terça-feira, 24 de maio de 2011

Pedaços

Olá a todos como não consegui contatar o Brique por uma súbita ida ao hospital neste final de semana, resolvi postar uma parte de meu trabalho de monografia sobre a secularização no Cemitério de Cruz Alta, mas neste capítulo falo da simblogia da morte e nossa perspectiva ante ela. Bem é só um pedacinho pra não ficar massante é claro o trabalho tem fotos essa parte não, por ser um fragmento, mas se quiserem mais é só pedir ok, bom inicio de semana a todos.

Segue: Secularização de uma Necrópoli: Cemitério Municipal de Cruz Alta
Autora> Juliana Abreu pereira


1.3 As nossas marcas ante a morte: Simbologia

Acerca da simbologia da morte em torno dos rituais mortuários, feitos neste mundo real construído e instituído por grupos sociais de diversos tempos e espaços, ditos primitivos, civilizados, urbanos ou rurais.  Polaridades que se definem a partir da construção do mundo pelos indivíduos em tempo histórico e que se opõem, definindo os limites de cada um, a saber, o sagrado e o profano. Tema este que não poderia deixar de recorrer a Eliade para apontar conceitos de sagrado e profano, cuja obra "O Sagrado e o Profano" - A essência das religiões, não só interessa aos estudiosos de religiões, como é objeto de estudos do historiador, e todos que dela desfrutam. Mircea distingue o historiador das religiões do historiador pelo fato de que aquele lida com fatos que, embora históricos, revelam um comportamento que vai além dos comportamentos históricos do ser humano; o homem conhece outras situações além de sua condição histórica.
            A primeira condição para se entender as concepções de sagrado e profano, de acordo com Mircea, é considerar o homem um ser essencialmente religioso (homo religiosus) para quem Deus não é apenas uma idéia , uma noção abstrata, uma alegoria moral e sim um poder terrível que pode se manifestar e quem sabe lançar sua ira.
            A partir dessa primeira premissa é possível entender o papel das religiões em todas as sociedades e o poder que elas exercem sobre a visão de mundo dos diversos grupos sociais a elas atreladas. Assim, sagrado e profano constituem duas modalidades de ser e estar no  mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo de sua história.
Nesse sentido ela coloca como uma primeira definição do sagrado, que ele se opõe ao profano, sendo assim, o homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta e se mostra como qualquer coisa absolutamente diferente do profano. Ao ato de manifestação do sagrado, ele propõe o termo hierofania - algo de sagrado que nos é mostrado, exemplo: a manifestação do sagrado num objeto qualquer, como uma pedra, uma árvore, uma fonte. Algo diferente de uma realidade que não pertence ao nosso mundo, mas que faz parte do nosso mundo profano. Essa relação aparentemente irracional, torna o objeto do mundo profano, portanto profano ou profanado, sagrado pois, a ele foi concedido poder de ser canal de manifestação do sagrado[1] .
Por mais difícil que seja entender racionalmente essas manifestações, é possível compreender que não se trata da veneração da pedra ou da árvore e sim do sagrado que ela representa, esse objeto torna-se outra coisa e continua a ser ele mesmo, porque é parte integrante do meio cósmico em que ele vive. Este pensamento é naturalmente assimilado pelos grupos sociais primitivos e tendem a viver o mais possível nessa realidade do sagrado. A exemplo das Estatutárias.
O sagrado equivale ao poder, e portanto à realidade, logo, potência sagrada significa ao mesmo tempo, realidade, perenidade e eficácia. A oposição sagrado/profano é na realidade a oposição entre o real e irreal. O homem religioso deseja ardentemente ser e participar da realidade e saturar-se de poder.
Mircea considera que a existência profana não se encontra em estado puro, pois o homem não consegue abolir completamente o comportamento religioso, mesmo que tenha optado por uma vida profana ou isenta de religiosidade, assim ao analisarmos sociedades modernas e urbanas, industrializadas, podemos encontrar manifestações consideradas como profanas , mas que carregam implicitamente simbolismos mágicos ou religiosos que revelam uma outra realidade, diferente daquela que ele experimenta no seu cotidiano, como por exemplo, certos espaços privilegiados: paisagem de uma cidade visitada pela primeira vez, o solo da terra natal, lugares dos primeiros amores, e que por serem únicos, revelam outra realidade.


[1] Grifo da autora

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