terça-feira, 21 de junho de 2011

Uma Visão do Proletariado.

Trazer a representação do mundo real para dentro de seus romances era o grande desafio dos escritores no século XIX. Victor Hugo, Baudelaire, são alguns que saíram a campo para observar o homem em seu habitat.
O resultado é uma descrição do tumultuado e nervoso universo que compunha as cidades de Londres e Paris. Capitais de duas grandes nações do velho mundo, mas que pela pena do romancista, nos traz um agudo olhar sobre até onde sonhos podem ser desfeitos, despertados para a dura realidade das ruas. Com diz Bresciani: “colocaram-se na posição de observadores das cenas de rua. E, nas ruas, a multidão é uma presença” (p.8)
A multidão frenética de dia era composta de figuras das mais diversas. Os trabalhadores dos escritórios que contavam os passos à espera do horário do trabalho, os carregadores que corriam desajeitados, as lavadeiras com suas trouxas de roupa, os carteiros de porta em porta. “A multidão, sua presença nas ruas de Londres e Paris do Sec.XIX, foi considerada pelos contemporâneos como um acontecimento inquietante.” (p.10)
O processo industrializador além de proporcionar mudanças políticas e econômicas na Europa, também influenciou no cotidiano das pessoas provocando transformações em suas atitudes como diz Bresciani (1984): “Gestos automáticos e reações instintivas em obediência a um poder invisível modelam o fervilhante desfile de homens e mulheres.” Esta mudança além de transformar as ações, modifica o cenário da Europa: “a paisagem urbana uma imagem freqüentemente associada às idéias de caos, de turbilhão, de ondas, metáforas inspiradas nas forças incontroláveis da natureza.” (p.10)
Para Benjamin que foi um estudioso que se dedicou a multidão e ressalta a importância decisiva do olhar para quem vive nas grandes cidades. Para ele a vida cotidiana assume a dimensão de um permanente espetáculo. Onde o olhar é a maneira mais interessante de analise e conhece a multidão individualizada num olhar focando.
Um ponto interessante é o acaso que é um determinante fundamental dos encontros nas grandes cidades. “A incerteza quanto ao que se vai encontrar é compensada pelo encontro certo, cotidianamente confirmado, com o fluxo formigante, caótico, da multidão” (p.12). Baudelaire análise a Paris da metade do século, como sendo duas, a Paris do dia e a da noite. A primeira “de manha cedo, ainda madrugada, ‘a Sena se encontra deserto e Paris, como os velhos trabalhadores, esfrega os olhos enquanto empurra suas ferramentas: é a hora em que o trabalho desperta’. A segunda, os personagens da noite são outros. ‘A noite encantadora’ é amiga do criminoso; até no movimento lento e silencioso do passo do lobo se faz sua cúmplice.” (p.12)
A noite também representava para os trabalhadores o momento do descanso onde retorna ao leito. Os combates do dia se interrompem, os soldados o trabalho repousam, os demônios despertam e preenchem o espaço urbano. A multidão é outra. Quando a noite chegava, rostos mudavam, comportamentos afloravam e nem sempre de maneira discreta. O formigar das prostitutas, os escroques atentos junto às mesas de jogo, os ladrões na suas labutas silenciosas. Outro aspecto identifica e caracteriza a noite da cidade grande onde o barulho da noite se faz com outros sons: o assobio das cozinhas, a algazarra dos teatros, o toarem das orquestras, o ruído áspero e tenso das mesas de fogo.
Para Janin a noite da cidade grande é considerada para ele com sendo assustadora, onde a nação noturna se põe em marcha. Em meio as trevas que tudo dominam, clarões de luz indicam a presença dos catadores de lixo, gritos interrompidos denunciam os ladrões em plena ação, passos abafados dão conta do vai e vem das prostitutas.
Segundo Victor Hugo, a imagem do caos de uma multidão sem nome é encarregada da representação do movimento não domado de uma massa humana cujos componentes se subtraem a qualquer regularidade visível imediata.

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