamento. O mais antigo é o Sambaqui de Camboinhas, com mais de 7 mil anos, na paria de Itaipu, em Niterói. Nas obras do Complexo Petroquímico do Rio, em Itaboraí, foram localizados 41 sítios.
Fonte: História Viva

História do Movimento Anarquista no Brasil


História do Movimento Anarquista no Brasil

Com 8.511.965 km² e uma população de cerca de 160 milhões de habitantes, "encontrado pelos navegadores portugueses em 1500", colonizado à força de chicotadas e da decepação de pares de orelhas com as mãos dos capitães do mato", cresceu pela força do trabalho escravo, como os demais países "descobertos" por espanhóis, italianos, holandeses, franceses, ingleses e outros.

A questão social começou quando uns poucos figurões alugaram e compraram braços humanos para desbravar a terra, abrir estradas, construir pontes, moradias, carruagens e tudo o mais capaz de proporcionar uma vida confortável aos comandantes da miséria e do progresso do Brasil.

Nos quase 500 anos de história aconteceu de tudo um pouco: compra e venda de gente como nós nos leilões em praça pública, uso de escravos novos para reproduzir filhos (mão-de-obra com pouco custo e nenhum risco) com escravas sadias, trabalho pela comida, trapaças para tomar terras férteis aos nativos, prisões, espancamentos a gosto dos patrões e tudo o mais que o cérebro humano é capaz de imaginar para dominar seus semelhantes. E eram todos boas almas tementes a Deus...

A opressão seguiu-se às fugas e à formação dos quilombos, o mais importante foi instalado em Palmares (1602-1695), resistiu quase um século, teve 20 mil habitantes vivendo em comunidade sem leis nem amos. Zumbi e seus companheiros anteciaparam-se a Tiradentes dois séculos tentando formar uma nação dentro do Brasil.

Independente em 1822, no grito do português Pedro I (4º de Portugal), o Brasil foi palco de muitas fugas e revoltas populares: a Setembrada e a Novembrada (1831); Levante de Ouro Preto (1833); a Sabinada (1837); a Balaiada (1838); a Cabanagem (1835-1840); a Guerra dos Farrapos (1835-1845); a Revolução Liberal (1842); a Revolução Praieira e a Proclamação da República em 1889.

Pouco antes (13 de maio de 1888) havia sido promulgada a Lei Áurea acabando com a prática de comprar e vender gente.

A rebeldia iniciada na contramão pretendia mudar a prática patronal, surrada, vergonhosa, anti-humana!

Do velho mundo chegavam as idéias revolucionárias de navio, em livros publicados na Europa. Entravam pelos portos do Rio de Janeiro, de Santos, atravessavam as fronteiras invadindo o Brasil um pouco na cabeça de cada imigrante que vinha em busca de liberdade e de terra fértil para semear o anarquismo.

Nas duas últimas décadas do século 19 alguns jovens brasileiros foram estudar na França e em Portugal e lá souberam das idéias libertárias. Outros estudaram no Brasil mesmo e encontraram livros de Kropotkine nas livrarias e na leitura respostas para suas inquietações.

É dessa época Manuel de Mendonça, autor da novela social "Regeneração".

O médico e higienista Fábio Luz encontrou na Bahia Palavras de um Revoltado, de Kropotkine, leu essa revolucionária obra e tornou-se anarquista. Escreveu e publicou Ideólogos e Os Emancipados, duas obras libertárias do início do século 20, sendo desde então considerados os primeiros escritores brasileiros a tratar da questão social no romance.

Aos dois intelectuais anarquistas juntaram-se Elísio de Carvalho, o estudante de medicina J. Martins Fontes, Pedro do Couto, Rocha Pombo, Pausilipode da Fonseca, João Gonçalves da Silva e Maximino Maciel, formando o grupo que publicou, no Rio de Janeiro, mais adiante, a revista Kurtur, e fundaram a Universidade Popular, em 1904, duas iniciativas anarquistas.

Avelino Foscolo, começou em Minas Gerais, Reinaldo Frederico Greyer, no Rio Grande do Sul, Ricardo Gonçalves (tem uma rua com seu nome em São Paulo), Benjamin Mota, Edgard Leuenroth e João Penteado, em São Paulo; Orlando Corrêa Lopes, Francisco Viotti, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto e José Oiticica, no Rio de Janeiro. De Portugal chegou Neno Vasco, um ilustre advogado, fez escola como anarquista em São Paulo (1901-1911), entre outros responsáveis pela sementeira anarquista no território brasileiro.

Em 1890 chegaram da Itália Giovani Rossi e seus companheiros para fundar a Colônia Cecília no Paraná.

A São Paulo, Guararema, chegou o italiano Artur Campagnoli e aos poucos Gigi Damiani, Alexandre Cherchiai, Oresti Ristori, Frederico Kniestedt, valorosos militantes italianos e de outros países que, depois de dar um salto no escuro para se ajustar ao clima tropical, às formas de trabalho, aos costumes, à alimentação, ainda tiveram que aprender o idioma português. A única coisa que pouco diferenciava o Brasil da Europa era a questão social, a exploração do homem pelo homem.

Lícito é destacar que o motor de propulsão do movimento anarquista no Brasil veio da Itália, foram os imigrantes deste país que sacudiram e agitaram com maior intensidade a questão social, as reivindicações e começaram uma propaganda sistemática do anarquismo e do anarco-sindicalismo. Em idioma italiano ou em português, publicaram dezenas de jornais, fizeram centenas de palestras, realizaram espetáculos teatrais com peças revolucionárias e por isso muitos foram presos, expulsos e outros tiveram de mudar de atividades para se esconder, embora uns poucos também tenham melhorado de vida e abandonado as idéias.

Dessa sementeira que envolveu em primeiro plano os italianos, seguidos e apoiados por portugueses, brasileiros, espanhóis e outros, circularam pelo Brasil mais de uma centena de jornais e revistas (entenda-se títulos) anarquistas e anarco-sindicalistas, sendo quatro diários; fundaram e dirigiram escolas de ensino racionalista, formaram grupos de teatro e representaram mais de uma centena de peças libertárias e anticlericais, fizeram comícios públicos contra a guerra, o serviço militar obrigatório, reduziram a jornada de trabalho (quando chegaram oscilava entre 16 e 10 horas diárias), bateram-se pela higiene e segurança no trabalho, por uma infinidade de melhorias tornando o trabalho menos penoso para o proletariado do Brasil. Mais de um milhar foram expulsos com a roupa do corpo acusados de agitadores estrangeiros, umas dezenas morreram lutando com a polícia. O primeiro anarquista assassinado foi o italiano Polenice Mattei, em São Paulo, no dia 20 de setembro de 1898.

Para se entender a trajetória do anarquismo no Brasil, confundido com o movimento sindicalista revolucionário ou anarco-sindicalista, é preciso definir ainda resumidamente o que os distingue e por que se confundem.

Movimento Anarquista: ação de grupos anarquistas, em conjunto ou separadamente, composto por células orgânicas, comunas, grupos, centros de estudos, uniões e federações.

O movimento anarquista não é exclusivamente uma organização de operários para operários, é ação de indivíduos que se opõem e dão combate ao capitalismo, almejando a derrocada do Estado e a reconstrução de uma Nova Ordem Social, descentralizada horizontalmente, autogestionária. Não é a revolta dos estômagos, é a revolução das consciências! O Movimento Anarquista não se firma na luta de classes ou pretende instalar os governados no lugar dos governantes, seus fins são de acabar com as classes, tornar o homem irmão do homem, independente de cor, idade ou sexo. Não visualiza a igualdade metafísica ou de tamanho, força, necessidades, quer a igualdade de possibilidades, de direito e deveres para todos.


Anarco-Sindicalismo: corrente sindicalista, assim chamada a partir da cisão provocada no 5º Congresso da AIT (Primeira Internacional dos Trabalhadores), em Haia, no ano de 1872, adotada pela maioria dos operários do Brasil até a implantação dos sindicatos fascistas pelo Estado Novo de Vargas, em 1930.

O anarco-sindicalismo é ao mesmo tempo uma doutrina e um método de luta.

Como doutrina, parte do trabalhador, célula componente da sociedade que pretende aperfeiçoar e desenvolver. Como método de luta, pretende a anulação do sistema capitalista pela ação direta, pela greve geral revolucionária e a substituição por uma sociedade gerida por trabalhadores em autogestão. Sua força reside no conjunto de organizações operárias (sindicatos, uniões e federações) voluntárias, livremente associadas.

A diferença entre sindicalismo e anarquismo consiste nos métodos e alcance. O movimento anarquista é de indivíduos, pretende torná-los unidades ativas, independentes, capazes de produzir e gerenciar em autogestão, sem as muletas políticas, religiosas, sem chefes: vai até onde a liberdade e a inteligência o possa levar. O sindicalismo é um movimento de operários (inclusive de ofícios vários), voltado mais para a gerência da produção e do consumo. Seu espaço é limitado, materialista, sem a dimensão e o alcance de filosofia de vida do anarquismo.

Bolchevismo: Variedade de socialismo. Doutrina política dos democratas russos que desejavam a aplicação integral do programa máximo de Lenin e Plekhanov. É empregado também como sinônimo do comunismo e do marxismo. Nasceu em agosto de 1903, durante o 2º Congresso do Partido Social Democrata Russo, iniciado em Bruxelas e terminado em Londres. Chegou ao Brasil depois da Revolução Russa de 1917, ganhando corpo com a formação do PCB em 1922. Disputou com os anarco-sindicalistas a supremacia dos sindicatos, transformando-se desde então num sério opositor aos movimentos anarquista e sindicalista.

Revendo a caminhada histórica do movimento libertário brasileiro, descobre-se que andaram pelo Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo socialistas da escola de Fourier, Garibaldines, Maria Baderna da escola de Mazini; anarquistas adeptos de Proudhon e Bakunin e revolucionários da Comuna de Paris chegados clandestinamente ao Brasil em busca de asilo político.

Para o autor a história do anarquismo em terras brasileiras começou a ser escrita efetivamente em 1888 com a chegada de Artur Campagnoli. Foi este bravo militante italiano, artista joalheiro, falecido em 1944 em São Paulo, quem teve o mérito de fincar o mais visível e incontestável marco anarquista no Brasil. Chegou a São Paulo em 1888, comprou uma área de terra considerada improdutiva e fundou a Colônia Anarquista de Guararema , com ajuda de libertários russos, franceses, espanhóis, italianos (a maioria) e nas décadas de 20 e 30 teve a colaboração de brasileiros. Dois anos mais tarde veio o engenheiro agrônomo Giovani Rossi e cerca de 200 imigrantes da Itália, em duas levas, para fundar a Colônia Cecília no Paraná. Esta experiência ácrata resistiu de 1890 a 1894 às investidas do governo da República, que acabava de implantar-se no Brasil. Asfixiada por cobranças de impostos indevidos, pelas invasões militares, os mais resistentes esperaram a expulsão, radicando-se nas imediações para olhar de longe a palmeira onde por quatro anos tremulou a bandeira preta e vermelha do Anarquismo.

São desta mesma época os periódicos ácratas: Ghi Schiavi Bianchi, São Paulo, 1892, em idioma italiano e tendo como diretor Gallileu Botti; L'Avenire, São Paulo, 1893, em italiano e português; Il Risveglio, São Paulo, 1893, em italiano.

O Libertário, em português, saiu em 1898, em São Paulo, sob a direção de Benjamim Mota; O Despertar, Rio de Janeiro, em 1898, sob a direção de José Sarmento Marques, e em janeiro do mesmo ano de 1898 realizou-se o Primeiro Congresso Operário no Rio Grande do Sul com a participação de dois centros anarquistas. Em 20 de setembro foi assassinado Polenice Mattei, o primeiro mártir do anarquismo, em São Paulo, Brasil.

Em mais de cem anos, o movimento anarquista do Brasil sofreu inúmeros revezes. Chegou a contar com o apoio de quatro diários, dezenas de semanários, mensários, bimensários e periódicos. Atravessou fases dificílimas sem nenhum porta-voz nem poder reunir seus militantes.

Nesse mesmo período foram publicados alguns livros e folhetos, a maioria por iniciativa de grupos libertários que se cotizavam para angariar recursos com os quais custeavam edições. As obras clássicas foram lançadas por editoras comerciais. Somado o esforço dos libertários às iniciativas dos livreiros, o número de títulos de livros publicados em terras brasileiras pouco excede as duas dezenas até 1960.

Em 1964 chegou a ditadura militar e com ela um frutífero período de grande efervescência editorial de obras libertárias. Paralelamente à repressão, escritores e editoras afrontaram a ditadura na década de maior repressão (1970-1980), prosseguiu durante a varrida do entulho autoritário, entrando na "nova-velha república" pesquisando e publicando livros ácratas.

O anarco-sindicalismo e o anarquismo caminharam no Brasil muito entrelaçados enquanto movimento. Sua distinção era notada na imprensa.

Mais preocupados com a ideologia, os anarquistas desenvolviam um trabalho educativo. Viam no elemento humano a "peça" mais importante a preparar, tanto no terreno profissional quanto no cultural, a fim de que cada militante fosse capaz de se autogerir sem muletas religiosas, patronais ou policiais. Colocava sempre os cérebros acima dos estômagos.

Com estes objetivos os anarquistas fundaram escolas livres, universidades populares, grupos de teatro social, desenvolveram intensa propaganda educativa, sociológica, de cultura geral, libertária.

Nas duas primeiras décadas do século 20 promoveram manifestações estrondosas na defesa do fundador da Escola Moderna, Francisco Ferrer y Guardia, e de companheiros presos, torturados e expulsos do Brasil. Apoiaram e ajudaram os trabalhadores russos quando da revolta de 1905, os mexicanos em 1910, os russos em 1917, reverenciavam os Mártires de Chicago, no dia 1º de maio, e não esqueciam as vítimas do capitalismo selvagem no Brasil e no mundo.

Durante a guerra de 1914-1918, os libertários brasileiros atuavam em diversas frentes, em nível de Brasil: contra o desemprego, o aumento do custo de vida, a escassez de alimentos de primeira necessidade, combatiam a burguesia açambarcadora, o clero corruptor das mentes, o Estado "pai de todos", que garantia inclusive a carnificina humana nos campos de batalha.

Para minimizar a fome, o governo, pressionado pelo proletariado libertário que fazia comícios nas portas das fábricas, autorizou a venda de gêneros diretamente do produtor ao consumidor (processo hoje conhecido como feiras livres, um pouco mudado) sem taxação de impostos.

Em nível internacional realizaram o Congresso Pró Paz, no Rio de Janeiro, e enviaram três delegados ao Congresso realizado no Ateneu Sindicalista do Ferrol, em 1915, dissolvido aos tiros pelo governo espanhol.

O que aconteceu com os representantes do movimento anarquista brasileiro aparece no seguinte texto:

"Realizou-se na quarta-feira à tarde, no largo de S. Francisco, um comício convocado pela Comissão Popular de Agitação Contra a Guerra formado de representantes de várias agremiações operárias daquela cidade.

Abriu o meeting às 5 horas e pouco João Gonçalves da Silva, que explicou os fins do mesmo, que era protestar principalmente contra a proibição feita pelo governo espanhol à reunião do Congresso Internacional Pró Paz de Ferrol.

Seguiram-se com a palavra José Elias da Silva e Dr. Orlando Corrêa Lopes, atacando os governos da Europa e mostrando que o proletariado é o único a sofrer com a conflagração, devendo ele, portanto, rebelar-se contra e esforçar-se por lhe pôr um paradeiro.

Falou depois a operária Juana Buela, companheira de João Castanheira, o operário vítima da sanha da polícia de Espanha. Profundamente emocionada Juana Buela, que leu o seu discurso, proclamou bem alto e bem firme os seus ideais revolucionários, que não esmoreceram com a morte daquele que foi o seu companheiro de vida, antes mais se arraigam e mais se acentuam."

Por fim, Leal Júnior, usou da palavra encerrando o comício com a seguinte moção de protesto:

"Considerando que o direito de reunião e livre manifestação do pensamento é um direito primordial conquistado, adquirido e reconhecido em todo o mundo civilizado e;

Considerando que o Congresso Internacional Pró Paz convocado pelos elementos proletários e revolucionários de Ferrol, Espanha, e tendo por fim combinar uma ação conjunta dos proletários da Europa e da América no sentido de uma afirmação positiva e concreta contrária à guerra e favorável ao estabelecimento de uma paz real baseada na solidariedade efetiva desse proletariado, colimava um escopo altamente humanitário e de verdadeira defesa da civilização;

A massa popular reunida em comício organizado pela Comissão Popular de Agitação Contra a Guerra e realizado no Largo de S. Francisco de Paula, às 5 horas da tarde de hoje, deixa firmadas nesta moção as expressões de seu indignado protesto contra o ato do governo espanhol, proibindo aquele Congresso, perseguindo e deportando os delegados ao mesmo idos de outros países e assassinando, pelo instrumento da sua política, um dos delegados enviados por associações proletárias e libertárias do Brasil, o operário João Castanheira, como consta dos telegramas publicados pela imprensa desta cidade.



Rio de Janeiro, 12 de maio de 1915"
O comício do Rio de Janeiro terminou com grande passeata na frente da Federação Operária, no antigo Largo do Capim. Sucederam-lhe manifestações dos libertários do Paraná, Rio Grande do Sul e de diversas cidades do Estado de São Paulo. Os jornais operários e anarquistas também atacaram de rijo os beligerantes, inclusive distribuindo postais com alegorias de repulsa à guerra, produzindo grande impacto ao longo dos quatro anos em todo o Brasil.

São Paulo foi palco de greves insurrecionais em 1906 e 1907 pela conquista da jornada de oito horas diárias; em Santos as greves para conseguir as oito horas só terminaram em 1921.

O proletariado de tendência libertária procurava abrir caminho na selva capitalista deflagrando greves que vieram a desembocar na insurrecional de 1917, nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, por solidariedade.

Em 1918, movimento insurrecional explodiu no Rio de Janeiro com um saldo de três operários assassinados pela polícia carioca e cerca de meia centena de presos e deportados. Em 1919, Epitácio Pessoa aproveitou para expulsar do país três dezenas de anarquistas.

Contrariando as expectativas do governo, que acreditava que com as expulsões e deportações reduzia a pujança do movimento libertário, ainda em 1919, formou-se o Partido Comunista do Brasil, de que logo se arrependeriam seus organizadores ao saber que o governo soviético prendia, torturava, matava e expulsava anarquistas que haviam ajudado a derrubar a dinastia dos Romanov.

A burguesia vivia apavorada, exigia respostas imediatas aos "desordeiros..."

Uma onda nacionalista começava a formar-se no Brasil em oposição às "esquerdas". Em 1920 são expulsos do Rio de Janeiro mais de dois mil portugueses, pescadores de Matosinhos e da Póvoa de Varzim, vítimas desse patriotismo brasileiro. Muitos haviam chegado ao Brasil adolescentes, casados e já tinham filhos nascidos no Rio de Janeiro. O único pecado desses trabalhadores do mar era não quererem naturalizar-se brasileiros.

Uma lei vesga proibia-os de exercer suas profissões, acabando por servir ao integralista capitão Frederico Vilar, para mandar de volta gente honrada, com o aval do presidente Epitácio Pessoa.

Neste mesmo ano foram expulsos também anarquistas e anarco-sindicalistas italianos, portugueses, espanhóis, precipitando protestos de operários e intelectuais em todo o país e na Europa.

No sul, alemães e russos anarquistas marcavam suas presenças em oposição aos seus patrícios que pretendiam ficar ricos e aos brasileiros xenófobos exploradores.

Greve na indústria têxtil de Santa Catarina é o pretexto para expulsar dois anarquistas nascidos na Alemanha.

Em Porto Alegre o anarquista alemão Frederico Kniestedt abre espaço com os jornais Der Freie Arbeiter, Aktion, Alarm e o Sindicalista, os três primeiros publicados em seu idioma e o último em português.

Ainda no Sul, mais exatamente em Erebango, (Getúlio Vargas), fixaram residência e formaram uma comunidade várias famílias de russos da Ucrânia. Sua atuação anarquista é-nos contada por um dos seus componentes, Elias Iltchenco que visitamos já muito doente.

"No ano de 1920 os emigrantes de Getúlio Vargas - ex-Erechim - já tinham condições emocionais e de locomoção e começaram a formar grupos coesos, a reunir-se uma vez por mês. Nosso grupo tinha mais de 40 membros espalhados numa área de 40 a 50 km, englobando grupos de Floresta, Erechim, Erebango e outros lugares.

São dessa época:

União dos Trabalhadores Rurais Russos, de Getúlio Vargas (antigo Erechim). Seu presidente chamava-se Sérgio Iltchenco, o secretário Paulo Uchacoff e o tesoureiro Simão Poluboiarinoff;

União dos Trabalhadores Russos, de Porto Alegre. Esta tinha como presidente Niquista Jacobchenco;

União dos Trabalhadores Rurais Russos de Guaraní, Campinas e Santo Ângelo. Componentes: João Tatarchenco, Gregório Tatarchenco e outros.

União dos Trabalhadores Russos de Porto Lucena.

Um dos mais ativos militantes russos no Rio Grande do Sul, distribuidor do jornal Golos Truda, publicado na América do Norte de 1911 a 1963, e de toda a propaganda escrita que chegava da Argentina, chamava-se Demétrio Cirotenco. Durante mais de duas dezenas de anos foi o mais importante elemento de ligação, o aglutinador das Uniões de Trabalhadores em Erechim e Erebango principalmente. Depois sofreu um acidente e morreu, deixando um vazio entre os camponeses russos, que só em 1925 perderam a esperança de ver implantada em seu país uma sociedade de fundo e forma libertária."

O mais eminente elemento anarquista russo no Brasil, escritor, jornalista, teatrólogo, professor e conferencista carregava uma barba semelhante a de Kropotkine e chamava-se Ossef Stepanovetchi. Era natural da Ucrânia e marcou a sua presença no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba-Paraná, onde faleceu.

Os jornais mais lidos entre os emigrantes chegavam da Argentina, Canadá e dos Estados Unidos (Golos Truda) de 1918-1930; Golos Trujnica, de Detroit, de Nevada, Chicago e Nova Iorque, Dielo Trouda Probuzdenia.

Na segunda e na terceira décadas do século 20 o movimento anarco-sindicalista e anarquista chegou ao seu ponto mais alto. Além, dos jornais libertários, alguns militantes dispunham de espaços diários na imprensa comercial. Um deles nascido em Portugal, José Marques da Costa, tinha uma coluna diária no jornal A Pátria, do Rio de Janeiro, e publicou a seguinte nota: "Camilo Berneri na reunião do grupo Os Emancipados. Sexta-feira próxima, na sua sede à rua Buenos Aires, 265, às 20 horas em ponto, os anarquistas, simpatizantes e trabalhadores em geral terão oportunidade de ouvir uma brilhante Conferência de Camilo Berneri, sobre Giordano Bruno na Philosofia e na Renascença-Vida e Pensamento do grande filósofo da liberdade.

Entrada franca, tribuna livre


Os Emancipados
Da Rússia e da Itália chegavam também ao Brasil e fizeram grandes estragos no movimento libertário duas correntes políticas na época batizadas de Bolchevista e de Integralista.

A primeira orientada pela Terceira Internacional e a Internacional Sindical Vermelha, com sede em Moscou, agia em nome da Ditadura do Proletariado, no seio do Partido Comunista Brasileiro, criado em março de 1922 por 11 egressos do movimento ácrata e um socialista. Começaram disputando a direção dos sindicatos e acabaram por ajudar os governos de Artur Bernardes, Washington Luiz e Getúlio Vargas a reduzir sensivelmente o movimento libertário e os sindicatos livres. Em 1927 assassinaram os anarquistas Antonino Dominguez e Damião da Silva e feriram mais de 10 militantes no Sindicato dos Gráficos, à rua Frei Caneca, 4, sobrado, Rio de Janeiro. Assaltaram e roubaram o acervo do Sindicato dos Trabalhadores em Calçados, à rua José Maurício, 41. Ajudaram assim a encher o Campo de Concentração do Oiapoque e a implantar a ditadura nazi-fascista no Brasil com seus sindicatos verticais, controlados pelo Ministério do Trabalho.

A segunda corrente política veio dos porões do Vaticano com o nome de fascismo. No Brasil, por muitos anos, apelidado de Integralismo O projeto foi elaborado por D. Annunzio, Bertolotti, Papini e outros e tinha como "filosofia": "Poder tudo, absolutamente tudo! O único amor é o poder; o único fim é o poder; extremo sonho o poder!"

No Brasil, o chefe, Plínio Salgado, e seu alto comando reuniam a fina-flor dos desordeiros dispostos a tudo fazer para derrubar o governo e chegar ao poder: era o candidato a ditador Plínio lutando contra o ditador Getúlio.

Para Plínio, os decretos nº 19.433 de 26 de novembro de 1930; 19.770 de 19 de março de 1931 e 22.969 de 11 de abril de 1933 obrigando os trabalhadores a aderirem às fileiras "sindicais do Ministério do Trabalho, tornando-os eleitores com representantes profissionais na Assembléia Nacional Constituinte, num total de 40 membros, sendo 18 representantes dos empregados, 17 dos empregadores, dois funcionários públicos e três profissionais liberais". Queriam copiar Mussolini totalmente.

Vargas contava, para convencer os recalcitrantes, com a polícia política de Batista Luzardo, Felinto Müller, Emílio Romano, Serafim Braga e outros profissionais do argumento do cassetete.

No Rio de Janeiro, o jornal O Primeiro de Maio, de 1933, denunciava: "Em um só xadrez da polícia acham-se presos 50 proletários, sem nota de culpa. Muitos deles sofreram castigos corporais por terem protestado com a greve de fome contra a alimentação que nem para os cães prestava."

Em Porto Alegre, sob a orientação do anarquista Frederico Kniestedt, Aktion, de 1º de maio, fala das pretensões nazistas sobre o Brasil em idioma alemão. E no dia 19 de maio de 1933 um grupo armado invade a Federação Operária de São Paulo, arromba as portas das secretarias do Sindicato dos M. de Pão, Liga Operária da Construção Civil, Trabalhadores em Moinhos e Armazéns, União dos Canteiros e União dos Empregados em Cafés, destrói seus acervos e leva os detidos para a Central de Polícia, onde permanecem 24 horas. Quando chegaram o chefe de polícia e o delegado da "ordem política e social" determinaram que fossem em liberdade, que a ordem de prisão não partiu daquele departamento policial.

Em 1933, os jornais A Lanterna, A Plebe e O Trabalhador, a Federação Operária, o Centro de Cultura Social e as Ligas Anticlericais viviam de prontidão para não serem surpreendidos pelas marchas integralistas.

Em alguns bairros de São Paulo, os mensageiros do "Duce" trabalhavam desesperadamente no recrutamento dos "squadristi", que deviam envergar a camisa verde oliva e iniciar a matança, o incêndio e a destruição, fazendo reviver, em pleno século 20, a invasão dos bárbaros inimigos da ciência e da civilização.

O alerta vinha do Comitê Antifascista Libertário e tinha a data de agosto de 1933.

Os comandantes do Integralismo Brasileiro formavam pela seguinte ordem nos anos de 1933-1934: "Plínio Salgado (comandante nacional); Gustavo Barroso (vice-comandante e presidente da Academia Brasileira de Letras); Ribeiro Couto; 130 jornalistas do Distrito Federal que "assinaram o manifesto fascista dirigido aos intelectuais do Brasil". Ei-los: D. João Becker; Oswaldo Aranha (um dos comandantes da revolução getulista de 1930); Oliveira Viana (escritor); Madureira de Freitas, Osvaldo Chateaubriand (diretor do Diário da Noite); Tristão de Atayde (escritor e jornalista); Cláudio Ganns; Lourival Fontes; Hélio Viana; Américo Lacombe; Câmara Cascudo (escritor); os sacerdotes inscritos na Ação Integralista Don Nicolau de Flue Gut, os cônegos Matias Freire, Valfredo Gurgel, Helder Câmara, etc.; os professores da Faculdade de Direito Miguel Reale, Alpinolo Lopes Casali, Damião Neto, Domingos Cantola, Ângelo Simões de Arruda, Loureiro Júnior, Rolando Corbusier, Manuel Ferraz de Campos Salles Neto, Walter Moreira Sales, Homero de Sousa e Silva, Paulo Azevedo Barroso, Manuel Tavares da Silva, Guilherme Luis Riberio, Osvaldo de Sousa Shreiner, Antonio Arruda, Sebastião Martins de Macedo, Ziegler de Paula Bueno, Alcebíades Blanco, Ruiz de Arruda Camargo, Alfredo Buzaid, Ernani Silva Bruno, Epaminondas Albuquerque, Vicente Laporta, Sinval Gonçalves de Oliveira, Antonio Dourado, Alberto Zirondi Neto, Nicolino Amato, José de Barros Bernardes, Carlos Schmidt de Barros Júnior, Milton de Sousa Meireles, Agostinho Lúcio Correa, Arual Antonio dos Santos, Waldemiro Dalboni, Augusto de Oliveira Filho, Ítalo Záccaro, Vitório Nascimento, Cândido de Oliveira Barbosa, Francisco Luis de Almeida Sales, Francisco Gottardi, João José Pimenta de Castro, João Edson de Melo, José de Camargo Rocha, Rio Branco Paranhos, Júnio de Carvalho, José Cândido Silveira Lienert, Antenor Santini, Alceu Cordeiro Fernandes, Antonio Barbosa de Lima, José Vila do Conde e Ranulfo Oliveira Lima.

Com objetivos bem definidos e sem tutores políticos, formava-se no Rio de Janeiro a Aliança Estudantil Pró-Liberdade de Pensamento, cujo manifesto de fundação, A Lanterna, semanário anticlerical e libertário, São Paulo, 9 de novembro de 1933, resume:


"Companheiros
O clero romano que sempre tem vivido aliado aos governantes, embora o artigo 72 da Constituição de 1891 e seus parágrafos estabeleçam em nosso território a liberdade de pensamento, neste instante prepara novos golpes contra o direito de pensar, agir e de orar."

O A Plebe, quase ao findar do ano de 1933, alertava os antifascistas: "O Integralismo pretende, como o fascismo, escravizar e acorrentar o povo. Para não termos que chorar depois como energúmenos, defendamos agora a nossa liberdade como homens."

"Já soou o clarim da redenção humana! Unamo-nos contra todas as guerras, contra todas as tiranias, contra todos os paliativos que nos apresentam. A nossa felicidade, a fraternidade, a liberdade, residem em nós mesmos, na força coesa que há-de triunfar."

Em homenagem aos arruaceiros integralistas, o escritor Menotti del Picchia, candidato a "Duce", lança as bases do Fáscio Paulista com os Camisas Brancas.

Em Niterói (A Plebe, de 2 de dezembro de 1933), o presidente da Academia Brasileira de Letras, Gustavo Barroso, chefe integralista, atacou às bengaladas e quebrou um braço à jovem operária Nair Coelho, 16 anos, quando esta discursava contra os desordeiros fascistas, em cima de um banco de jardim e em Belo Horizonte; quem precisou fugir do Teatro Municipal foi o professor de línguas Casale. O povo, que assistia ao discurso do arruaceiro integralista, resolveu interrompê-lo, expulsar o vendilhão do palco.

Em São Paulo, depois da derrota que tiveram no Salão Celso Garcia, o "bando de Plínio Salgado marcou para o dia 24 de dezembro uma demonstração de força destinada a depredar os sindicatos e assassinar os sindicalistas mais ativos" (Nossa Voz, de 1º de dezembro de 1933): "Marchariam no centro de São Paulo 18 Centúrias (companhias) dispostas a exterminar canibalescamente os anarquistas e outros esquerdistas que se opusessem à sua passagem."

O trabalhador anarco-sindicalista resistia às exigências do Ministério do Trabalho. Contra ele tinha os bolchevistas aderentes desde a primeira hora, os patrões, a polícia, os integralistas invasores de sindicatos operários, que segundo substancioso manifesto do Sindicato dos O. em Fábricas de Vidros de São Paulo, fevereiro de 1934, "naquele momento pleiteavam na Assembléia Constituinte a pena de morte para o Brasil!"

Em março de 1934 a Federação Operária de São Paulo, com sede na rua Quintino Bocaiúva, 80, lançava três manifestos de grande significado. Um contra a Lei Monstro, outro contra a guerra e o terceiro em formato de encarte, enfocando as "organizações operárias, a legislação trabalhista, a lei de sindicalização, a caderneta profissional, a nova lei de férias, a nova Constituição e comunica as conferências de Edgard Leuenroth, Germinal Soler e Hermínio Marcos".

Do Rio de Janeiro, sob o comando do acadêmico Gustavo Barroso, chegavam à Praça da Sé "500 guardas verdes de segurança", tropas de choque, treinados para imobilizar opositores. A polícia também montou metralhadoras em pontos estratégicos para coibir possíveis ataques aos integralistas, ainda "bem-vistos" pelo governo. Além do grande contigente policial, o coronel Arlindo de Oliveira tinha 400 homens do 1º, 2º e 6º Batalhões de Infantaria, do Corpo de Bombeiros e Regimento de Cavalaria no local.

A parade de integralistas contava com a presença de 10 mil soldados do Sigma dentro de suas camisas verdes novinhas em folha empunhando grandes estandartes com o símbolo do integralismo.

Nas imediações da Sé haviam começado a formar-se grandes agrupamentos de curiosos de todas as ideologias. E mal a coluna alcançou a escadaria da Catedral ouviram-se gritos de "morte ao fascismo", "Abaixo os Camisas Verdes" e em seguida tiros. Diz-se que foi uma metralhadora da Guarda Civil Montada, em frente à rua Senador, que ao ser movimentada disparou acidentalmente. Outros garantiam que os tiros foram disparados por comunistas que estariam no meio da multidão aguardando o desfile. O certo é que começou o tiroteio antes da hora marcada pelos libertários para atacar os integralistas, desencadeando-se uma correria infernal. Gente fugindo e gritando, outros caindo feridos mortalmente e a parada e o juramento de fidelidade ao comandante integralista, Dr. Plínio Salgado, Fuhrer brasileiro, não aconteceu.

Correndo nas "estradas" abertas pelos integralistas com a colaboração dos "comunistas" do PCB e dos dirigentes do Partido Católico Brasileiro do Cardeal Sebastião Leme, assessorados por "50 juristas", Getúlio Vargas não teve maiores dificuldades em implantar o Estado Novo, que durou até 1945.

Em síntese, os anarco-sindicalistas e anarquistas do Brasil realizaram:

Primeiro Congresso Operário Brasileiro - Centro Galego, rua da Constituição, 30-32, Rio de Janeiro, de 15 a 20 de abril de 1906. Ao todo 12 sessões. Discutiram 23 temas previamente acertados e um acessório. Compareceram delegados de 23 entidades de cinco estados do Brasil. Esteve presente o engenheiro italiano fundador da Colônia Cecília, Giovani Rossi.


Segundo Congresso Operário Brasileiro - Centro Cosmopolita, rua do Senado, 215, Rio de Janeiro, de 8 a 13 de setembro de 1913. Ao todo os trabalhadores anarquistas e anarco-sindicalistas realizaram 12 sessões, debateram 24 temas com a presença de 117 delegados de 8 estados, sendo dois federações estaduais, cinco federações locais, 52 sindicatos e quatro jornais libertários.


Terceiro Congresso Operário Brasileiro - Sede da União dos Trabalhadores em Fábricas de Tecidos, rua do Acre, 19, Rio de Janeiro, de 23 a 30 de abril de 1920. Efetuaram 23 sessões com a presença de 39 organismos de 11 estados do Brasil.


Primeiro Congresso Estadual de São Paulo - Teve lugar no Salão Excelsior, rua Florêncio de Abreu, 29. Ao todo foram discutidos três temas principais, de 6 a 8 de dezembro de 1906. Objetivo: Pôr em prática as resoluções do 1º Congresso Nacional do Rio de Janeiro.


Primeira Conferência Estadual de São Paulo - Realizada em 1907 com o propósito de elaborar e aprovar os temas para o 2º Congresso Estadual. Ao todo discutiram 22 temas.


Segundo Congresso Estadual de São Paulo - Realizado nos dias 7 e 8 de abril de 1908. Dele participaram 22 organizações operárias comprometidas com o anarco-sindicalismo.


Primeiro Congresso Estadual do Rio Grande do Sul - Teve lugar nos dias 1º e 2 de janeiro de 1898 com a presença de delegados de 10 associações, um jornal e um grupo anarquista. Foi o primeiro encontro de trabalhadores com idéias sociais no Brasil.


Segundo Congresso Operário Estadual do Rio Grande do Sul - Na rua Comendador Azevedo, 30, dias 21 a 25 de março de 1920. Estiveram presentes delegados de 30 associações todas comprometidas com o sindicalismo revolucionário.


Terceiro Congresso Operário do Rio Grande do Sul - De 27 de setembro a 2 de outubro de 1925. No total foram 12 sessões com a presença de delegados de 23 entidades operárias e do Comitê Pró-Presos Sociais e de dois jornais. Foi aprovada uma Declaração de Princípios da AIT e criado um Pacto de Solidariedade Internacional Anarquista.


Quarto Congresso Operário do Rio Grande do Sul - clandestino em data que não ficou registrada. Realizaram três sessões durante dois dias com a presença de 16 entidades operárias, dois jornais, sies grupos anarquistas, vários militantes de São Paulo refugiados naquele estado do sul do Brasil (Florentino de Carvalho, Domingos Passos e outros) e delegados do Uruguai, Paraguai e Argentina.


Primeiro Congresso da Federação de Trabalho do Estado de Minas Gerais - Realizou-se em Belo Horizonte em junho de 1912. Ao todo foram debatidos e aprovados sete temas.


Congresso Operário do Paraná - Realizou-se no ano de 1907. Contou com a presença da Federação Operária, fundada por italianos remanescentes da Colônia Cecília, com o Grupo Filo-Dramático, 12 associações operárias e o delegado do jornal O Despertar, fundado e dirigido pelo anarquista italiano, expulso do Brasil em 1919, Gigi Damiani.


Outros Congressos - Os trabalhadores anarco-sindicalistas brasileiros participaram ou marcaram presença no Congresso dos Operários Chapeleiros Sul-Americano, realizado na Argentina e Uruguai, em julho de 1920. As pesquisas deixam perceber que os anarquistas estiveram na linha de frente de todos os congressos anarco-sindicalistas e ainda realizaram os seus.


Conferência Libertária de São Paulo - Rua José Bonifácio, 39-2º andar. Ao todo realizaram sessões nos domingos 14, 21 e 28 de junho, 5, 12 e 26 de julho de 1914. O objetivo principal era preparar e indicar dois delegados para representar o Brasil no congresso anarquista de Londres que não chegou a acontecer por causa da guerra.


Congresso Anarquista Sul-Americano - Realizou-se no Rio de Janeiro de 18 a 20 de outubro de 1915 na sede da Federação Operária, praça Tiradentes, 71, sobrado. Estiveram presentes delegados do Brasil, da Argentina e do Uruguai.


Congresso Internacional da Paz - Realizado de 14 a 16 de outubro de 1915. Seu ponto de debates foi a sede da Federação Operária, na praça Tiradentes, 71, Rio de Janeiro, com a presença de delegados da Federación Obrera Regional Argentina, delegados do Chile e do Uruguai.


Congresso Anarquista do Brasil - Realizado na Nossa Chácara, no bairro de Itaim, São Paulo, de 17 a 19 de dezembro de 1948. Este marca o ressurgimento do movimento anarquista no Brasil após a derrubada da ditadura de Getúlio Vargas. Contou com a presença de anarquistas de vários pontos do Brasil e diversos militantes italianos, espanhóis e portugueses residentes no Brasil ou de passagem.


Encontro Anarquista na Urca - De âmbito nacional. Teve lugar nos dias 9 a 11 de fevereiro de 1953 na rua Osório de Almeida, 67, no Rio de Janeiro, com a presença de mais de três dezenas de anarquistas. Foi um encontro muito proveitoso.


Congresso Anarquista do Brasil - Realizado de 26 a 29 de março de 1959 em Nossa Chácara, no Itaim, São Paulo, com grande presença de militantes de todo o país, exilados espanhóis e alguns italianos. Foi aprovada a reativação dos Centros de Cultura Social e fundada a Editora Mundo Livre, do Rio de Janeiro. Ao todo foram debatidos e aprovados 10 temas.


Encontro dos Libertários Espanhóis Exilados - Foi na sede do Centro de Cultura Social, na rua Rubino de Oliveira, 85, São Paulo, nos dias 7 e 8 de outubro de 1961. Estiveram presentes anarquistas brasileiros e exilados da CNT e da FFLL.


Encontro Anarquista - São Paulo de 20 a 22 de abril de 1962. Reuniram-se em Nossa Chácara 100 militantes anarquistas de todo o Brasil, incluindo alguns companheiros estrangeiros. Foram realizadas cinco sessões muito proveitosas.


Décimo Encontro Anarquista - Realizou-se nos dias 15 a 17 de novembro de 1963. Reuniram-se para tratar do rumo do movimento anarquista no Brasil mais de 100 militantes, Os assuntos foram divididos em seis temas principais.


Maio de 1964 - Em Nosso Sítio. Encontro clandestino de avaliação dos anarquistas do Rio de Janeiro e de São Paulo para acertar os rumos diante da ditadura militar implantada em 1º de abril do mesmo ano. Saíram desse encontro algumas resoluções para resguardar o acervo dos anarquistas.



Encontro em Nosso Sítio - Realizado em 1968, em Mogi das Cruzes, São Paulo. Clandestino.
Encontro dos Grupos Pró COB - Realizado em maio de 1986 na rua Rubino de Oliveira, 85.

O movimento libertário do Brasil participou também do Congresso de Ferrol, Espanha em 1915, com três delegados. Em 1928 com um delegado indireto e depois de 1945 enviou como delegado à França Joseph Tibogue, e mensagens de apoio aos demais congressos.

A trajetória do anarquismo no Brasil teve a participação de uma confederação, várias federações, mais de 100 grupos especificamente libertários, seis editoras, três livrarias, mais de uma dezena de escolas racionalistas, duas universidades populares, uma intensa propaganda através do teatro ácrata, possui uma propriedade comprada pelos anarquistas, desde 1939, com moradias modestas e arquivo em prédio próprio. Foi uma sementeira que germinou, e hoje alimenta pesquisas, teses de doutoramento e sensibiliza várias editoras comerciais para publicá-las.

No Rio de Janeiro, com o falecimento de José Oiticica em 1957, três militantes libertários tiveram a idéia de formar o Centro de Estudos Professor José Oiticica, na sala onde o mestre dava aulas, à Av. Almirante Barroso, 6-sala 1.101. Nos dias seguintes os três realizaram uma reunião na Avenida 13 de Maio, 23, sala 922, e resolveram procurar companheiros afastados do movimento por razões diversas e convidá-los para fazer parte do centro e subscrever sua ata de legalização em 22 de julho de 1960. (O centro começou suas atividades em 1958)

Em 1969, um "punhado" de militares da aeronáutica rebentaram a porta aos coices, carregaram parte do acervo cultural, máquina de escrever, mimiógrafo e outros objetos "subversivos", depois foram nas moradias dos diretores do centro, "confiscaram livros, etc.", prenderam-nos e formaram um processo contra 16, impernunciando um. Torturaram alguns detidos e finalmente levaram-nos a um julgamento que durou até 1972.

O Centro de Estudos do Professor José Oiticica, durante sua existência (12 anos), fundou a Editora Mundo Livre por cotas, editou cinco livros, promoveu curso sobre Anarquismo no Teatro Carioca, recebeu anarquistas da América e da Europa, conduziu várias campanhas de protesto e apoio, realizou mais de uma centena de cursos e conferências, e parte de suas atividades foram anunciadas pela imprensa. Acabou por força da ditadura militar.

Não se pode ignorar também os diários: A Plebe, São Paulo, 1919; A Hora Social, Recife, 1919; Voz do Povo, Rio de Janeiro, 1920; Vanguarda, São Paulo, 1921-1923; A Lanterna, São Paulo, 1901-1934. Os semanários: O Amigo do Povo, São Paulo, 1903; A Terra Livre, São Paulo-Rio de Janeiro, 1907-1910; La Bataglia, São Paulo, 1904-1913; Remodelações, Rio de Janeiro, 1945-1947; Ação Direta, Rio de Janeiro, 1946-1959. As revistas: Remodelações, Rio de Janeiro, 1921-1922; Renascença, São Paulo, 1923; A Vida, Rio de Janeiro, 1914-1915; Revista Liberal, Porto Alegre, 1921-1924; e umas centenas de periódicos.

Um grupo de professores estudiosos do anarquismo promoveu curso na ABI (Associação Brasileira de Imprensa). O Grupo Anarquista José Oiticica, formado por novos militantes libertários, realizaram, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, nos dias 9, 16, 23 e 30 de julho de 1987, um curso de anarquismo envolvendo Problemas Atuais do Socialismo; Anarquismo Hoje e Movimentos Alternativos; Movimento Sindical e Anarco-Sindicalismo; e O Estado Hoje. Teve o apoio do Centro de Cultura Social de São Paulo, a Sub-Reitoria 5, a Comissão de Organização Estudantil, Comissão Cultural do IFCS, e mesmo sendo pago, a freqüência foi boa, o salão ficou literalmente cheio.

No Rio Grande do Sul, grupos de libertários e simpatizantes comemoram o Centenário dos Mártires de Chicago e meio século da Revolução Espanhola, os 67 anos do fuzilamento de Francisco Ferrer e outros eventos.

Na capital do Brasil os anarquistas realizaram um Simpósio Libertário e fundaram a Editora Novos Tempos, que já produziu várias obras de real valor literário e cultura anarquista.

Em São Paulo as Universidades de Campinas, São Carlos e da Capital formaram valiosas bibliotecas de História Social, predominando publicações anarquistas e anarco-sindicalistas, e periodicamente promovem cursos sobre anarquismo, sempre com a participação de membros do Centro de Cultura Social que têm uma longa experiência militante e mantêm permanentemente em sua sede, na rua Rubino de Oliveira, 85-2º, no Brás, círculos de conferências libertárias. E apoiado pelos núcleos Pró COB (Confederação Operária Brasileira) e pela AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores), com sede na Espanha, o Centro de Cultura Social de São Paulo continua promovendo sessões comemorativas em defesa da natureza, contra a Bomba Atômica (no aniversário da explosão de Hiroshima), pela passagem dos 70 anos da Greve Insurrecional Libertária de 1917, na cidade de São Paulo, e debatendo a autogestão na luta social e as estratégias da luta sindical.

Em seus ciclos de palestras, temas como "Feminismo e a Reapropriação do Corpo", "Feminismo, Reinventando o Feminino e o Masculino"; "Feminismo, Questões que se Levantam"; "Recuperando a Memória" e "Cavernas do Estado de São Paulo". E nos cursos de Extensão Universitária tratam "O que é o Anarquismo"; "As Origens: Da Revolução Francesa a Proudhon"; "A Primeira Internacional: Marx, Bakunin e a Comuna de Paris"; "Anarco-Sindicalismo, Kropotkine e Malatesta"; "Anarquismo no Brasil"; e "Anarquismo Hoje, Liberdade e Autogestão". Estas iniciativas contaram com o apoio da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Em sua produtiva trajetória, o Centro de Cultura Social de São Paulo realizou recentemente um Ciclo de Educação Libertária enfeixando os seguintes temas: "O Movimento Anarquista e o Ensino Racionalista em São Paulo, 1912-1919"; "Escola e Trabalho no Brasil Hoje"; "Educação Popular: da Educação Libertária à Educação Libertadora"; "Organização e Poder: Estado, Escola, Empresa"; "A Educação pelo Trabalho, pela Pedagogia Freinet"; "Lutas Autônomas e Autogestão Pedagógica"; e "Uma Terapia Anarquista".

Este movimento ideológico vem sendo divulgado pela revista Autogestão, pelo próprio Boletim do Centro de Estudos Sociais, prospectos avulsos, cartazes e pela imprensa comercial que noticia alguns cursos.

Hoje, o anarquismo não assusta mais ninguém no Brasil. Palavra temida, ridicularizada, esta filosofia de vida resiste ao tempo e virou tema de teses de doutoramento, peças de teatro, novelas exibidas na televisão e filmes de curta e longa metragem.

Os anarquistas do Brasil – salvo os que se dizem e não se encontraram ideologicamente – continuam com Kropotkine: "Quem acha que uma instituição de formação histórica pode servir para devolver privilégios que ela mesmo desenvolveu mostra com isso a incapacidade de compreender o que significa a vida de uma sociedade, uma formação histórica.

Deixa de aprender a lei básica de todo o desenvolvimento orgânico, isto é, que novas funções requerem novos órgãos e que estes se devem criar por si mesmos."

Colaboraram para tornar possível a trajetória anarquista no Brasil: Fábio Luz, João Gonçalves da Silva, Avelino Foscolo, Ricardo Gonçalves, Benjamim Mota, José Martins Fontes, Ricardo Cipola, Rozendo dos Santos, Reinaldo Frederico Greyer, Pedro Augusto Mota, Moacir Caminha, José Ramón, Domingos Passos, João Perdigão Gutierrez, Florentino de Carvalho, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto, Orlando Corrêa Lopes, Manuel Marques Bastos, José Puicegur, Diamantino Augusto, José Oiticica, José Romero, Edgard Leuenroth, Felipe Gil Sousa Passos, Pedro Catalo, João Penteado, Neno Vasco, Adelino Pinho, Giovani Rossi, Gigi Damiani, Artur Campagnoli, José Marques da Costa, Rodolfo Felipe, Isabel Cerrutti, João Perez, Antonino Dominguez, Manuel Perez, Romualdo de Figueiredo, Juan Puig Elias, Maria Lacerda de Moura, Rafael Fernandes, Angelina Soares, Paula Soares, Elias Iltchenco, Frederico Kniestedt, Jesus Ribas, Cecílio Vilar, Oresti Ristori, Maria Lopes, Manuel Moscoso, Polidoro Santos, Amilcar dos Santos, Pedro Carneiro, Atílio Peçagna, Rudosindo Colmenero, Maria Silva, Maria Rodrigues, Pietro Ferrua, Pedro Ferreira da Silva, Câmara Pires, Ramiro de Nóbrega, Maria Valverde, José Simões, Manuel Lopes, Vitorino Trigo, Mariano Ferrer, Luisi Magrassi, Sofia Garrido, Joaquim Leal Junior, Lírio de Resende, Jaime Cubero e tantos outros intelectuais e operários a quem se homenageia, mesmo ausentes...


Edgar Rodrigues

Fonte:
http://www.sitinn.hpg.ig.com.br/hist_mov_anarquista.htm

domingo, 23 de outubro de 2011

Brasil e a Lìbia- A voz da Presidenta.

Dilma apoia Líbia, mas diz que morte de Kadafi não deve ser celebrada

Presidenta afirmou que o mundo deve apoiar e incentivar o processo democrático da Líbia

iG São Paulo | 20/10/2011 14:56 - Atualizada às 15:41

A presidenta Dilma Rousseff reagiu nesta quinta-feira às informações sobre a morte de Muamar Kadafi na Líbia dizendo que o mundo deve apoiar e incentivar o processo de transição democrática no país, mas ressaltando que uma morte não deve ser "comemorada". "A Líbia está passando por um processo de transformação democrática. Agora isso não significa que a gente comemore a morte de qualquer líder que seja", disse a presidenta.

Foto: AFP
Presidenta brasileira, Dilma Rousseff, recebida com honrarias militares em Luanda, Angola
A declaração foi feita pela presidenta à imprensa em Angola, durante seu giro pela África, após ser questionada sobre a captura e morte de Kadafi. Dilma havia sido informada pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, da captura do líder líbio e das imagens mostrando-o aparentemente morto.
"O fato de ela (a Líbia) estar em um processo democrático é algo que todo mundo deve – eu não acho que comemorar é a palavra – apoiar e incentivar. De fato o que nós queremos é que os países tenham essa capacidade de viver em paz e democracia."


A presidenta enfatizou a necessidade de reconstruir a Líbia e traçou paralelos entre a nação e Angola. Último país de seu giro de quatro dias pela África, Angola passou por uma guerra civil que durou décadas e só terminou em 2002.
A reação de Dilma à morte de Kadafi ocorreu ao mesmo tempo em que líderes de diversos países ocidentais comemoraram o "fim da tirania" com a morte do líder deposto, que esteve por 42 anos no poder.
O primeiro a fazer um anúncio público foi David Cameron, dizendo que hoje é um dia para o mundo lembrar as vítimas de Kadafi ou do terrorismo apoiado "pela Líbia". Ele citou a explosão de um avião da Pan-Am em 1988, cujo único condenado é um líbio, que, depois de anos em prisão escocesa, foi libertado em 2009 por conta de seu estado de saúde.
O presidente francês Nicolas Sarkozy afirmou que agora era o momento para a "reconciliação na unidade e liberdade", segundo informou a agência Reuters. Ele afirmou que os eventos anunciados nesta quinta representam o começo do processo democrático na Líbia.
Tanto o representante francês quanto o britânico estiveram em Trípoli em setembro, um mês depois da capital ter sido controlada pelos então rebeldes.
A morte de Kadafi, que estava foragido desde agosto, foi anunciada nesta quinta pelo premiê do CNT, Mahmoud Jibril. "Esperávamos por esse momento há muito tempo. Muamar Kadafi foi morto", disse Jibril durante uma coletiva na capital do país, Trípoli.

LÌBIA- Distante geograficamente, mas muito perto .....

Fonte CNN internacional, Globo internacional.

Vamos entender o que está acontecendo na Líbia? 




Nome Oficial: Grande Jamahira Árabe Popular Socialista da Líbia (Jamahiriya al-'Arabiya al-Libiya ash-sha'biya al-ishtirakiya)
Capital de Líbia: Trípoli
Área: 1.759.540 km² (17º maior)
População: 5.670.688 (2006)
Idioma Oficial: Árabe
Moeda: Dinar
Nacionalidade: Líbia
Principais Cidades: Trípoli, Benghazi, Misratah, Az Zawiyah




Originariamente povoada por tribos de nômades berberes, a Líbia esteve sob domínio árabe durante quase mil anos, de 643 a 1500, passando então a fazer parte do Império Otomano. Em 1911, a Itália conquistou a maior parte do território, com exceção das províncias de Tripolitânia e Cyrenaica, dominadas respectivamente em 1925 e 1930.
Após a Segunda Guerra Mundial, o território foi colocado sob administração franco-britânica. Em 1951, a Líbia tornou-se a segunda colônia africana, depois da África do Sul, a obter a independência, com o estabelecimento de uma monarquia constitucional e aclamação de Mohamed Idris al-Senousi, líder da ordem religiosa Senousi, como Rei Idris I.
O novo país, então entre os mais pobres do mundo, passou a depender da ajuda financeira internacional, sobretudo dos EUA e Inglaterra, que obtiveram o direito de instalar bases militares em território líbio. A descoberta do petróleo ocorreu em meados dos anos 50 e, em 1959, todas as principais empresas petrolíferas já atuavam no país. Em 1968, a Líbia era o segundo maior produtor de petróleo no mundo árabe, atrás apenas da Arábia Saudita.
A afluência proporcionada pelo petróleo, contudo, contribuiu para o agravamento das tensões sociais, na medida em que beneficiou apenas a elite do país. O surgimento do nasserismo, movimento populista baseado no nacionalismo árabe, idealizado pelo então presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, serviu para canalizar o descontentamento da massa popular excluída e marginalizada dos ganhos proporcionados pelo “boom” petrolífero. Em setembro de 1969, aproveitando-se da ausência do Rei Idris, em viagem no exterior, grupo de oficiais do Exército, liderado pelo Coronel Muammar Khaddafi, deu um golpe de estado e assumiu o poder.
Política Interna
Abolida a monarquia, criou-se a “República Árabe da Líbia”, governada por um “Conselho de Comando Revolucionário” liderado pelo Coronel Khaddafi e integrado por doze oficiais do Exército. Inspirado no populismo nasserista, o novo regime deu início à completa reorganização do sistema político e econômico, com a nacionalização de todas as empresas e propriedades estrangeiras e a criação, em 1971, do partido único “União Socialista Árabe”. Em 1977, criou-se o Congresso Geral do Povo, com funções de parlamento, e adotou-se a denominação de “Grande Jamahiriya Árabe Popular Socialista da Líbia” para o país (“Jamahiriya” significa Estado das massas).
No plano externo, a Líbia passou a apoiar o radicalismo árabe, adotando política de confrontação com o Ocidente e de aproximação com a União Soviética. Em 1982, como medida punitiva ao suposto patrocínio líbio a grupos terroristas árabes, o Governo norte-americano proibiu a importação de petróleo da Líbia. Em 1986, após um atentado a bomba numa discoteca em Berlim, resultando na morte de dois cidadãos norte-americanos, os EUA lançaram ataques aéreos contra alvos em Trípoli e Benghazi e impuseram sanções econômicas contra o país africano. No final dos anos 80, o Governo líbio foi acusado de envolvimento nos atentados contra aviões da Pan Am e da UTA, o que motivou a imposição de regime de sanções pela ONU, em março de 1992.

Com o embargo econômico, juntamente com a queda de preço do petróleo nos mercados internacionais, a situação econômica deteriorou-se rapidamente, fazendo com que o descontentamento popular aumentasse de modo considerável. Em 1993, grupo de altos oficiais do Exército liderou uma tentativa de golpe, prontamente debelada pelo regime, com a prisão de mais de 1500 pessoas e completa reestruturação da cúpula militar.
Muammar Al Khaddafi, “líder supremo da revolução”, exerce seu poder através dos comitês revolucionários, cujos integrantes nomeia. Esses comitês, além de desempenhar funções de polícia política, exercem controle sobre as Forças Armadas, órgãos de comunicação e demais instituições governamentais. Desde 1996, “comitês de purificação” têm procurado combater a corrupção, sobretudo na esfera da economia paralela que floresceu durante o regime de sanções.
A oposição ao regime limita-se a alguns grupos islâmicos atuantes no país, como o “Movimento dos Mártires Islâmicos” e o “Grupo Islâmico Militante”. Trata-se de movimentos pequenos e localizados, que não chegam a constituir ameaça ao regime. Suas ações limitam-se a ataques periódicos contra forças governamentais e campanhas publicitárias em jornais árabes e europeus.
Economia
Após um período de estagnação durante os anos 90, as perspectivas de desenvolvimento para a Líbia estão sendo significativamente alteradas. A suspensão das sanções da ONU, em 1999, permitiram a retomada do crescimento econômico e da captação de investimentos estrangeiros. A abolição definitiva das sanções, em setembro de 2003, vem estimulando a atividade econômica e as oportunidades de negócios ainda mais.


A economia baseia-se no setor petrolífero, responsável por 30% do PIB e 95% das receitas de exportação. Em 2004, essas exportações renderam 18,1 bilhões de dólares e, segundo se estima, poderão gerar acima de US$ 19 bilhões em 2005. Agricultura e indústria respondem, em conjunto, por cerca de 15% do PIB, com o setor de serviços representando os restantes 45%.
A política externa da Líbia
Com a tomada do poder pelo Coronel Khaddafi, em 1969, a política externa líbia passou a privilegiar o relacionamento com os países do mundo árabe, conjugando o fortalecimento do pan-arabismo com a adoção de uma política comum de hostilidade a Israel. No plano sub-regional, a Líbia tem encetado esforços para dinamizar a União do Magrebe Árabe (UMA), organismo de integração do qual faz parte juntamente com Marrocos, Argélia, Mauritânia e Tunísia.
O gradual isolamento do país no cenário internacional, a partir das primeiras sanções norte-americanas e culminando com a imposição do embargo pela ONU, reforçou, ainda mais, a tendência de aproximação com os países vizinhos. Com a Tunísia, superada uma crise de fronteira em 1985, a Líbia mantém relacionamento de grande cordialidade. Durante o regime de sanções, que incluiu embargo aéreo, a Tunísia oferecia trânsito livre em seu território para passageiros e cargas destinados ao país vizinho e dele procedentes.
A diplomacia líbia tem sido igualmente atuante no restante do continente africano. Ao longo dos anos 90, Trípoli conseguiu fortalecer parcerias importantes com os países subsaáricos, conquistando apoio contra a manutenção do regime de sanções da ONU. Em 1997, Trípoli sediou reunião da Organização da Unidade Africana (OUA), que, no ano seguinte, adotou resolução contrária à manutenção do embargo. Em setembro de 1999, na IV Cimeira Extraordinária da OUA, em Trípoli, Khaddafi propôs a retomada do pan-africanismo com vistas a uma verdadeira união política e econômica do continente. A Líbia teve ativa participação nas tratativas que levaram à criação da União Africana, em substituição à OUA.
O líder líbio procurou, ainda, desempenhar papel mediador em vários conflitos do continente, tendo patrocinado reunião na cidade líbia de Sirte entre o então Presidente da República Democrática do Congo (RDC), Laurent Kabila, e o Presidente Museveni, de Uganda, para buscar superar a guerra civil congolesa. Khaddafi também tem atuado nos esforços de resolução dos conflitos no Sudão e entre a Etiópia e Eritréia.
No que se refere à luta contra o terrorismo, o Governo líbio tem adotado iniciativas voltadas para a normalização de suas relações com a comunidade internacional. Khaddafi condenou os atentados contra as torres de Nova York, em setembro de 2001, e qualificou de diabólico o uso da bactéria Antraz contra a população norte-americana. Em 2002, a Líbia ratificou a Convenção da OUA para a Prevenção e a Luta contra o Terrorismo, dando mais um passo na projeção de nova imagem externa do país em relação ao tema.
O conflito entre Israel e Palestina também tem sido objeto de intensa atuação externa da Líbia. Nesse sentido, o líder líbio distribuiu, em 2002, o que chamou de “Livro Branco”, obra que consolida sua visão sobre a possibilidade de paz no Oriente Médio, propondo a criação de um Estado binacional – o Israteen – para israelenses e palestinos. Ressentido com a reação da comunidade árabe, que recebeu a proposta saudita com mais entusiasmo, Khaddafi tem ameaçado retirar-se da Liga Árabe (que, nos anos 90, tampouco haveria respondido, na medida esperada, à expectativa líbia de apoio contra as sanções internacionais impostas a Trípoli). Khaddafi declarou, em 2003, que “a Líbia é um país africano” e que “pertencer à Liga Árabe seria apagar sua identidade norte-africana”.
Abdel Rahman Mohamad Shalqam exerce, atualmente, a função de ministro das relações exteriores, cuja denominação oficial na Líbia é Secretário do Comitê Geral Popular da Comunicação Externa e CooperaçCom o firme intuito de superar o perfil radical que o caracterizou anteriormente, o Governo líbio vem-se empenhando em ampliar suas relações econômico-comerciais, como no caso dos países europeus, e em exercer maior protagonismo nos foros intergovernamentais. A Líbia tem manifestado interesse em ocupar um dos assentos permanentes a serem atribuídos à África no quadro da possível reforma do Conselho de Segurança da ONU.
Agora vamos as sanções
- Em março de 1992, em razão do alegado patrocínio líbio aos atentados terroristas que resultaram na queda de aeronaves da Pan Am (Lockerbie, Escócia, em dezembro de 1988) e da empresa francesa UTA (Níger, em setembro de 1989), o Conselho de Segurança da ONU adotou a resolução 748, determinando as seguintes sanções contra a Líbia:
  • proibição de vôos aéreos entre os territórios dos países membros da ONU e a Líbia;
  • proibição de venda de aeronaves, inclusive serviços de manutenção e peças de reposição;
  • proibição de fornecimento de material militar, inclusive peças e material correlato;
  • redução do nível e número de pessoal das missões diplomáticas líbias.
- Pela resolução 883, adotada pelo Conselho de Segurança em novembro de 1993, o regime de sanções foi reforçado ainda mais, passando a incluir :
  • congelamento de recursos financeiros do Governo líbio e empresas a ele ligadas, com exceção de operações decorrentes da venda de petróleo e produtos agrícolas;
  • fechamento das agências da “Lybian Airlines” no exterior;
  • proibição de fornecimento à Líbia de certos componentes usados na indústria petrolífera.
- Por sua vez, desde 1986 até 2004, com base no “risco à segurança nacional norte-americana”, os EUA aplicaram embargo unilateral contra a Líbia, fundamentado na Executive Order/12543, assinada pelo Presidente Ronald Reagan e renovada anualmente. Além disso, o Congresso norte-americano aprovou, em 1996, a chamada D’Amato Law, que pune empresas, nacionais ou não, que apliquem mais de quarenta milhões de dólares por ano no setor petrolífero na Líbia.

- Em abril de 1999, após longas negociações, o Governo líbio finalmente entregou os dois suspeitos do atentado de Lockerbie para julgamento na Haia. Com isso, no dia 8 de abril, o CSNU adotou declaração presidencial a respeito da conseqüente suspensão das sanções contra a Líbia.

- Em carta entregue em 15 de agosto de 2003 ao Presidente do CSNU, a Líbia assumiu, oficialmente, a responsabilidade pelo atentado de Lockerbie. Na ocasião, Trípoli concordou em indenizar as famílias das vítimas. Em 12 de setembro de 2003, o Conselho adotou a Resolução 1506, que declara extintas as sanções impostas à Líbia pelas Resoluções 748/1992 e 883/1993.

- A suspensão do embargo norte-americano foi oficialmente anunciada em abril de 2004 e veio a ser revogada por decreto presidencial de setembro. As relações diplomáticas bilaterais ainda não foram plenamente restabelecidas, entretanto, na medida em que a Líbia permanece na lista norte-americana de países que patrocinam o terrorismo. Em setembro de 2004, em Nova York, à margem da Assembléia-Geral da ONU, ocorreu o primeiro encontro de um Secretário de Estado dos EUA com seu homólogo líbio desde os anos 70. Buscando modificar sua imagem de simpatizante do terrorismo, o Governo líbio não apenas condenou, veementemente, os atentados de 11 de setembro nos EUA, mas também manifestou apoio à intervenção no Afeganistão.

Agora, vamos finalmente a CRISE?
  • Presidente que é visto como ditador da Líbia, Muammar Kadhafi, está no poder há quase 42 anos. A Líbia fazia um governo muitas vezes considerado ameaçador para as organizações internacionais ou seja, ajudando terroristas em alguns momentos, e com isso vem sofrendo diversas sanções econômicas e políticas ao longo dos governos. Essas sanções resulta em uma grande insatisfação popular.
  • Mas, além disso, e mais importante, é um país rico em exploração e venda de petróleo, porém, essa riqueza não é repassada para a população, e os principais motivos das revoltas são alto desemprego, alto preço dos alimentos, importação da maior parte dos alimentos necessários ao abastecimento, gastos exorbitantes com arsenal militar.
  • É importante analisar ainda, que essa crise política no Oriente Médio e Norte da África, (países exportadores de petróleo e com orientação religiosa islâmica), não se restringe só a Líbia e ao Egito. Países como Tunísia (que derrubou o presidente Zine El Abidine Ben Ali) Jordânia, Iêmen, Argélia, Mauritânia, Marrocos, Sudão e Omã também contam com sérias pressões populares.
  • As cidades de Benghazi é a segunda maior do país e palco dos protestos, Tobruk e Derna, foram tomadas por oposicionistas. Mas cidades mais próximas à capital Trípoli, como Minsratah e Zawiya também ficaram sob controle dos rebeldes. O comando ficou na mão de "conselhos populares" que foram se formando ao longo dos últimos dias e depois se uniram em torno do Conselho Popular Líbio, com sede em Benghazi, no leste, foco dos protestos.
  • A dura repressão às manifestações provocou milhares de mortes, e a situação evoluiu praticamente para uma guerra civil. Vários países, liderados pelos EUA, começaram a protestar e a exigir a saída imediata de Kadhafi.
  • Segundo a ONU e organizações de direitos humanos relataram abusos e ataques a civis. Em pronunciamentos transmitidos pela TV estatal líbia, o líder Kadhafi disse que só deixará o país morto, “como um mártir”.
Em 17 de março, o Conselho de Segurança da ONU exigiu um cessar-fogo imediato e autorizou o uso de forças militares contra o regime líbio. As operações militares, com EUA, Reino Unido, França, Itália e Canadá à frente, começaram dois dias depois.


  Muamar Kadafi morre.


Depois de 42 anos, a era Muamar Kadafi terminou de vez nesta quinta-feira. O novo governo da Líbia anunciou que o ex-ditador, que tomou o poder em 1969 e estabeleceu uma brutal tirania no Norte da África, morreu pouco depois de ser capturado, oito meses depois do início de uma mobilização popular contra seu regime. De acordo com fontes líbias, ele ficou ferido na ação para prendê-lo. Uma foto divulgada pela agência de notícias France-Presse mostra Kadafi coberto de sangue. O corpo foi levado para um local mantido sob sigilo, por razões de segurança, disse uma fonte do novo governo.
De acordo com um comandante do Conselho Nacional de Transição da Líbia (CNT), Kadafi foi capturado pelas forças rebeldes em sua cidade natal, Sirte. A informação foi revelada pela primeira vez pela emissora de televisão local Libya lil Ahrar, citando como fonte o Conselho Militar de Misrata. Pouco depois, a rede Al Jazira revelou ter informações de que Kadafi tinha sido morto. A informação foi confirmada em seguida pelo Conselho Nacional de Transição (CNT).
Abdel Majid Mlegta, do CNT, afirmou à agência de notícias Reuters que Kadafi foi atingido durante um ataque de forças da Otan contra um comboio de forças do antigo regime. Kadafi tentava fugir escondido no comboio. Ele foi ferido nas duas pernas e também atingido na cabeça. Essa fonte já dava como confirmada a morte de Kadafi. "Houve muitos disparos contra seu grupo e ele morreu", informou Mlegta. Um combatente do CNT disse que, ao ser capturado, Kadafi gritou: "Não atirem, não atirem."
Ao fazer o anúncio da prisão de Kadafi, o comandante do CNT disse que ele tinha sobrevivido, mas confirmou que ele tinha sido ferido. "Ele foi capturado e está muito ferido, mas ainda está respirando", afirmava Mohamed Leith. O representante do CNT afirmou que chegou a ver Kadafi e que o ex-ditador estava vestido com um uniforme cáqui e um turbante.  Também nesta quinta-feira, um médico afirmou que Aboubakr Younès Jaber, ministro da Defesa do regime deposto de Kadafi, foi morto.
Reprodução de TV
Muamar Kadafi ensanguentado depois de sua captura, em Sirte, em imagem da TV árabe Al Jazira
Muamar Kadafi ensanguentado, em imagem da TV árabe Al Jazira

O médico Abdou Raouf afirmou ter identificado o corpo do ex-ministro Jaber, levado na manhã desta quinta para o hospital de campanha de Sirte. A notícia da captura de Kadafi chega depois do anuncio da completa queda da SIRTE, a última região que as forças fiéis ao ex-líder ainda controlavam. O Tribunal Penal Internacional está investigando sua detenção. Os Estados Unidos e a Otan afirmam estar aguardando informações sobre o destino do ex-tirano.
Muamar Kadafi morreu na mesma região onde nasceu. Sirte também foi o último reduto do antigo regime, que acabou de vez nesta quinta-feira. O CNT, movimento da rebelião que derrubou o regime de Kadafi em 23 de agosto, esperava a queda desta cidade estratégica, 360 quilômetros ao leste de Trípoli, para proclamar a "libertação total" da Líbia. "Sirte foi totalmente conquistada e, com a confirmação da morte de Kadafi, a Líbia está completamente livre", declarou Khalifa Haftar, funcionário de alto escalão do CNT.
O fim de Kadafi é espetacular e ao mesmo tempo anticlimático. Quanto mais demorasse, mais complicado o esforço de uma transição para alguma coisa na Líbia. Vamos por ora, neste minuto, saudar o fim de um carrasco. Para alguma coisa a primavera árabe serviu. Muitas esperanças estão murchando. Sabemos dos perigos óbvios, que coisa ruim pode ser substituída por coisa ruim ou até pior. Mas no “big picture” até que a Líbia tem chances: tem petróleo e tem menos problemas étnicos e religiosos que outros países da região. Tem também o apoio ocidental.