domingo, 10 de junho de 2012

Azulejos valiosos


Quatro casarões do século XIX são alvo de roubos e depredações em Belém



A capital paraense já foi considerada uma das cidades brasileiras com maior variedade de azulejos, que coloriam a fachada e o interior de residências. Boa parte deles foi importada da Europa, principalmente na virada do século XIX para o XX, auge da produção de borracha. Dos anos 1970 para cá, no entanto, mais de 50% dos azulejos se perderam. Este ano, a situação parece ter se agravado. Desde fevereiro, pelo menos quatro casarões foram alvo de vandalismo. O assunto vem se espalhando pela capital paraense, e há até quem suspeite de encomenda de roubos.
Uma das construções depredadas é o Palacete Vítor Maria da Silva, batizado com o nome de seu antigo dono, inspetor de obras do estado do Pará no governo Augusto Montenegro (1901-1909). Os azulejos foram encontrados dias depois, em cacos, e estão no Laboratório de Conservação e Restauração da UFPA (Lacore). “O casarão reflete bem a realidade dessa sociedade que vivia com o lucro da borracha. Ali tinha tudo do melhor, além de vários tipos de azulejos da França, da Alemanha e de Portugal, espalhados por quase todos os cômodos. Recebemos aqui no laboratório mais de 1.000 fragmentos de azulejos e estamos montando o quebra-cabeça para ver a que painéis pertencem. Vamos limpar e organizar o material até o fim de junho. Só depois será decidido o que pode ser restaurado ou refeito”, explica Thais Sanjad, coordenadora do Lacore.
Há cerca de um ano, o Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Dphac) iniciou o processo de tombamento do casarão. Segundo a diretora Thaís Toscado, o procedimento é demorado, por ser necessário documentar detalhes arquitetônicos e históricos da construção. “No caso deste imóvel, os detalhes se tornam mais elaborados, dado o nível artístico dos painéis de azulejo. Mas o local já foi interditado. Além disso, a Procuradoria-Geral do Estado encaminhou um processo à Justiça estadual, que estabeleceu multa caso o casarão não seja restaurado num prazo mínimo de três meses e máximo de um ano”, afirma a diretora do Dphac.
A proteção do palacete parece encaminhada, mas a situação na cidade gera preocupação, já que outros três casarões tiveram azulejos do século XIX furtados. “Foram roubos pontuais muito estranhos. O Palacete Vítor Maria da Silva tem um dos interiores mais bonitos da cidade, mas por fora é muito simples, não chama atenção. As pessoas que invadiram devem ter sido encarregadas de roubar azulejos. Ou então foi uma tentativa de desqualificação da propriedade, para que se possa fazer o que quiser com o patrimônio”, suspeita a arquiteta e urbanista Claudia Nascimento. A superintendente do Iphan no Pará, Maria Dorotéa Lima, concorda: “Tudo indica que há um mercado de azulejos na cidade, até porque os exemplares fora das áreas tombadas não têm qualquer proteção, o que pretendemos fazer em breve”, diz. Enquanto as investigações não forem concluídas, os poucos exemplares de azulejos que ainda restam aumentam cada vez mais de valor, para a alegria dos ladrões.

Fonte: Revista Nacional de História.

Um comentário:

  1. Teu interesse por esse povo é bastante antigo, talez fosse algo pra dedicar um bom artigo e publicá-lo. Parabéns teu blog continua muito bom!!!

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