quinta-feira, 14 de abril de 2011

Aos Numismatas de Plantão.

Relíquias da antiguidade
Museu Histórico Nacional tem maior coleção de moedas greco-romanas da América do Sul. Catálogo com as 1.750 peças do Sylloge Nummorum Graecorum será lançado em maio

Na Idade Antiga, moedas de ouro, prata e bronze eram utilizadas no comércio de mercadorias em civilizações sob influência greco-romana. As pequenas chapas de metal nobre assumiam variados padrões desde a costa atlântica europeia até o noroeste da Índia. Mais de mil anos depois da chamada queda do Império Romano do Ocidente, algumas destas peças vieram parar no Brasil pelas mãos do colecionador português Antônio Pedro de Andrade, em cujo testamento doou todo o acervo à Biblioteca Nacional, em 1921. Hoje, estas peças pertencem ao departamento de numismática do Museu Histórico Nacional (MHN) e formam a maior coleção de moedas sob influência greco-romana da América do Sul.  

Em maio deste ano, um detalhado catálogo da coleção será publicado pelo MHN, tornando-se o único “Sylloge Nummorum Graecorum” (SNG) do nosso continente. Este nome, aparentemente complicado, vem do latim e quer dizer “coletânea de moedas gregas”. Trata-se de uma série internacional cujo objetivo é disponibilizar para pesquisa de intelectuais de qualquer parte do mundo a maior quantidade de moedas da Antiguidade. Atualmente, pouco mais de 50 coleções de museus integram esta série.
“É um trabalho de formiguinha”, diz a professora Maricí Martins Magalhães, autora do catálogo e pesquisadora de Epigrafia e Arqueologia Clássica do Laboratório de História Antiga do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Você vai fazendo uma por uma e, no final, já passaram quatro anos e você catalogou 1.750 peças”, explica.

A pesquisadora foi contratada em 2006 pelo museu, com verba da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), para trabalhar no catálogo, cujo intuito era receber o título internacional da SNG, concedido pelo presidente da Biblioteca Nacional de Paris. Ela analisou peça por peça de total de 1,9 mil moedas classificadas como gregas. Com o tempo, o número diminuiu: a análise minuciosa permitiu que ela encontrasse erros de catalogação – a última havia sido feita em 1913 –, moedas falsas e outras desgastadas demais para serem fotografadas para o catálogo.

“Rearrumei tudo. Descobri a região e ano de cada moeda, tirei as que o padrão estava ruim e também, todas as falsas. Quando a moeda é muito bonita logo desconfio que é bom demais para ser verdadeira”, acrescenta. A coleção abrange quase um milênio de história. Nela podemos encontrar relíquias como uma moeda da Ásia Menor cunhada por volta de 600 antes de Cristo [à esquerda]; um perfil de Júlio César de 46 a.C.; ou um exemplar oriundo da Alexandria da época em que governava o Imperador romano Dioclesiano, no século III depois de Cristo.

Para Luiz Aranha Correa do Lago, coordenador do projeto e professor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, é interessante ver como as figuras impressas na superfície das moedas permitem observar as características socioeconômicas daquelas civilizações.

“Podemos observar, por exemplo, como se vestiam e como usavam os cabelos as pessoas da época”, diz o pesquisador. “Os romanos não tinham barba até a época do Imperador Adriano, no século II d.C. Depois dele, todos os imperadores tinham barba”, observa.  Ele afirma que as representações eram bem realistas: “Tem sujeito gordo, sujeito com papada, narigudo. Não poupavam ninguém”. No caso de moedas feitas no Egito, o pesquisador lembra que no verso da maioria há a figura de um deus, o que é curioso para ver como os egípcios representavam pictoricamente suas divindades.

No “Sylloge Nummorum Graecorum Brasil”, antes de se começar a catalogação, um texto escrito por Correa do Lago conta a história da moeda no período, associando grandes figuras desses quase mil anos de história com as imagens disponíveis no volume. Ao todo, são 3,5 mil figuras: para cada peça, duas fotos (frente e verso).

Correa do Lago também é curador da exposição permanente do MHN “As moedas contam história”, que exibe 343 dessas relíquias do período clássico. Foi da seleção de unidades para esta mostra que, aliás, surgiu a ideia para a catalogação internacional. O pesquisador conta que quando começou a selecionar as unidades para exibição no museu, viu que havia um material muito bom, que merecia um trabalho de pesquisa aprofundado. Anos depois, a professora Maricí Martins Magalhães foi convidada a ser autora do processo.

[acima, moeda Dióbolo, cunhada entre 550 e 436 a.C]
Para quem quer contemplar a exposição “As moedas contam história”, o endereço do Museu Histórico Nacional é: Praça Marechal Âncora, Centro (próximo à Praça XV). O MHN funciona de terça à sexta, das 10h às 17h30; sábados, domingos e feriados, das 14h às 18h. Ingresso: R$ 6.

Pra quem quer uma dica e mora por lá ou tá de passagem, é uma boa pedida.
até mais.

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