quarta-feira, 18 de maio de 2011

Breve, breve história da instituição LOUCura


 Segundo o Aurélio: S. f -1.Estado ou condição de louco; insanidade mental; 2. Ato próprio de louco; 3.Falta de discernimento, irreflexão, absurdo, insensatez, doidice, louquice; 4. Imprudência, temeridade, louquice; 5. Tudo que foge às normas, que é fora do comum; 6. Pessoa, animal ou coisa que se devota grande amor ou entusiasmo.

História dos manicômios
Asile, madhouse, asylum, hospizio, são alguns dos nomes que denominam as instituições cujo fim é abrigar, recolher ou dar algum tipo de assistência aos "loucos". As denominações variam de acordo com os diferentes contextos históricos em que foram criados. O termo manicômio surge a partir do século XIX e designa mais especificamente o hospital psiquiátrico, já com a função de dar um atendimento médico sistemático e especializado.
A prática de retirar os doentes mentais do convívio social para colocá-los em um lugar específico surge em um determinado período histórico. Segundo Michel Foucault, em A história da loucura na idade clássica, ela tem origem na cultura árabe, datando o primeiro hospício conhecido do século VII.
Os primeiros hospícios europeus são criados no século XV, quando da ocupação árabe da Espanha. Na Itália eles datam do mesmo período, e surgem em Florença, Pádua e Bérgamo.
No século XVII os hospícios proliferam e abrigam juntamente os doentes mentais com marginalizados de outras espécies. O tratamento que essas pessoas recebiam nas instituições costumava ser desumano, sendo considerado pior do que o recebido nas prisões. Diversos depoimentos -- como o de Esquirol, um importante estudioso destas instituições no século XIX -- retratam este quadro:
"Eles são mais mal tratados que os criminosos; eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouco de palha. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria até em guardar bestas ferozes, que os governos, por luxo e com grandes despesas, mantêm nas capitais." (Esquirol, 1818, apud Ugolotti, 1949)
Influenciado pelos ideais do iluminismo e da Revolução Francesa, Philippe Pinel (1745-1826), diretor dos hospitais de Bicêtre e da Salpêtrière, foi um dos primeiros a libertar os pacientes dos manicômios das correntes, propiciando-lhes uma liberdade de movimentos por si só terapêutica. Desde que a questão dos "loucos" passa a ser um assunto médico-científico, surgem duas correntes diferentes de pensamento com relação ao trato dos pacientes e à origem de seus males. Uma crê no tratamento "moral", nas práticas psico-pedagógicas, nas terapias afetivas como mais importantes. Outra focaliza o tratamento físico, crendo ser a loucura um mal orgânico, fruto de uma lesão ou de um mal funcionamento encefálico. Para esta última, o ambiente dos manicômios, suas instalações, não são tão relevantes para o tratamento.
Mesmo após as reformas instituídas no século XIX por Pinel, um dos primeiros a aplicar uma "medicina manicomial", o tratamento dado ao interno do manicômio ainda era mais uma prática de tortura do que a uma prática médico-científica. Tanto a corrente organicista quanto aquela que acreditava no tratamento "moral", não dispensavam os tratamentos físicos. Nestes tratamentos buscava-se dar um "choque" no paciente, fazer com que passasse por uma sensação intensa, que o tirasse de seu estado de alienação.
Eram correntes as práticas de sangria, de isolamento em quartos escuros, de banhos de água fria, além dos aparelhos que faziam com que o paciente rodopiasse em macas ou cadeiras durante horas para que perdesse a consciência.
Através da história, alternam-se momentos em que predominam as correntes "morais" e organicistas para o tratamento dos doentes mentais dentro da ciência médica. Este último século foi marcado pelo aumento da contribuição das ciências humanas no sentido de entender a loucura como também uma categoria social, com diferentes sentidos em diferentes culturas e períodos históricos. A institucionalização, a exclusão do convívio social, também passa a ser entendida como uma prática histórica que, por si só, não significa o tratamento mais adequado para aqueles que entendemos como doentes mentais. Do mesmo modo como nasceu em um determinado período histórico, ela também pode acabar.

 Referencias:
Mascarenhas, Andrea. Hospício de Dementes de Campinas: Uma iniciativa filantrópica de atendimento psiquiátrico (1890 -1930). (Dissertação de Mestrado. Orientação: Prof. Dr. José Roberto do Amaral Lapa -Unicamp, Financiamento Fapesp - julho 1999)

Basaglia, Franco. Psiquiatria Alternativa: contra o pessimismo da razão, o otimismo da prática; trad. Sônia Soanesi, Maria C. Marcondes. São Paulo: Brasil Debates, 1979.
Corominas, Júnior. Dicionário crítico etimológico de la lengua castellana. (v.3), Madrid: Gredos, 1954.
Cunha, Antonio Geraldo da et alli. Dicionário etimológico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2 ed, 1991.
Edinger, Cláudio. Loucura, Campinas: DBA, 1984.
Foucault, Michel. História da Loucura na Idade Clássica; trad. José Teixeira Coelho Neto. São Paulo : Perspectiva, 1989.
Figueiredo, Gabriel R. A evolução do hospício no Brasil. São Paulo, 1996 (tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina, para obtenção do título de doutor em medicina)
Gouveia, Roberto. "Código de Saúde, Lei complementar 791/95", editado em 1997. (e-mail do deputado: rgouveia@ax.apc.org).
Gullar, Ferreira. Nise da Silveira, perfis do Rio. Rio de Janeiro : Relume Dumará, 1996.
Pessotti, Isaias. O século dos manicômios. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1996.
Pessotti, Isaias. A loucura e as épocas. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994
Scaramella, Maria Luisa. Subjetividade, poder, cidaddania, estigma: As mil faces da Loucura. (Projeto de iniciação científica, com financiamento da Fapesp e orientação da Prof. Dra. Angela Amnéris Maroni, Unicamp).
Silveira, Nise da. O mundo das Imagens. São Paulo : Ed. Ática, 1992.
Silveira, Nise da. Imagens do Inconsciente. Brasília : Alhambra, 1981.


Continua................

Um comentário:

  1. Olá Juliana, tudo bem?! Procurando por temas sobre psiquiatria encontrei essa página do seu blog e me deparei com suas fontes e o mais legal é que entre elas está o meu projeto de iniciação científica. Será que você faria a gentileza de me enviar uma cópia, pois não tenho mais. Há alguns anos eu perdi um HD e com ele vários documentos dos quais não tinha cópia. Se puder me enviar por e-mail, scaneado, o pelo correio, eu realmente te agradeço.
    Com um abraço,
    Maria Luisa Scaramella
    mascavi@hotmail.com

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